O Venerável Padre José de Anchieta da Companhia de Jesus, novo Xavier da América Portuguesa. Naquele novo Mundo, se aplicou com desvelo incansável à conversão dos Gentios, acompanhando esta grande obra com raras e estupendas maravilhas. Obedeciam ao império da sua voz as feras, as aves, os peixes, as nuvens, os elementos. Ao toque da sua mão, ou da sua roupeta, fugiam as enfermidades, como as sombras da luz. Por vezes foi visto ao mesmo tempo em diversos lugares. Outras se fazia invisível, penetrava os segredos dos corações, sabia os sucessos a muitas léguas de distância do mesmo modo com que acabavam de suceder, e predizia com certeza infalível os futuros. Chorou amargamente na América a perda d'el-Rei Dom Sebastião, no mesmo dia que esta sucedeu na África [4 de Agosto de 1578]. Multiplicava as coisas que servem ao sustento, ou as convertia em outras de espécie diferente, em benefício dos pobres e dos enfermos. Merecia estes favores do Céu com uma vida inocentíssima, esmaltada de todas as virtudes em grau heróico. Ardia em vivas chamas de amor de Deus, e em desejos inflamadíssimos da salvação das almas, singularmente dos seus Gentios do Brasil: Por eles (como o Sol) andava em contínuo movimento, discorrendo sempre a várias partes daquele vastíssimo Sertão, cujos fins se ignoram até agora, vencendo invencíveis dificuldades, sofrendo imensos trabalhos, convertia e baptizava almas sem número, sendo uma nova maravilha, que pudesse aturar tanto, um corpo fraco de compleição, e atenuado com penitências: Mas o ardor da Caridade animava o débil da natureza. Assim perseverou quarenta e quatro anos, e aos sessenta e quatro de sua idade, neste dia [9 de Junho], ano de 1597, cheio de heróicas virtudes e altos merecimentos, acabou felicissimamente a carreira mortal. Jaz sepultado no Colégio da Baía. Compôs nos Idiomas Latino, Português, Castelhano, e Brasílico, muitos versos a vários assumptos de piedade e devoção. Entre todos, é muito célebre a vida de Nossa Senhora em Poema elegíaco, por estilo não menos suave que elegante.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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