O atentado contra Salazar


No Sábado, dia 3 de Julho, o Cardeal Cerejeira ofereceu a Oliveira Salazar um crucifixo de marfim, e pergunta-lhe se ao outro dia vai à missa dominical do Patriarcado, ao Campo de Santana. Salazar, fiel a um hábito a que fazia poucas excepções, respondeu que iria à missa celebrada na capela particular do seu amigo Josué Trocado. E efectivamente, naquele domingo, dia 4 de Julho, Salazar sai da sua casa na Rua Bernardo Lima e, acompanhado de Leal Marques, dirige-se de automóvel à Avenida Barbosa du Bocage, nº 96, onde chega pelas dez horas e meia. Parado o carro em frente ao portão do jardim, Josué Trocado vem ao encontro dos passageiros. Desce primeiro Leal Marques. E no momento em que Salazar sai do automóvel, produz-se uma violenta explosão. No solo abre-se uma larga cratera, à beira do carro, e pedras e terra entulham o local. É um atentado contra a vida de Oliveira Salazar. Leal Marques e Josué Trocado apercebem-se desde logo do significado da explosão, e por entre o pavimento revolvido acercam-se do chefe do governo. Este está ileso e sereno, e diz: «Bem, vamos à missa». Finda esta, regressa à sua residência. Entretanto, o Presidente Carmona, prevenido do acontecimento, acorre à Rua Bernardo Lima. Precipita-se pela entrada e pergunta à governanta: «Como está o Sr. Dr.? Como está o Sr. Dr.?». Depois, durante o dia, afluem os altos vultos civis e militares, e há uma romagem de povo miúdo. Pela baixa da cidade, há manifestações organizadas pela Legião e pela Mocidade. E ao princípio da noite, alguns milhares aglomeram-se na Rua Bernardo Lima, defronte da residência de Salazar, e este, sorridente, aparece à sacada do primeiro andar, acompanhado de alguns membros do governo, e agradece à multidão.
Do mundo, vêm mensagens de felicitações e cumprimentos: do Chanceler Hitler; de Neville Chamberlain, Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha, que sucedera a Stanley Baldwin, e de Eden; de Mussolini; do Cardeal Pacelli, secretário de Estado do Vaticano; de outros mais. Em Portugal, multiplicam-se as manifestações, os protestos, as expressões de apoio; a imprensa condena o acto de violência; e nalgumas dioceses são celebradas missas por acção de graças. Destacam-se os monárquicos, desde o Duque de Bragança às antigas Rainhas e a João de Azevedo Coutinho (1). Mais do que todos, sente funda emoção o seu grande amigo do tempo dos Grilos, o Cardeal Cerejeira. Afinal, fora celebrar missa a S. Domingos, e conhece a notícia no regresso ao Campo de Santana. Escreve logo um bilhete: «António, acabo de saber, ao chegar de S. Domingos, do criminoso atentado de que a Mão de Deus te salvou. Já fui à minha capelinha dar graças a Deus; e agora venho abraçar-te efusivamente. Iria aí imediatamente, mesmo antes de almoçar – se não tivesse de ir logo segundo as ordens que me deres. Que Deus te guarde e defenda sempre. Teu, Manuel». E pelos meios católicos, com a aprovação dos Prelados, correm pagelas com preces, e concedendo «cinquenta dias de indulgência a quem devotamente as recitar» em homenagem ao «salvador da nação portuguesa».

Franco Nogueira in «Salazar», Volume III, 1978.

(1) Tem interesse, para documentar o continuado apoio monárquico a Salazar, transcrever alguma correspondência. De Azevedo Coutinho, Lugar-Tenente do Duque de Bragança, para Salazar: «Em nome do Senhor D. Duarte, Duque de Bragança, e dos monárquicos portugueses, protesto contra o vil atentado perpetrado contra a pessoa do Chefe do Governo, Ex.mo Senhor Dr. António de Oliveira Salazar, que a Deus N. S. aprouve salvar, porque o merece e porque a sua acção patriótica é necessária para o Bem da Nação. Lisboa, 5 de Julho de 1937». (...)

1 comentário:

Júlio Teixeira disse...

Porque tantos o criticam? Hoje os vermelhos disfarçados de democráticos, e naquele tempo seriam avermelhados, já?