Quando a ONU apoiou o terrorismo contra Portugal


A insistência em menosprezar o princípio fundamental da não-intervenção nos assuntos internos dos Estados membros, mereceu tais reparos e causa tais apreensões aos que ainda depositam alguma confiança no futuro da Organização, que é de prever esta venha a alterar a sua conduta, no caso de desejar sobreviver.

O convite às autoridades portuguesas para cessarem imediatamente as medidas de repressão [ao terrorismo] é uma atitude, digamos, teatral do Conselho de Segurança [da ONU] e que ele não tem a menor esperança de ver atendida, tão gravemente ofende os deveres de um Estado soberano. Desde os meados de Março não acharam, nem o Conselho, nem a Assembleia, oportunidade para ordenar aos terroristas que cessassem os seus morticínios e depredações, e tantos dos seus membros o podiam ter feito com autoridade e eficácia. Mas quando intervém a autoridade cuja obrigação é garantir a vida, o trabalho e os bens de toda a população, essa obrigação, ou primeiro dever do Estado, não haverá de ser cumprido, porque é necessário que os terroristas continuem impunemente a sua missão de extermínio e de regresso à vida selvagem.

À consideração de que a situação em Angola é susceptível de se tornar uma ameaça para a paz e para a segurança internacionais, essa, sim, pode ter algum fundamento, mas só na medida em que alguns dos votantes [da ONU] se decidam a passar do auxílio político e financeiro que estão dando, para o auxílio directo com as suas próprias forças contra Portugal em Angola. Tudo começa a estar tão do avesso no mundo que os que agridem são beneméritos, os que se defendem são criminosos, e os Estados, cônscios dos seus deveres, que se limitam a assegurar a ordem nos seus territórios, são incriminados pelos mesmos que estão na base da desordem que aí lavra. Não. Não levemos ao trágico estes excessos: a Assembleia das Nações Unidas funciona como multidão que é, e portanto dentro daquelas leis psicológicas e daquele ambiente emocional a que estão sujeitas todas as multidões. Nestes termos é-me difícil prever se o seu comportamento se modificará para bem ou não agravará ainda para pior. Se porém virmos este sinal no céu de Nova lorque, é meu convencimento que estão para breve catástrofes e o total descalabro da Instituição.

António de Oliveira Salazar in discurso «O Ultramar Português e a ONU», 30 de Junho de 1961.

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