A Rainha Dona Maria Sofia de Neoburgo


No mesmo dia [4 de Agosto], por segunda causa, sumamente funesto a Portugal, faleceu em Lisboa no ano de 1690 a sereníssima Rainha Dona Maria Sofia Isabel de Neoburgo, Princesa de esclarecidíssimas virtudes, iguais só ao seu nome, maiores que toda a ponderação. Resplandeceu com eminência no amor para com Deus, no culto e veneração para com os Santos, na caridade para com os pobres, na afabilidade e benevolência com os seus vassalos, dos quais se mostrava antes Mãe, que Rainha e Senhora. Exercitava-se muito em uma e outra oração: Visitava frequentemente os Templos e Santuários, solicitando pela intercessão dos Santos, os despachos das suas petições. Da sua mão dava esmola aos pobres, e repartia com os mesmos da sua mesa, e muitas vezes os fazia sentar a ela, e os servia com alegre rosto e profunda humildade. Nas enfermidades os socorria com regalos, na desnudez com roupas; Chegando algumas vezes a repartir, das que trazia vertidas, por não dilatar o abrigo aos que via faltos dele. Doía-se com entranhável ternura dos meninos expostos e desemparados, e para os que se criam no hospital de Lisboa, deixou uma esmola grandiosa e perpétua. Edificou na Cidade de Beja um Colégio, para a sagrada Religião da Companhia de Jesus, a que tinha singular devoção. Com estas e outras excelentes virtudes, e heróicas acções (que não cabem na estreiteza do nosso assunto) ilustrou gloriosamente este Reino no espaço de doze anos, e com trinta e três de idade, recebidos devotissimamente todos os Sacramentos, sempre com inteiro juízo, com um Crucifixo na mão, e nele pregados os olhos, e empregados terníssimos afectos, trocou a vida temporal pela eterna, deixando eterna saudade nos corações de todos os Portugueses.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

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