Eis como decorria o processo de canonização antes das modernas liberalizações:
Ninguém, por santo que seja, mesmo fazendo milagres, pode ser canonizado durante a vida, porque, sujeitos às fraquezas humanas, aqueles que hoje estão de pé, podem cair amanhã. São Paulo avisa-nos com muita razão que aquele que julgar estar de pé, tome cuidado para não cair. (I Cor., X, 12).
É preciso, pois, morrer antes... porém, não é a morte que traz a santidade, mas sim a vida que deve dá-la...
É durante a vida que o homem deve praticar as virtudes que fazem os santos.
Morrendo uma pessoa, com reputação de virtude extraordinária, a Igreja, com uma prudência consumada, não permite que seja logo considerada, nem invocada como santa.
Ela exige que o santo demonstre, ele mesmo, do alto do Céu, a virtude da sua vida, fazendo milagres... ou melhor, a Igreja espera que Deus manifeste a santidade de uma pessoa, comunicando-lhe o DOM DE MILAGRES.
E fazendo milagres, uma pessoa é canonizada, santa?
Nada!... é apenas a entrada, é o primeiro passo.
Fora os casos excepcionais, nenhum santo é canonizado antes de 50 anos depois de morto; a Igreja quer provas, provas palpáveis e irrefutáveis.
E aqui começa o processo de canonização, processo longo, minucioso, rigoroso.
Primeiro, a Igreja ordena ao bispo do lugar que organize um Tribunal Diocesano.
Este tribunal recolhe todos os documentos deixados pelo finado, interroga os sobreviventes, examina os escritos, verifica os factos e os milagres, examina a heroicidade das virtudes praticadas, e, após anos de indagações e de investigações, recolhe todos os documentos pró e contra, e remete-os a Roma.
Uma comissão de cardeais e teólogos é nomeada pelo Soberano Pontífice para examinar os escritos, as virtudes e os milagres do servo de Deus.
Passam-se meses e anos.
Tudo é examinado e discutido.
Havendo factos sólidos e virtudes extraordinárias, a comissão nomeia o advogado ou defensor da causa e o seu contraditor.
Ambos fazem um estudo sobre os três pontos em questão: DOUTRINA, VIRTUDES, MILAGRES, porém, fazem-no num sentido oposto.
O DEFENSOR procura provar a ortodoxia da doutrina do servo de Deus, as suas virtudes e o valor dos milagres feitos por ele, depois da morte.
O CONTRADITOR, sempre apoiado sobre os documentos, procura rebater as asserções do primeiro e mostrar o lado fraco da doutrina, das virtudes e dos milagres aduzidos.
Após várias reuniões, em presença de teólogos e outros sábios, a questão é resolvida favorável ou desfavoravelmente.
Averiguando-se a absoluta ortodoxia da doutrina, a heroicidade das virtudes praticadas, o servo de Deus sai vencedor no primeiro exame.
Averiguando-se a certeza absoluta de um milagre, provado, autêntico, a Igreja proclama o servo de Deus: VENERÁVEL.
Depois disso, espera-se mais uns anos.
Havendo outros milagres, ficam submetidos ao exame e às discussões da comissão, e averiguado mais outro milagre, provado, autêntico, o venerável recebe o título de BEM-AVENTURADO [BEATO].
Novamente demora-se alguns anos...
Se o bem-aventurado continuar a fazer milagres, a comissão examina-os de novo, com o mais extremo rigor, e sendo o TERCEIRO MILAGRE provado autenticamente, o Soberano Pontífice lavra o decreto definitivo de canonização.
Usando de seu privilégio de infabilidade, pela assistência do Espírito Santo, ele proclama a absoluta rectidão de doutrina, a heroicidade das virtudes e a autenticidade pelo menos de três milagres, dando ao bem-aventurado o título glorioso de SANTO.
Eis como a Igreja canoniza os santos.
Pe. Júlio Maria de Lombaerde in «O Cristo, o Papa e a Igreja», 1940.
§
Algumas duras realidades que importa ter em mente e sem as quais caímos numa floresta de enganos:
1. Sem o cumprimento dos requisitos católicos obrigatórios num processo de canonização, não existe verdadeiramente uma canonização. O que significa que, pelo incumprimento dessa obrigatoriedade, as "canonizações" feitas desde o tempo de Paulo VI foram uma mera aparência de canonização, não estando os novos "santos" realmente canonizados.
2. Pelo gradual avanço do estado de apostasia geral na Igreja Militante, a Santa Sé, desde o Papa Paulo VI, não se encontra em condições de realizar um autêntico processo de canonização, uma vez que não está em condições de avaliar catolicamente questões de doutrina, de virtudes, e de milagres. Ninguém, por mais santo que seja, nas circunstâncias actuais, será realmente canonizado.
3. Estas supostas "canonizações" não entram no âmbito da infalibilidade papal, uma vez que, conforme foi definido dogmaticamente no Concílio Vaticano I, a assistência do Espírito Santo não foi prometida aos sucessores de São Pedro para que estes manifestem novas doutrinas (neste caso, novas doutrinas de santidade), mas sim para que guardem e defendam fielmente o mesmo depósito de fé que foi transmitido pelos Apóstolos (cf. Pastor Æternus, 18 de Julho de 1870).
7 comentários:
Anónimo,
Diz-me: «Não sei porque o dono deste blog não publica meus comentários e confesso estar ficando confuso e furioso com isso mas em todo caso continuo insistindo: https://...»
Neste espaço não existe liberdade de expressão. O VERITATIS é um blogue anti-liberal. Por princípio, conteúdo que seja falso, semi-falso, ou suspeito, não será publicado. A hiperligação que me enviou é de um blogue de suspeito tradicionalismo católico, e por isso vejo-me na obrigação de não permitir a sua divulgação. Diz-me que eu não publico os seus comentários. Mas tratando-se de um anónimo, eu não sei de quem são os comentários; podem ser seus ou de outra pessoa qualquer. Por minha vontade, nem os comentários anónimos seriam permitidos, mas por defeito do Blogger, sou obrigado a tolerar comentários anónimos.
Jesus disse: pode um reino se unir contra ele mesmo? Mc3,24
Sim, a respeito do blog citado já li algumas coisas suspeitas por lá e me ative aos comentários e ao absurdo desta nova encíclica. Mas a respeito do outro blog e canal no youtube parece-me tradicionalista sério.
Quantos Santos portugueses existem e quantos estão a aguardar para sê-lo?
Anónimo,
Não lhe sei responder quantos santos portugueses existem, até porque santo é todo aquele que salvou a sua alma, mesmo que ainda esteja no Purgatório.
Em relação aos canonizados, também não lhe sei responder. Porque existem muitos canonizados que não vêm referenciados nos missais.
Rafael Sanches,
Então por que razão não se une aos modernistas? Não, não existe unidade no erro, não existe unidade sem verdade. «Quem não é comigo, é contra mim; e quem não junta comigo, desperdiça» (S. Mateus XII, 30; S. Lucas XI, 23).
Enviar um comentário