Navegava na volta de Inglaterra a Armada que conduzia a Senhora Infante Dona Catarina, Rainha da Grã-Bretanha, e chegando finalmente à vista do porto de Portsmouth, lhe saíram ao encontro cinco Fragatas de guerra em que vinha o Duque de Iorque, irmão d'El-Rei, e muitos Títulos e Fidalgos Ingleses, e concedida licença da Rainha, subiram à Capitania, e o Duque, observando as maiores demonstrações de rendimento, não quis sentar-se em uma cadeira de espaldas, que lhe estava prevenida, puxou de uma rasa, e sentado nela, e a Rainha em outra de espaldas, lhe expressou com discretas palavras a sua alegria e de todo o Reino na consideração de ter por senhora uma Princesa de tão altos merecimentos e de tão singulares perfeições. Respondeu-lhe a Rainha com agradável e majestosa urbanidade, e logo entraram a beijar-lhe a mão o Duque de Ormond e outros Títulos e pessoas principais, e ao despedir-se o Duque de Iorque, deu a Rainha três passos, honra a que o Duque protestou novas humilhações e rendimentos. A Portsmouth veio El-Rei com toda a Côrte buscar a Rainha, e nestas primeiras vistas sucedeu ao Marquês de Sande o caso, que em outra parte referimos. Pagou-se sumamente El-Rei da presença e discrição da Rainha, e não perdoou a demostração alguma que pudesse expressar as finezas do seu afecto e da sua estimação. Na mesma Cidade se celebrou o acto do desposório a uso de Inglaterra. Saiu El-Rei com a Rainha pela mão a uma grande sala, aonde estava debaixo do dossel um Trono com duas cadeiras, em que os Reis se sentaram, assistindo toda a nobreza com custosíssimas galas; E lido um papel em que se expressava o consentimento d'El-Rei, e outro em que se expressava o da Rainha, disse um dos Bispos Ingleses, em voz alta: Que aquela era a mulher com quem El-Rei estava casado, e todos romperam em alegres vivas a uma e outra Majestade. Logo se levantou El-Rei, tornando a levar a Rainha pela mão ao seu quarto, e observando o uso de Inglaterra, em actos semelhantes, lhe tirou as fitas que levava, e as repartiu, dando a primeira ao Duque de Iorque, e as outras aos principais Senhores e Damas que estavam presentes. Por algumas indisposições que sobrevieram à Rainha, se dilatou a sua entrada em Londres, a qual se fez, neste dia [2 de Setembro], ano de 1662, com as maiores demonstrações de grandeza, em que aquela Côrte se não deixa exceder das mais insignes da Europa. No mesmo dia se celebrou o casamento dos Reis conforme os ritos Católicos, assistindo Mylord de Aubigny, Capelão-mor da Rainha, e fez mais luzido este acto a presença da Rainha-mãe de Inglaterra, que de França viera assistir a ele: Seguiram-se por muitos dias majestosas festas.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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