Foi o Arcanjo S. Miguel conhecido sempre dos Portugueses por Anjo Custódio deste Reino, depois que o invictíssimo Rei D. Afonso Henriques venceu com seu patrocínio a Albaraque, Rei de Sevilha, nos campos de Santarém. E por isso lhe erigiu sumptuosas Capelas, assim na Igreja d'Alcáçova da dita Vila, como nos Mosteiros de S. Cruz de Coimbra e S. Maria de Alcobaça, consagrando-lhe também seus sucessores as Reais [Capelas] de seus Paços, como se vê na de Coimbra que agora é a Capela da Universidade. E na que El-Rei D. Dinis fez nos de Alcáçova do Castelo de Lisboa e na dos Paços d'Évora, todas deste Orago. Também El-Rei D. João II mandou pintar num Altar do Cruzeiro de S. Francisco da mesma Cidade a Imagem do dito Arcanjo, com escudo embraçado e nele as Quinas Reais. E El-Rei D. Manuel ordenou que se cantasse no Mosteiro da Batalha todos os dias uma comemoração a S. Miguel como Anjo Custódio do Reino. Em cuja Igreja se vêem as suas Balanças esculpidas nas famosas sepulturas do Infante D. Pedro, empresa particular sua e do Infante Santo D. Fernando, por nascer na dita Vila de Santarém em seu dia, as quais viu no Céu quando o mesmo Arcanjo lhe apareceu no cárcere e alcançou de Deus livrá-lo daquela infernal masmorra, para o levar à liberdade celestial.
Não contentes os nossos Reis com esta particular veneração, impetraram Breves da Sé Apostólica. El-Rei Dom Manuel, do Papa Leão X, para se rezar no 3º Domingo de Julho do Anjo Custódio em todo este Reino, e fazer geral Procissão, coisa que se não acha em algum de Espanha. E El-Rei D. João III, do Papa Adriano VI, para se rezar na Capela Real de S. Miguel nas terças-feiras vagas com Ofício de 9 Lições. Cuja graça anda no Bular 2 da Torre do Tombo fol. 198.
Pe. Jorge Cardoso in «Hagiológio Lusitano dos Santos e Varões ilustres em virtude, do Reino de Portugal e suas conquistas», Tomo III, 1666.
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