Os Portugueses vão em socorro do Imperador da Etiópia


No ano de 1541 se achava Dom Estevão da Gama, Governador da Índia, com uma poderosa Armada no Estreito do Mar Roxo [Vermelho], no porto de Maçuá, que pertence aos Estados do Imperador da Etiópia, chamado vulgarmente o Preste João: Ali lhe chegaram Embaixadores do mesmo Imperador, que então era chamado Athanâ Sagad; o qual lhe pedia socorro com grande instância, em razão de se achar quase de todo despojado do seu Império, por El-Rei de Zeilá, que havia sido Vassalo seu, e agora, ligado com o Grã Turco, lhe fazia dura guerra: Julgou Dom Estevão, que convinha à reputação das suas Armas e ao crédito da Nação Portuguesa, socorrer a um Príncipe Cristão, perseguido, e amigo dos Reis Portugueses; e em consequência deste acertado discurso, lhe mandou logo quatrocentos Portugueses escolhidos à ordem de seu irmão, Dom Cristóvão da Gama, com oito peças de artilharia e bom número de armas e munições: Partiu Dom Cristóvão daquele porto neste dia [6 de Julho] ano de 1541, oferecendo-se de boamente, ele e os companheiros, sacrificando-se a uma tão dificultosa e perigosa empresa, sem outro fim, ou utilidade, mais que a defesa da Fé e o crédito do nome Português; Fazemos memória dos princípios desta expedição, porque a eles se seguiram notáveis progressos, que diremos nos dias a que pertencem.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

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