O irrealismo profundo dos "intelectuais"


Por essas e por outras é que sempre aconselho aos jovens intelectuais a prática de trabalhos manuais. Aprendam a consertar torneiras, a descobrir curto-circuitos e assim terão um exercício de docilidade ao real. Não é só com a cabeça que o homem pensa, é também com as mãos. É preciso nunca ter mudado um fusível, ou nunca ter pregado um botão nas calças, para chegar ao irrealismo profundo dos "intelectuais" que trazem os seus brilhantes talentos para pronunciamentos que deveriam versar sobre coisas simples, como o pão e a água, e por excesso de categorias mentais, deixam de ver o elefante, o piano e outras coisas mais volumosas.

Gustavo Corção in jornal «O Globo», 29 de Agosto de 1970.

4 comentários:

Anónimo disse...

Gustavo Corção, católico e escritor de grande envergadura, que além de ter sido intelectual levava consigo o modelo de vida mostrada nesse excerto.
Confesso que dos trabalhos manuais que faço, tenho grande dificuldade de lidar com componentes elétricos, mas ao menos o desafio não é maior que minha coragem em aprender.

Obrigado pelos belos e instrutivos excertos que trazes aqui em seu "blogger".

Apesar das trevas que tem coberto a terra, por conta da desonra dos homens e da ação do demônio retratado na maçonaria e na classe dominante mundial, desejo-lhe um 2022 com a Paz de Cristo e saúde.

Ad Iesum per Mariam

Marco Vargas Silva disse...

Isso é verdadeiro e também faz-me confusão maestros que não sabem tocar instrumentos. Quando eu me esqueço de uma música basta-me pegar na viola que as mãos lembram-se. Foi desta maneira que vi que a memoria não é uma coisa do cérebro.

VERITATIS disse...

Anónimo/a,

Quem diz electrónica, também diz agricultura, jardinagem ou bricolage, foi apenas um exemplo dado por Gustavo Corção. O que realmente importa é o tal «exercício de docilidade ao real».

Obrigado pelas suas gentis palavras.

Continuação de um santo Natal e feliz Ano Novo. Pedia-lhe apenas que assinasse os comentários, nem que seja com um pseudónimo.

VERITATIS disse...

Marco Vargas Silva,

Sim, a memória e a inteligência não se trabalham apenas com o cérebro e conceitos abstractos, mas também com as mãos e coisas palpáveis. Essa é a lição que se pretende transmitir.