São Mâncio, ou Manços, um dos setenta e dois Discípulos de Cristo, e aquele que pediu ao Senhor que quisesse declarar o modo com que os homens deviam orar a Deus, a que o mesmo Senhor respondeu, ensinando a Oração do Padre-nosso. Assistiu aos últimos e principais mistérios da Vida, Morte, Ressurreição e Ascensão de seu Divino Mestre. Recebeu no Cenáculo, juntamente com os Sagrados Apóstolos, o fogo do Espírito Santo, e logo começou a discorrer por várias terras, prégando a Lei Evangélica, até que entrou em Portugal [então Lusitânia] e fez assento na Cidade de Évora, onde foi o primeiro Bispo. Ali converteu inumeráveis Gentios à Fé, e o mesmo fez em toda aquela Província, plantando nela uma numerosa e florentíssima Cristandade. Chegaram estas notícias a Validio, Presidente Romano, o qual o mandou prender num imundo e tenebroso cárcere: Logo passou à prova de atrozes e esquisitos tormentos. Todos sofreu o Santo Mártir com invicta paciência e com alegria imponderável, até que entregou o espírito nos amorosos braços daquele Senhor a quem acompanhara na vida e imitara na morte, a qual sucedeu neste dia [21 de Maio] pelos anos de 98. Foi seu corpo sepultado não longe de Évora, donde os Cristãos, no tempo da invasão dos Mouros, o levaram para Castela-a-Velha, à terra a que chamam de Campos. Ali se conserva no nobre Mosteiro de Sagum da Ordem de São Bento na Capela-mor, em precioso cofre de prata, rodeado de cristais que facilitam a vista e alegram a devoção da gente, que concorre em grande número a venerar aquelas sagradas relíquias. Delas alcançou um braço Dom Teotónio de Bragança, Arcebispo de Évora, e o colocou na sua Sé, onde se venera muito religiosamente. Escreveu a vida deste Santo Bispo o famoso Ângelo Pacense, Português, e as de outros Santos antigos, a que ajuntou alguns Concílios e muitas memórias de coisas pertencentes a este Reino.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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