O Fascismo só existiu em Itália


Os autores marxistas, e toda uma gama de divulgadores pouco preocupados com o rigor classificativo, costumam incluir os regimes autoritários peninsulares dentro dos "fascismos", como variantes regionais do sistema, que nos anos vinte e trinta, se estabeleceu na Alemanha e na Itália, e deu lugar a experiências não europeias, como o Japão antes da guerra e o peronismo argentino. Por outro lado, o termo "fascista", utilizado como adjectivo, assumiu tal carga emocional, que em situações polémicas e de profundo confusionismo terminológico, se torna difícil a sua precisão. Como diz Maurice Bardèche «é-se sempre o fascista de alguém», para a direita ou para a esquerda. Estalinistas e eurocomunistas chamaram-se de fascistas, como de tal pecado se acusaram, sucessivamente, Adenauer, De Gaulle, Nixon, Kossiguine. No actual processo revolucionário português, poucos dirigentes ou grupos políticos, todos de reconhecido e comprovado passado antifascista, escaparam a tal classificação por parte dos seus adversários de momento. E souberam, generosamente, retribuir o epíteto.
Num sentido mais restrito, o qualificativo é dado a qualquer regime autoritário, ou às práticas autoritárias de qualquer regime; nesta acepção, fascista contrapõe-se a democrático. A acepção também não é muito feliz, pois a utilizá-la, descobrir-se-ia uma infinidade de regimes e práticas "fascistas", desde a União Soviética ao Portugal pós 25 de Abril, ao Brasil, a Cuba, e a quase todos os estados socialistas do chamado Terceiro Mundo. Em sentido técnico, o termo apenas se aplica à ideia ou realidade a que historicamente está associado: a experiência italiana entre 1922 e 1945.

António Marques Bessa e Jaime Nogueira Pinto in «Introdução à Política», 1977.

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