A Carta da Terra e a Nova Ordem Mundial (I)


A Carta foi idealizada no início dos anos 90 por duas organizações: a Cruz Verde Internacional, de Mikhail Gorbachev, e o Conselho da Terra, dirigido por Maurice Strong. Gorbachev declarou, em 1997: "O mecanismo que usaremos será a substituição dos Dez Mandamentos pelos princípios contidos na presente Carta ou Constituição da Terra". A Carta foi patrocinada desde o início por Federico Mayor, Director Geral da UNESCO de 1987 a 1999.
Quais são os princípios da Carta? O prefácio afirma: "A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva como uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra proveu as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de resistência da comunidade de vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável, com todos os seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global, com os seus recursos finitos, é uma preocupação comum a todos os povos. A protecção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado".
Os postulados agnósticos e panteístas da Carta seriam a base da nova sociedade: "O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humanitário. Os nossos desafios ambientais, económicos, políticos, sociais e espirituais estão interrelacionados, e juntos podemos forjar soluções inclusivas". A visão totalizadora do desenvolvimento sustentável, impregnada da linguagem vaga do holismo Nova Era, aparece de vez em quando: "Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas. Assegurar que as comunidades garantam, em todos os níveis, os direitos humanos e as liberdades fundamentais, e proporcionem a cada um a oportunidade de desenvolver o seu pleno potencial".
Para isso, nos termos da Carta, torna-se imperativo: "Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação com a diversidade biológica e os processos naturais que sustentam a vida. Adoptar, em todos os níveis, planos de desenvolvimento sustentável e regulamentos que permitam incluir a conservação e a reabilitação ambientais como parte integrante de todas as iniciativas de desenvolvimento".
Não poderia faltar o mandamento ecologista de controlar a natalidade para salvar o planeta, próprio do paradigma do desenvolvimento sustentável: "Adoptar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário", além de outros imperativos que colaboram directamente com as políticas do anti-natalismo compulsório e com a reengenharia anti-cristã da sociedade: "Afirmar a igualdade e a equidade de género como pré-requisito para o desenvolvimento sustentável e garantir o acesso universal à educação, o cuidado à saúde e a oportunidade económica (...). Garantir os direitos humanos das mulheres e das meninas, e acabar com toda a violência contra elas (...). Garantir o acesso universal aos cuidados de saúde reprodutiva, promovendo a reprodução responsável. Adoptar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e a suficiência material num mundo finito".
Para concluir, a imposição de dobrar-se às Nações Unidas e à Nova Ordem Mundial adoptando a Carta como o fundamento da nova religião global: "Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar o seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com as suas obrigações sob os acordos internacionais existentes e apoiar a implantação dos princípios da Carta da Terra, através de um instrumento internacional juridicamente vinculante sobre o meio ambiente e desenvolvimento".
Na Carta da Terra, Deus está totalmente ausente. Não aparece nem mesmo como uma "hipótese" conciliadora. Isso faz com que a proposta de defesa da Vida e da Terra se apoie em fundamentos equivocados. E sabemos que defender uma realidade com argumentos e razões que não são correctos e adequados, é a melhor maneira de deixar esta realidade completamente indefesa, e que afirmá-la com uma base errónea é a maneira mais directa de deixá-la sem apoio.
A visão cristã é inconciliável com o imanentismo panteísta da Carta. Na Carta da Terra o homem é uma partícula do universo em pé de igualdade com um animal ou um vegetal, incapaz de conhecer qualquer realidade que não seja material. Não é o centro da Criação, criado como sábio administrador de Deus. (...)
Na Carta da Terra, o ser humano – homem e mulher – parece ser constantemente carregado pela corrente de uma evolução que não tem causa eficiente nem final, sem origem ou objectivo transcendente. O destino comum que daria unidade à grande diversidade na qual se encontra indiscriminadamente imerso não é a Parusia, a vinda do Senhor Jesus na Glória, a Transfiguração do Cosmos; é mais propriamente uma permanência nesta Terra, que exige uma solidariedade dos seres vivos a fim de construir e perpetuar uma bem-aventurança intramundana. As sucessivas gerações usufruirão desta felicidade ao melhor estilo das utopias milenaristas ou materialistas.
Sob esse ponto de vista, o desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade assume o carácter de uma pseudo-categoria teológica que aspira a ser critério de moralidade universalmente vinculante. Isso tudo constitui uma profunda negação da escatologia cristã e um retorno ao pensamento mágico promovido pelas correntes da Nova Era.


Pe. Juan Claudio Sanahuja in «Poder Global e Religião Universal», 2010.

5 comentários:

VERITATIS disse...

Os sublinhados são da minha autoria.

Marcelo disse...

Vocês já leram a nova encíclica do Papa?

No primeiro paragrafo, chama a Terra de irmã, citando São Francisco de Assis.

Na segunda folha, diz que "pecamos contra a Terra", citando o patriarca Bartolomeu da Igreja Católica Ortodoxa.

Na terceira folha, quando ele falou em "Evolução" eu parei de ler.

Pela pouca quantidade de doutrina que está presente na encíclica, acho que NÃO FOI O PAPA que escreveu aquilo. Foram outros, ligados a ONU.

E o Papa foi chantageado e forçado a assinar a autoria, por razões diversas.

Acho que foi isso que aconteceu.

VERITATIS disse...

Marcelo,

Só quem não conhece o pensamento do Papa Francisco pode ficar surpreendido. Não há qualquer razão para acreditar que Francisco foi chantageado e forçado a assinar uma encíclica "escrita" pela ONU. Francisco é um herege material. E essa encíclica é apenas mais uma heresia a juntar a tantas outras.

Cidadão disse...

Aqui no Brasil os adoradores da terra "se revelaram" publicamente.

Eu esperava que talvez fossem associar Maria com a Terra, mas nem isso fizeram - O negócio deles é adorar a Mãe Terra diretamente mesmo. Agora há dioceses imprimindo catequese venerando a Mãe Terra. Não sei onde isso vai parar.

http://domtotal.com/blog/jacques/2015/06/22/a-mae-terra-agradece-ao-papa-francisco/

http://www.arquidiocesedefortaleza.org.br/atualidades/videos/mae-terra-o-que-deixaremos-para-seus-filhos/

http://arquifln.org.br/detalhe_00500.php?cod_select=7977&cod_002=5

http://www.arquidiocesedepassofundo.com.br/site/node/789

http://www.arquidiocesedepassofundo.com.br/site/node/741

VERITATIS disse...

Cidadão,

Então você prefere o sincretismo religioso e o erro camuflado? Pois eu prefiro que o erro seja mostrado directamente, preto no branco, do que o erro com aparência de verdade.

Rezemos, rezemos muito!