A Revolução devora os próprios filhos


Conhecemos a história de todas as "depurações" que marcam as diferentes etapas da Revolução: os purificados não são, nem velhos adversários, nem mesmo amigos recentes e pouco conhecidos, mas precisamente os chefes e os salvadores do dia anterior. «A Revolução devora os seus filhos», seria mais correcto dizer «os seus autores». Os parlamentares em Novembro de 1788, os Girondinos em Maio de 1793, são testemunhas disso. Concluiu-se que os apetites, e não as ideias, foram a mola impulsionadora da Revolução; que ela constitui uma grande pilhagem da qual os chefes se retiram em primeiro lugar, porque são os primeiros a servir-se; que os soldados continuam, porque querem aumentar as suas fortunas; daí as querelas, sempre renovadas e sempre iguais, as querelas entre os satisfeitos e os insaciáveis.
Mas como explicar uma união tão estreita e depois um ódio tão furioso, apenas pelo interesse pessoal? Como explicar também esse entusiasmo, esse luxo de palavras pomposas, essa exibição de princípios, esses acessos de generosidade ou raiva? Seria tudo mentira e comédia?
(...)
Sempre houve intriguistas e egoístas, mas só há revolucionários há 150 anos. De onde vem a força desconhecida e também a dignidade com que se revestem os vícios desde sempre conhecidos?
A verdade parece mais simples. Esquecemo-nos que a Revolução foi o triunfo da filosofia e não de uma determinada doutrina; da liberdade de pensamento, em geral, e não desta ou daquela ideia liberal. A força das ideias de 1789 está no método e não no sistema.
É sob esse ponto de vista que tentaremos estudá-lo. Nós mostraremos:
1º Que as doutrinas se encadeiam.
2º Que as facções se sucedem necessariamente.
Não se trata de uma doutrina definida, isto é, de um conjunto de conhecimentos positivos e de exigências determinadas; mas de um método de ordem intelectual e de uma tendência na ordem moral.
Vamos mais longe: é a substituição sistemática e radical, em princípio, do método pela doutrina, da tendência pelo estado estável.

Augustin Cochin in «La Révolution et la libre pensée», 1924 (póstumo).

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