Vestígios da religião primitiva de Adão (Parte II)



O Ser Supremo, entre quase todas as tribos pertencentes à cultura primitiva, é o supremo legislador e juiz moral das acções humanas, se bem que certas tribos deduzam disto conclusões bastante curiosas, como esta: Todos os velhos são bons; de contrário, Deus já os teria punido, tirando-lhes a vida.
A crença de que Deus pune e premeia as acções dos homens nesta terra não se opõe à de uma remuneração mais perfeita, na outra vida. Mas em que consiste esta outra vida, nem todos sabem explicar (G. SCHMIDT, 1938). Por isso algumas tribos, como os Yámanas, mostram grande tristeza quando morrem os seus parentes.
Alguns primitivos admitem uma vida celeste, outros, uma vida semelhante à terrena, mas mais feliz para os bons e mais triste para os maus.
Segundo os Maidu, o caminho para o Céu é representado pela Via Láctea, e onde esta se divide, separar-se-ão os bons e os maus. Para outros, por exemplo os Andamaneses, o arco-íris serve de ponte para o Céu.
Mas o atributo, direi, mais radicado, é o da bondade de Deus. O Ser Supremo é exclusivamente, essencialmente bom. D'Ele não pode vir senão bem e felicidade. Por isto, alguns povos, para explicar o mal físico e moral do mundo, recorrem a outro ser, que se rebelou contra o Grande Manitu e que, por ódio a Este, espalha o mal.
Os modos mais comuns de honrarem o Ser Supremo são a oração e o sacrifício.
A oração não é sempre oral; entre alguns povos é muda, isto é, só do coração e da mente, acompanhada quanto muito por algum gesto. Por isso, certos exploradores acreditaram de princípio que não tinham oração.
O sacrifício é menos frequente que a oração, mas também bastante difundido e praticado com todo o seu profundo significado, qual atestação da total submissão da natureza humana ao Ser Supremo, ou, então, como expiação dos próprios pecados (W. SCHMIDT, 1935).
Geralmente, oferecem as primícias da caça ou das colheitas, uma porção de alimento antes de o terem provado (O. MENGHIN, 1931). Outras vezes, oferecem o crânio e os ossos compridos dos animais caçados (ursos, renas) contendo ainda as partes mais apreciadas: os miolos e a medula, como é costume entre algumas tribos primitivas do círculo árctico (A. GAHS e W. SCHMIDT, 1928).

Quanto à moral, existem laços rigorosos nas relações sexuais, e o sentimento do pudor é geralmente muito vivo. Os vestidos nos adultos são claramente sugeridos pelo pudor. O Pe. Shebesta teve a felicidade de assistir entre os Semang à repreensão, dada por um adulto a um rapazote, que tinha pronunciado, na presença dos companheiros, frases lúbricas. «Lawaid Karei!», disse em tom ameaçador o velho voltado para o jovem, o que queria dizer: isto é pecado contra o Ser Supremo Karei, e o jovem calou-se imediatamente (G. SCHMIDT, 1931).
Os Negritos das ilhas Filipinas e os Coriacos da Kamchatka exigem a castidade pré-conjugal, nas raparigas. As eventuais transgressões são punidas com penas severas. A monogamia, por preceito ou de facto, é a forma de matrimónio absolutamente dominante (G. WUNDT, 1929; O. MENGHIN, 1931).
A indissolubilidade do vínculo matrimonial não é, de igual modo, observada entre todos os primitivos, sendo menos rigorosa entre os primitivos do Norte. Merece menção o facto de entre algumas tribos (Pigmeus de África, Bosquímanos) não ser possível a dissolução do matrimónio, desde que nasce um filho. Entre estas tribos é muito rara a infidelidade conjugal, sendo punida severamente e até com a morte (L. LIVI, 1937; G. SCHMIDT, 1931).
Não existem entre estas antiquíssimas fases de cultura, nem promiscuidade, nem troca de mulheres. Não se vêem crimes de infanticídio ou outros que se encontram em tribos de ciclo cultural superior. Numa palavra, e etnologia moderna chegou à conclusão à qual tinha chegado, um século atrás, o famoso etnólogo jesuíta Pe. Lafitau, fundador da moderna etnologia: «Os povos primitivos – escrevia ele – na maior parte dos casos, não são produtos de degeneração, de decadência de civilizações elevadas; mas, antes, conservam até aos nossos dias as fases primordiais do desenvolvimento da humanidade» (PE. LAFITAU, Moeurs des Sauvages Amériquains, Comparées aux Moeurs des Premiers Temps, 1724).
Os homens primitivos têm um conceito bastante elevado da moral e de Deus, que honram com sacrifícios; praticam a monogamia, como afirma a Sagrada Escritura a respeito dos primeiros homens. Logo, as afirmações da Sagrada Escritura são verdadeiras e é falso o evolucionismo religioso.

Pe. Victor Marcozzi in «Deus e a Ciência», 1957.

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