Muito tempo há que a mentira se tem posto em pés de verdade, ficando a verdade sem pés e com dobradas forças a mentira; e é força que, sustentando-se em pés alheios, ande no mundo a mentira muito de cavalo; e se houve filósofo que, com uma tocha numa mão, buscava na luz do meio-dia um sábio, hoje, por mais que se multipliquem luzes às do Sol, não se descobrirá um afecto verdadeiro. Buscava-se então a ciência com uma vela, hoje pode-se buscar a verdade com a candeia na mão, que apenas se acha nos últimos paroxismos da vida.
Fonte: «Sete Propriedades da Alma aplicadas às obrigações de um valido em Carta do Padre António Vieira dirigida ao Conde de Castelo Melhor, escrivão da puridade de El-Rei D. Afonso VI de Portugal», 1656/1667.
1 comentário:
~ "Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia", Eça de Queirós.
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