O erro do materialismo histórico


A teoria materialista da História, segundo a qual toda a política e ética são expressões da economia, é de facto uma falácia muito simples. Ela consiste, simplesmente, em confundir as necessárias condições de vida com as normais preocupações da vida, que são coisas muito diferentes. É como dizer que, porque o homem pode andar somente sobre duas pernas, então, ele só pode caminhar se for para comprar meias e sapatos. O homem não pode viver sem os amparos da comida e da bebida, que os suporta sobre duas pernas; mas sugerir que esses têm sido os motivos para todos os seus movimentos na História, é como dizer que o objectivo de todas as suas marchas militares, ou peregrinações religiosas, deve ter sido a perna dourada da Sra. Kilmansegg ou a perfeita e ideal perna do Sr. Willoughby Patterne. Mas são esses movimentos que constituem a História da espécie humana e sem eles não haveria praticamente História. Vacas podem ser puramente económicas, no sentido de que não podemos ver que elas façam muito mais do que pastar e procurar o melhor lugar para isso; e essa é a razão pela qual a história das vacas em doze volumes não seria uma leitura estimulante. Ovelhas e cabras podem ser economistas em suas acções externas, pelo menos; mas essa é a razão das ovelhas dificilmente serem heróis de guerras épicas e impérios, importantes suficientes para merecerem uma narração detalhada; e mesmo o mais activo quadrúpede não inspirou um livro para crianças intitulado Os Feitos Maravilhosos das Cabras Galantes. Mas, em relação a serem económicos os movimentos que fazem a História do homem, podemos dizer que a História somente começa quando os motivos das ovelhas e das cabras deixam a cena. Será difícil afirmar que os Cruzados saíram de suas casas em direcção a uma horrível selvajaria, da mesma forma que as vacas tendem a ir das selvas para pastagens mais confortáveis. É difícil afirmar que os exploradores do Árctico foram em direcção ao Norte imbuídos dos mesmos motivos materiais que fizeram as andorinhas ir para o Sul. E se deixarmos de fora da História humana, coisas tais como todas as guerras religiosas e todas a aventuras exploratórias audaciosas, ela não só deixará de ser humana, mas deixará de ser História. O esboço da História é feito dessas curvas e ângulos decisivos, determinados pela vontade do homem. A História económica não seria sequer História.

G. K. Chesterton in «The Everlasting Man», 1925.

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