Pelos anos de 1556, em que se começava a habitar na Nova Lusitânia [Brasil] a Província do Rio de Janeiro, entrou nela um corpo de três mil Franceses à ordem de Nicolau Villegagnon, Cavaleiro nobre do Hábito de São João; Logo se lhe uniram os Tamoios, Índios naturais da terra, gente bárbara e feroz, os quais, de boa vontade, admitiram os novos hóspedes, esperando vingar, à sombra das suas armas, os estragos que, por vezes, haviam recebido das nossas: Era, por aquele tempo, Governador do Brasil, Mem de Sá, ilustre e valeroso Cavaleiro, e logo com uma Armada de três galeões, oito navios e dois mil homens de guerra, veio atacar os Franceses, os quais se recolheram com grande número de Tamoios, a uma das Ilhas que há naquela grande enseada, onde se fortificaram de modo que se consideravam seguros de toda a invasão, porque a bárbara penedia, de que estavam cercados, lhes servia de muros, e o mar de fosso; Reconheceu Mem de Sá a dificuldade da empresa, mas ajudando com a indústria o valor, mostrou neste dia [20 de Janeiro] do ano referido, que se retirava, e na noite do mesmo dia, voltando nos batéis, subiram os Portugueses pela parte menos fragosa, e deram sobre os inimigos com tanto ardor, que dentro em breve tempo muitos perderam a vida, e outros, ou a nado, ou em embarcações ligeiras, passaram à terra firme, e se entranharam tanto pelo Sertão, que se deu a Província por segura das vexações, que por eles padecia.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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