Nem tudo o que reluz é ouro


Mas a verdade é que um conceito que não é justo, nem fundado sobre a natureza das coisas, não pode ser belo; porque o fundamento de todo o conceito engenhoso é a verdade; nem se deve estimar algum, quando não se reconheça nele vestígio de bom juízo. E como os Antigos observaram muito isto, por isso neles se observa certa maneira natural de escrever, e certa simplicidade nobre, que tanto os faz admiráveis. Pelo contrário, os que não têm engenho para fazer que um conceito brilhe com a sua própria luz, sem a pedir emprestada, vêm-se obrigados a procurar toda a sorte de ornamentos e a apegar-se a quaisquer agudezas boas ou más, para com elas fazerem figura e parecerem engenhosos. Nas obras dos Antigos não distinguem o bom, nem o mau: abraçam os mesmos erros como se fossem maravilhas, sem advertirem que, ainda que fossem nossos mestres, não os devemos seguir com os olhos fechados, mas abraçar neles o que não repugna à boa razão.

Pe. Luís António Verney in «Verdadeiro método de estudar para ser útil à República e à Igreja: proporcionado ao estilo e necessidade de Portugal», 1746.

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