Dom Fuas Roupinho, celebrado herói Português, saindo neste dia [14 de Setembro] à caça, ano de 1182, junto à costa do mar, para a parte onde hoje se vê situada a Vila da Pederneira, se lhe representou diante um veado de disforme grandeza, que o sucesso mostrou que era Demónio; Arremessou logo o cavalo em seu alcance, e o foi seguindo a rédea solta: Era o dia de névoa e não se deixava bem ver o caminho; Eis que se acha de repente na última ponta de um rochedo de altura tão espantosa, que se despenha até ao mar por espaço de duzentas braças: Estava já o cavalo com as mãos no ar, dando princípio à fatal ruína; Neste transe (que até considerado causa horror) invocou Dom Fuas o auxílio da Mãe de Deus, e com assombrosa maravilha ficou o cavalo suspenso e detido um breve instante, e dando volta por impulso superior, se furtou ao precipício. Venerava-se ali, em pobre Ermida, uma Imagem da Senhora com o título de Nazaré, que El-Rei Dom Rodrigo [último Rei dos Visigodos], na perdição de Espanha, acompanhado de um Santo Monge chamado Romano, trouxeram para aquela solidão. O devoto e agradecido Cavaleiro lhe mandou logo edificar mais nobre casa, que depois, correndo os tempos, veio a ser um dos mais insignes Santuários da Cristandade.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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