Haviam os Mouros recuperado a Vila de Alcácer do Sal, depois de conquistada por El-Rei Dom Afonso Henriques, e a fortificaram de modo que parecia ficar insuperável a todos os meios de expugnação que havia naqueles tempos; Mas Dom Sueiro, Bispo de Lisboa, Prelado de igual virtude e valor, aproveitando-se da ocasião de haver chegado ao porto da mesma Cidade uma poderosa Armada do Norte; Ajustando-se com os Capitães dela, partiu à Conquista daquela Praça, e os Estrangeiros navegaram ao porto de Setúbal, e daí pelo Rio acima, em embarcações ligeiras, se foram incorporar com os Portugueses; seguindo uns e outros o mesmo fim, por diferente caminho. Tiveram os inimigos notícia antecipada, e reforçando novamente os reparos, se preveniram à defesa, implorando ao mesmo tempo os socorros dos Reis de Badajoz, de Jaén, de Córdova, e de Sevilha; os quais, com um Exército de quinze mil Cavalos e oitenta mil Infantes, vieram em demanda dos Cristãos; E atacando-se a batalha neste dia [10 de Setembro], ano de 1217, foram estes vencidos e derrotados com grande perda. Dividiu-os a noite e o sucesso os encheu, a uns de alegria e alvoroço, e a outros de dor e confusão: Choravam os Católicos o fracasso, temiam outros maiores, e levados da aflição, a que na Terra não achavam fácil remédio, puseram os olhos no Céu: Eis que de repente, se lhes representou no ar, a pouca distância, o salutífero sinal da Cruz, mais luminoso e claro que o mesmo Sol: Foi visto e adorado de todos os soldados do Exército, naturais e estrangeiros, e todos conceberam firme esperança, de que no dia seguinte haviam de vencer e derrotar aos inimigos da mesma Cruz, que agora se lhes oferecia aos olhos, como sinal e penhor de uma felicíssima vitória.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
Sem comentários:
Enviar um comentário