Henrique Dias, Negro por nascimento, claríssimo por acções, começou a servir nas guerras de Pernambuco, com um Terço dos da sua Nação, desde o tempo em que Matias de Albuquerque governava aquela Província, e desde então começou a ser flagelo de Holandeses; Vez houve em que lhe viram matar cinco por sua mão; De tal sorte o temiam, e aos seus Negros, que já para os fins da guerra os reputavam invencíveis. Em certa ocasião lhe passaram com uma bala a mão esquerda, e logo a mandou cortar, por fazer a cura mais breve, dizendo: Que fica mui contente com a direita, que lhe bastava para matar Holandeses em serviço do seu Rei; Assaltou e rendeu muitas Praças e Fortalezas de grande consideração, e costumava chegar-se aos muros e lançar o seu bastão dentro neles, e dizia aos seus Negros, que ou todos haviam de morrer com ele, ou haviam de resgatar aquela insígnia do seu Cargo; Defendeu outras Praças contra toda a esperança, até que desesperavam os invasores; Militou desde os princípios desta guerra e chegou aos fins, logrando a glória de lhe deverem em grande parte aqueles povos a sua liberdade. El-Rei Dom João IV, que então Reinava, lhe fez mercê do hábito de Cristo, que ele prometeu não pôr nos peitos, senão depois de expulsado o Holandês, e assim o cumpriu pontualmente. Faleceu neste dia [31 de Agosto], ano de 1661, deixando, apesar da côr, esclarecida fama.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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