Descobre-se uma conjuração contra o Mestre de Avis


No mesmo dia [8 de Janeiro], ano de 1385, se descobriu uma conjuração que se havia urdido entre grandes personagens contra o Mestre de Avis, Dom João, depois Rei. O Reino o elegera defensor, e dos Fidalgos, que concorreram para a mesma eleição, houve alguns que depois se deixaram vencer da inveja ou da cobiça. Não podiam sofrer a felicidade com que as coisas caminhavam para exaltação do Mestre de Avis ao Trono Real: Nem tinham resolução para rejeitarem as grandes promessas que lhe fazia El-Rei de Castela; a uma e outra bateria se renderam o Conde Dom Gonçalo Telles, irmão da Rainha Dona Leonor: Dom Martinho, filho do mesmo Conde: Dom Pedro, Conde de Trastâmara: Dom Pedro de Castro: João Afonso Beça: Ayres Gonçalves: Garcia Gonçalves Valdez, e começaram a dispor por vários modos a traição; mas sendo descoberta neste dia, no mesmo foram uns presos, outros fugiram, e o último dos que acabamos de nomear (em quem devia ser maior a culpa e mais provada) foi condenado à morte e queimado em praça pública. Assim preservou o Céu de tão evidente perigo a vida daquele Católico e excelente Príncipe; o qual (sendo já Rei) mandou pôr em liberdade os Fidalgos que estavam presos pelo mesmo delito: Porque não era decoro à Majestade vingar El-Rei de Portugal as ofensas feitas ao Mestre de Avis.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

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