No mesmo dia [1 de Julho], ano de 1541, saiu Dom Rodrigo de Castro da praça de Safim [em Marrocos] com cento e oitenta lanças, e proporcionado número de infantes, e deu improvisadamente sobre mais de cinquenta aduares [acampamentos] de Mouros, e depois de uma leve resistência, os pôs em temerosa confusão e precipitada fugida. Rebanhou quinze mil cabeças de gado menor, mil camelos, duzentos bois e oitenta pessoas, e com este despojo se fez na volta de Safim; Recobrados, porém, os Mouros à vista do nosso pouco poder e unidos brevemente em grande número, nos começaram a cercar por todas as partes, com fúria tão desesperada, que a troco de matar, não receavam morrer; Por todos os lados era vanguarda para a nossa gente, a qual com repetidas cargas e vigorosas voltas da cavalaria, foi rebatendo a cada passo novas e furiosas sortidas, e assim ia ganhando terra aos palmos, sem alguma turbação ou desordem; Caminharam em combate sucessivo cinco léguas (não era menor a distância) sempre com firmeza inexpugnável e sem outra perda mais que a de dois soldados e poucos feridos, ficando mortos dos Mouros mais de oitenta; Entraram finalmente gloriosos e triunfantes com toda a presa pelas portas de Safim; Foi este um dos mais galhardos sucessos que em África lograram nossas armas: Porque em marcha tão dilatada, se conservou acometido de imensa multidão de Mouros o nosso pequeno esquadrão, como se fora uma torre portátil, tão forte nos peitos dos defensores, como outras em parapeitos e muralhas.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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