A emigração portuguesa em 1898


Damos começo a esta crónica relatando o que está sucedendo a muitos irmãos nossos, que tendo-se deixado levar de promessas falazes emigraram para o Brasil nos meses passados. E fazemo-lo propositadamente para que os nossos leitores vejam o que lá se passa, e não venham a ser também do número dos iludidos.
Muitos portugueses do Continente e Açores, que esperavam enriquecer nas províncias brasileiras, não têm trabalho, nem encontram colocação, e por isso ocupam-se a cavar o cacau e o café, debaixo d'um sol ardentíssimo, e isto pelo módico salário de 400 reis diários.
Outros exercem os mais vis misteres, e são tratados como a gente mais desprezível.
Um grande número anda mendigando os meios de regressar à pátria.
Por outra parte os factos comprovam que a emigração para as nossas possessões africanas é a felicidade de um sem número de famílias.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 4º Ano, Nº 14, Fevereiro de 1898.

Os dez mandamentos da higiene


1. Higiene geral – Levantar cedo, deitar cedo, ocupar o dia.
2. Higiene respiratória – A água e o pão sustentam a vida, mas o ar puro e o sol são indispensáveis à saúde.
3. Higiene digestiva – A frugalidade e a sobriedade são o melhor licor para a longa vida.
4. Higiene da pele – A limpeza preserva da ferrugem; as máquinas mais limpas duram mais tempo.
5. Higiene do sono – Um repouso suficiente repara e fortifica: um repouso longo amolece e enfraquece.
6. Higiene das vestes – Vestir-se bem e conservar o corpo, com liberdade de movimentos e calor necessário, preservando-o de toda a mudança repentina de temperatura.
7. Higiene da habitação – A casa limpa e alegre torna amável o lar doméstico.
8. Higiene moral – O espírito descansa e se adelgaça nas distracções; mas o abuso o arrasta para as paixões e estas aos vícios.
9. Higiene intelectual – A alegria faz amar a vida, e o amor da vida é o alvo da saúde. Ao contrário, a tristeza e o desânimo antecipam a velhice.
10. Higiene profissional – Se nutres o cérebro, não deixes paralisar teus braços e tuas pernas. Se ganhas a vida com a enxada, não te esqueças de ornar e embelezar a tua inteligência.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 9º Ano, Nº 16, Abril de 1904.

Da fantasia do "Povo Soberano"


Nós apreendemos pelo raciocínio e vimos pela experiência, que não é possível erguer sobre este conceito – a liberdade – um sistema político que efectivamente garanta as legítimas liberdades individuais e colectivas, antes em seu nome se puderam defender – e com alguma lógica, Senhores! – todas as opressões e todos os despotismos. Nós temos visto que a adulação das massas pela criação do «povo soberano», não deu ao povo, como agregado nacional, nem influência na marcha dos negócios públicos, nem aquilo de que o povo mais precisa – soberano ou não –, que é ser bem governado. Nós temos visto que tanto se apregoaram as belezas da igualdade e as vantagens da democracia, e tanto se desceu, exaltando-as, que se ia operando o nivelamento em baixo, contra o facto das desigualdades naturais, contra a legítima e necessária hierarquia dos valores numa sociedade bem ordenada.

António de Oliveira Salazar in discurso «Princípios Fundamentais da Revolução Política», 30 de Julho de 1930.

Dom Gualdim Pais


Dom Gualdim Pais, famoso Cavaleiro do tempo dos primeiros Reis de Portugal, nasceu em Braga, de nobre geração. Passou a militar na Síria, e foi um dos primeiros fundadores da famosa Ordem do Templo, juntamente com Arnoldo da Rocha, também Português, igualmente ilustre e valeroso. Naquela guerra fez Dom Gualdim assinalados serviços em obséquio da Fé contra os infiéis: Particularmente ostentou o seu valor na conquita das Cidades de Ascalão e Antioquia; Achou-se em muitas batalhas campais e sempre com glorioso nome. Voltou cheio de fama a Portugal, onde foi o primeiro Mestre daquela Ordem, e a fundou e enriqueceu neste Reino. Fundou os Castelos de Tomar, Pombal, Almourol, Idanha, Monsanto, e outras nobres Povoações. Morreu neste dia [17 de Abril] ano de 1195.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Das qualidades dos Cavaleiros da Ordem de Cristo


Pela excelência desta Ordem ser de Jesus Cristo, nosso Senhor, e pela insígnia da Cruz que tem, que entre todas as das Ordens Militares, mais se assemelha e parece à em que Ele padeceu, merece ser muito venerada e respeitada: pelo que os que a ela forem recebidos, devem ser Nobres, Fidalgos, Cavaleiros, ou Escudeiros, limpos sem mácula alguma em seus nascimentos, nem outros impedimentos e defeitos que se apontam abaixo nos interrogatórios, porque se há-de perguntar, quando se habilitarem: e os Papas Pio V e Gregório XIII no ano de 1572 proibiram que nenhuma pessoa que descendesse de Mouro ou Judeu, ou fosse filho de mecânico* ou mecânica, nem neto de avô e avó mecânicos, possam ser recebidos ao hábito desta Ordem; o que ordenamos e definimos que assim se cumpra e guarde inviolavelmente, sem dispensação, nem remissão alguma, por ser tão necessário à autoridade e reputação da Ordem, e conforme ao que el-Rei D. Filipe II, de boa memória, Governador e perpétuo Administrador desta Ordem, com estas considerações resolveu e mandou por sua carta assinada de sua Real mão de 28 de Fevereiro de 1604, de que a cópia é a seguinte...

Fonte: «Definições e Estatutos dos Cavaleiros e Freires da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo», 1717.

(*) É chamado de mecânico a todo o género de ofícios manuais ou servis, como carpinteiros, pedreiros, alfaiates, sapateiros, etc.

Família


Família. Foi fundada por Deus quando deu Eva por companheira a Adão, abençoando-os e dizendo-lhes que se multiplicassem. Sempre que uma mulher aceita unir-se a um homem, com a bênção de Deus dada à face da Igreja, com o fim de terem filhos [Matrimónio], fica constituída legitimamente uma família cristã.
Os membros de uma família, que formam o lar doméstico, devem propor-se os seguintes fins: a) o bem-estar, pelo trabalho de todos; b) a paz, suportando-se mutuamente; c) a alegria, dedicando-se ainda que com incómodo próprio; d) a vida virtuosa, sendo fiéis à lei de Deus e à lei da Igreja; e) o auxílio mútuo, sobretudo nas dificuldades e nas doenças.

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945.

Os Nominais


Nominais. É o nome de uns Filósofos, que, seguindo a opinião de Guilherme de Occam, Religioso de S. Francisco, de nação Inglês, e discípulo de Escoto, querem provar que não há ciência das coisas [= entes, seres] em geral, mas só dos nomes comuns das ditas coisas; por isso lhes chamam Nominais. Pretendem que o que os Lógicos chamam Universais, sejam meros conceitos dos homens, sem que realmente exista no mundo natureza [= essência] alguma comum a muitos; por esta razão se diz deles que são escassos de coisas e pródigos de palavras. Santo Anselmo da Cantuária [Doutor da Igreja] lhes chama Hereges da Dialéctica.

Pe. D. Rafael Bluteau in «Vocabulário Português e Latino», Tomo V, 1716.

Adágios portugueses sobre o mês de Abril


Abril águas mil, coadas por um mandil.
Abril frio, pão e vinho.
Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.
A ti chova todo o ano, e a mim chova Abril e Maio.
Altas ou baixas, em Abril vêm as Páscoas.
Do grão te sei contar, que em Abril não há-de estar nascido, nem por semear.
Em Abril queijos mil, e em Maio três ou quatro.
Em Abril vai onde hás-de ir e torna ao teu covil.
Frio de Abril, nas pedras vai ferir.
No princípio ou no fim, Abril soe ser ruim.
Por todo Abril, mau é descobrir.
Sono de Abril, deixa-o a teu filho dormir.
Fica-te embora mundo, deixar-me-ás Abril e Maio.
Uma água de Maio, e três de Abril, valem por mil.
Por Abril dorme o moço ruim, e por Maio o moço e o amo.
Entre Abril e Maio, moenda para todo o ano.
Quem me vir e me ouvir, guarde pão para Maio e lenha para Abril.
A rês perdida, em Abril cobra a vida.
As manhãs de Abril são doces de dormir.

Fonte: «Vocabulário Português e Latino», Tomo I, 1712.