No ano de 1565, era de catorze El-Rei Dom Sebastião e havia menos de dois meses que tomara posse do governo do Reino; E em tal idade, neste dia [12 de Março], que então foi uma das Sextas-feiras da Quaresma, recolhido no seu gabinete, posto de joelhos com os olhos e pensamentos em Deus, pegou na pena e escreveu umas palavras que da sua mão entregou a Dom Luís de Ataíde, a quem mandava por Vice-Rei da Índia e estava para partir: As palavras formais, breves e fortes, e todas de ouro, foram estas: Fazei muita Cristandade; Fazei justiça; Conquistai tudo quanto puderdes; Tirai a cobiça dos homens; Favorecei aos que pelejarem; Tende cuidado da minha fazenda; Para tudo isto vos dou o meu poder; Se o fizerdes assim muito bem, far-vos-ei mercê; Se o fizerdes mal, mandar-vos-ei castigar; Se alguns regimentos forem em contrário destas coisas, suponde que me enganaram e por isso não haja nada que vos estorve isto. É grande lástima que perdessem as lisonjas a um Príncipe, que em anos tão verdes, ardia tanto no zelo da Religião e bem comum, e sabia dar tão altos documentos, tão santas e tão prudentes direcções!
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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