O assalto de "Espanha" à fortaleza da Mina


Hoje, 4 de Setembro de 2022, celebra-se o 543º aniversário do Tratado de Alcáçovas, no qual Portugal e "Espanha" acordaram a divisão horizontal do mundo em duas zonas de exploração: atribuindo a Portugal as terras que viessem a ser descobertas a sul do paralelo que passava no Cabo Bojador, enquanto "Espanha" ficaria com as terras a norte do mesmo paralelo. Infelizmente, o Tratado apenas vigorou durante 15 anos (até à assinatura do Tratado de Tordesilhas), uma vez que "Espanha" violava de forma recorrente as disposições acordadas em Alcáçovas e confirmadas em Toledo. Uma dessas transgressões foi particularmente grave, com os Reis Católicos D. Isabel de Castela e D. Fernando de Aragão a ordenarem o assalto à fortaleza portuguesa de São Jorge da Mina, na costa africana, que se encontrava protegida por Bula Papal. Tal crime ocorreu pouco depois da assinatura do Tratado de Alcáçovas, conforme o relato de Damião de Góis:

Neste ano [1480] mandaram El-Rei Dom Afonso e o Príncipe [Dom João], Jorge Correia, Comendador do Pinheiro, e Mem Palha, bons e esforçados Cavaleiros, correr à costa da Guiné, cada um em sua Capitania, os quais juntos na paragem da Mina desbarataram trinta e cinco naus e navios de Castela, de que era capitão Pedro de Covides, que do tempo da guerra lá andava resgatando por mandado de El-Rei Dom Fernando e da Rainha Dona Isabel, e trouxeram todas estas naus e gente a este Reino, com muito ouro que já tinham resgatado, mas por respeito das capitulações das pazes [de Alcáçovas] foram logo soltos, e as naus e navios entregues, da maior parte do qual ouro fez o Príncipe mercê aos Embaixadores de Castela e a outros Senhores que então andavam na Corte.

Damião de Góis in «Crónica do Príncipe Dom João, Rei que foi destes Reinos, segundo do nome, etc.», 1567.

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