No ano de 1717, partiu de Lisboa a 28 de Abril para a Ilha de Corfu segunda vez a esquadra naval Portuguesa, que no ano antecedente tinha ido à mesma Ilha, contra os Turcos que a sitiavam com uma grande armada, como em outra parte dizemos. Foram por Cabos desta segunda expedição os mesmos que o foram da primeira, o Conde do Rio Grande, o Conde de São Vicente, o Coronel Pedro de Sousa de Castelo Branco. Constava de catorze navios bem equipados, e guarnecidos de muita e grossa artilharia, de muita e luzida gente. No mar Adriático a estava esperando a Armanda ligeira de Veneza, de que era General André Pizani, com algumas pequenas esquadras auxiliares; e com a chegada da nossa, não duvidaram fazer logo viagem, como com efeito fizeram para o Arquipélago a unir-se com a Armada grande da mesma República de Veneza, que à ordem do Comandante extraordinário Flangini se tinha adiantado para os Dardanelos. Porém, antes que lá chegassem, encontraram nos mares de Matapão a Armada dos Turcos, neste dia do ano referido, e a investiu a nossa esquadra com grande valor, livrando a Armada de Veneza de sua total ruína, como os mesmos Venezianos, e também os Turcos, confessaram. Durou o combate nove horas com incessante fogo de ambas as partes. Foram os Turcos os primeiros que se retiraram do combate, sem embargo de terem sempre o barlavento; e até deveram a uma borrasca que se levantou, o não serem seguidos dos nossos, e poderem retirar-se, e recolher-se no seu porto de Trapano, em muito mau estado, com sete Sultanas inteiramente desmastreadas, e a sua Capitania incapaz de servir mais, com morte de mais de cinco mil Turcos, em que entrou o seu Comandante Baxá, que no mesmo combate foi morto com uma bala de mosquete, não se perdendo da nossa esquadra mais que cento e noventa e oito pessoas, em que entrou o Capitão-de-mar-e-guerra Manuel André dos Santos. O Sumo Pontífice Clemente XI celebrou muito esta vitória com grandes elogios da Nação Portuguesa, e com as lágrimas nos olhos, chamou a El-Rei Dom João V, nosso Senhor, verdadeiro Rei Católico e verdadeiro filho da Igreja. Com estas paternais e amorosas expressões escreveu a El-Rei agradecendo-lhe tão grande benefício; e ao General Conde do Rio mandou um Breve, em que lhe agradecia o zelo e valor com que a sua Armada triunfara da inimiga. Não deixou de confessar a sua obrigação a República de Veneza, como fez por seu Embaixador extraordinário, o Cavaleiro João Mocenigo, que mandou ao nosso Soberano, expressando em nome da mesma República o seu maior agradecimento, com a confissão de dever-se à nossa esquadra a vitória que se alcançara dos Turcos. A seis de Novembro do mesmo ano, chegou a Lisboa a nossa vitoriosa esquadra, com todos os navios de que se compunha, e foram os seus Cabos muito bem recebidos e premiados da nossa Côrte.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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