Vitória contra os Franceses no Rio de Janeiro


Unidos outra vez os Franceses, escapados da rota, que pelos anos de 1556 receberam de Mem de Sá (como em outro dia referimos) e engrossados com um grande socorro, que lhe viera de França, e muito mais com uma infinita multidão de Tamoios, que puseram em gravíssima consternação aos poucos moradores que havia por aquele tempo na Província do Rio de Janeiro: Faziam-se os Tamoios formidáveis por mar e terra; Por terra, inundavam os campos; Por mar, armaram duzentas Canoas: que era um poder excessivo, porque cada uma destas embarcações se forma de um só pau, de tão portentosa grossura, que cavado de uma só parte, abre um bojo capaz de cento e cinquenta homens, com mais de trinta remeiros por banda, os quais remam e pelejam ao mesmo tempo: Contra tamanho poder veio Estácio de Sá, sobrinho do Governador Mem de Sá, e depois de vários encontros, em que os Portugueses sempre levaram a melhor, atacaram estes a principal força dos inimigos, em um sítio, chamado Vrassuruiri; Pendia daquele sucesso o domínio da Província, e cada uma das partes se empenhou, em comprar a preço da vida, ou a defesa, ou a expugnação: Travou-se um formidável conflito, variando de semblante a fortuna por várias vezes; Já se melhoravam uns, já outros, já nestes crescia o temor, naqueles a esperança, e pelo contrário; Até que se terminaram as dúvidas, declarando-se a vitória pelos Portugueses, com insigne destroço dos inimigos; Foi porém grande a nossa perda, pela morte do Capitão-mor, Estácio de Sá, Cavaleiro desconhecido valor: Com esta vitória, saíram daquela Província os Franceses que ficaram vivos, e os Tamoios se reduziram à sujeição antiga.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Sem comentários: