S. Lourenço de Brindes, Franciscano da austera reforma dos Capuchinhos, que entre nós se chamavam Barbadinhos, foi figura proeminente da Igreja Católica em princípios do século XVII.
Na sua Ordem ocupou lugares de relevo, Comissário na Alemanha, Provincial em várias regiões da Itália, na Áustria e na Suíça, Geral, isto é, superior supremo de todos os seus frades, de 1602 a 1605, anos em que percorreu a Itália, a França, a Suíça e a Espanha, a visitar os numerosos conventos dos seus religiosos.
Prégador de nomeada, as cidades de Itália ouviram-lhe a voz, impregnada de zelo apostólico e repassada de um profundo conhecimento da Sagrada Escritura. Este zelo de apóstolo e este conhecimento profundo da Bíblia levaram-no, quando o ensejo lho proporcionou, a notabilizar-se em controvérsias com Judeus, na Itália, e com Protestantes, nos diversos estados do Sacro Germano Império, isto é, na Áustria, na Alemanha e na Checoslováquia.
Os seus sermões, as controvérsias que teve, os comentários que fez às Escrituras, só nos nossos dias se começam a publicar e já apareceram dezassete grossos volumes, cientificamente editados. Isto fez com que nos últimos anos muito se tenha escrito para que S. Lourenço de Brindes seja proclamado Doutor da Igreja, como há tempos aconteceu com o nosso Santo António.
Além desta extraordinária actividade religiosa, o Santo Barbadinho desenvolveu notável acção diplomática. No Império Austríaco, onde várias vezes se encontrou, nos diversos Estados da Itália de então, na Espanha de Filipe III, aonde veio três vezes, tratou de assuntos referentes à exaltação do Catolicismo e ao bem-estar dos povos, com imperadores, reis, príncipes e governadores.
Precisamente, uma destas missões diplomáticas trouxe-o a Lisboa em 1619 para falar com Filipe III, que visitava oficialmente Portugal. Ao Santo sobreveio-lhe a morte quando se encontrava entre nós, e por isso, desde a sua beatificação que teve lugar em 1783, as igrejas de Lisboa, por privilégio da Santa Sé, comemoram-no e os sacerdotes do Patriarcado celebram-lhe a missa em 22 de Julho, aniversário do seu falecimento.
Se desde a sua morte a devoção popular dos Lisboetas o tivesse acarinhado, se o seu corpo tivesse aqui ficado e, à volta do sepulcro, lhe tivessem erguido uma igreja que fosse centro de peregrinações, talvez hoje, com os protestos dos Italianos, tivéssemos um S. Lourenço de Lisboa em vez de S. Lourenço de Brindes, como aconteceu com Santo António, que apesar dos nossos protestos, no estrangeiro é apenas conhecido como Santo António de Pádua.
O facto de S. Lourenço de Brindes ter morrido em Lisboa e o que em tempos idos esta cidade fez para o honrar, são acontecimentos esquecidos. Muito grato, portanto, é lembrá-los, para melhor conhecimento da história e das glórias olisiponenses.
(...)
S. Lourenço de Brindes continua a ser um desconhecido em Lisboa, a cujas muitas glórias em certo modo pertence, pois aqui morreu. Oxalá a sua memória se avive para que seja conhecida uma ilustre personagem, um santo de excelsas virtudes, que honrou a nossa linda cidade.
Fr. Francisco Leite de Faria in boletim «Olisipo», nº 77, Janeiro de 1957.
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