Os Sebastianistas


Todos os homens de siso se agastam e enjoam até de ouvir falar em Sebastianistas, e têm razão. Na História universal da Demência humana, ainda não apareceu, nem aparecerá, um delírio semelhante. Custa a compreender como se haja podido arraigar e dilatar esta pueril credulidade, que se pode ter alguma desculpa nos anos próximos à morte e fatal desventura do Augustíssimo Senhor Rei D. Sebastião, que santa glória haja, é impossível que a encontre agora diante do Tribunal da Razão. Esta importuna Seita reverdeceu na entrada dos nossos pérfidos Opressores [Invasões Francesas]; e com um furor estúpido, de que me parecia não eram capazes os Portugueses, começou a apropriar certas trovas cediças, importunas, baixas, a El-Rei D. Sebastião e a Bonaparte, objecto novo e nunca encontrado, ou designado nos anais Sebásticos. Por mais que o tempo, os sucessos e a boa razão desmintam a Seita, se multiplica com uma teima tal, que obrigou a lançar por escrito as seguintes reflexões. Tudo o que pertence às trovas, seus autores e aplicadores, se acha com exuberância na douta Obra – Dedução Cronológica e Analítica – Os livros que os Sebastianistas citam, como Profecias do Bandarra, Restauração de Portugal prodigiosa, Vida do Sapateiro Santo Simão Gomes, se acham condenados e proscritos pela Real Mesa Censória. O rectíssimo Tribunal do Santo Ofício condenou muitos dos fautores e assoalhadores das supostas Profecias, como Réus que atentaram contra a majestade e santidade da Religião. Por estes motivos, e pela obrigação de bom Patriota, o que tenho feito conhecer por escritos, e de viva voz em sagrados discursos ao Povo, e o atestarei com a vida, sendo preciso para conservação e defesa da nossa Pátria, da nossa Religião, e do nosso Monarca, julguei conveniente desabusar esta Seita de crédulos, que na verdade são prejudiciais à pública segurança, e defesa do Reino, enquanto fiados nas ridículas Profecias permanecem indolentes para tudo: declarando que não é meu intento ofender e ultrajar pessoa alguma em particular, não só por motivo da caridade Cristã; mas porque quem escreve, só deve – Parcere personis, loqui de vitiis.

Pe. José Agostinho de Macedo in prefácio a «Os Sebastianistas», 1810.

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O messianismo político do Judeu levou à degeneração da antiga religião Mosaica em Farisaísmo, e mais tarde à criação de novas formas de messianismo redentor temporal, como é o caso do Sionismo e do Comunismo. Pela sua essência messiânica terrenal, parece-nos que o Sebastianismo e o mito do 5º Império, são também excrescências judaicas típicas de cristãos-novos portugueses, que, apesar de convertidos, conservaram certos elementos mentais judaicos. Fernando Pessoa deve ser o melhor exemplo de cristão-novo sebastianista.

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