Escreve o Cardeal Baronio que pelos anos do Senhor de 1148 foi condenado um Herege dogmatista de Bretanha, chamado Eon, o qual a seus discípulos e sequazes impunha nomes magníficos das virtudes. A um chamava Sabedoria, a outro Ciência, a outro Prudência, a outro Justiça, etc. A todos banqueteava esplendidamente: porém as iguarias só enchiam os olhos, como aparentes, e não os estômagos, como verdadeiras; pois eram por arte do demónio formadas de ar: com que os miseráveis hóspedes, com qualquer eructação, ou vento que despediam pela boca, se achavam vazios e outra vez famintos. Todos os vícios, defeitos e imperfeições são filhos e discípulos, por uma parte, do nosso amor-próprio, por outra do demónio: porém aquele, à persuasão deste, os costuma sobrescrever com títulos de virtudes, que à primeira vista o parecem, porque enchem os olhos dos que a têm curta, ou a não aplicam muito; e a pessoa que as tem, por ventura está mui satisfeita com elas: chega a ocasião de qualquer exame, ou prova, e então se mostra não serem mais que um pouco de ar corrupto.
Pe. Manuel Bernardes in «Luz e Calor», 1696.
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