Sendo Capitão do Forte de Sena, nos rios de Sofala, pelos anos de 1592, André de Santiago, sucedeu que uma Nação de Cafres, chamados Muzimbas, entraram por aquelas terras, fazendo cruéis hostilidades, como tragadores, que eram, de carne humana. Fortificaram-se em um sítio defensável, receosos dos Portugueses, nos quais só podia achar oposição a corrente impetuosa do seu furor, e dali assaltavam com frequentes surtidas o país circunvizinho. Despertaram os clamores dos cafres, nossos aliados ao Capitão de Sena, que se resolveu a ir desalojar daquele sítio aos Muzimbas, antes que nele lançassem maiores raízes, e se fossem fazendo cada vez mais poderosos e mais soberbos. Saiu com os Portugueses, que havia no Forte, e com bom número de negros, mas vendo que era pouco o seu poder para aquela empresa, em que achou mais dificuldade do que havia imaginado, assentou o seu arraial à vista da fortificação oposta, e fez aviso a Pedro Fernandes de Chaves, Capitão do Forte de Tete, para que o viesse ajudar contra o inimigo comum daquelas terras, cuja defensa corria igualmente por conta de ambos. Acudiu o de Tete com mais de cem espingardeiros, entre Portugueses e mestiços, além dos negros da sua repartição. Os Muzimbas, que não dormiam, mandaram espiar os de Tete, e sabendo que caminhavam à desfilada, metidos em andores por resguardo do Sol, com as armas entregues a seus escravos, destacaram do seu exército um bom troço de gente escolhida, e emboscando-se em um mato espeço, aguardaram aos Portugueses, e caíram sobre eles improvidamente com tanto ímpeto e furor, que a todos mataram sem ficar um só vivo. Chegou logo esta notícia ao Capitão de Sena, e foi tal a perturbação e desacordo dos seus, que postos em precipitada fugida, foram acometidos do inimigo e mortos quase todos; Com que vieram a morrer neste dia [9 de Abril], cento e trinta Portugueses e mestiços, e os Capitães de Sena e Tete, a ferro frio, e a mãos de Cafres pouco menos que brutos, ainda que valentes e ferozes. Nesta ocasião morreu asseteado o Padre Frei Nicolau do Rosário da Ordem de São Domingos, por ser (como diziam os Muzimbas) o Cássis dos Cristãos.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
Relembro: Sucesso infeliz em Moçambique
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