Diálogo de dois portugueses sobre o "Halloween"


Um diálogo imaginado:

– Então, amigo, estás pronto para celebrar o Halloween?
– Deus me livre! Sou católico e recuso-me a participar nessas bruxarias satânicas!
– Ehh! Calma! O Halloween não é assim como dizes.
– Como não?! O Halloween é o Dia das Bruxas!
– Nada disso. Halloween é apenas a véspera de Todos-os-Santos.
– Acho que deves estar a fazer confusão.
– Não há confusão nenhuma. "Halloween" é só uma palavra inglesa para a vigília ou véspera de Todos-os-Santos, da mesma forma que "Christmas" significa Natal e "Easter" significa Páscoa.
– Hum... Não sei se será assim...
– É como te digo, o termo "Halloween" é inglês antigo e vem da contracção de "All Hallows Evening", que se traduz literalmente por "Véspera de Todos-os-Santos".
– Mas isso será apenas uma questão semântica.
– Não é apenas um pormenor de semântica; é a realidade essencial. A origem e a substância da véspera de Todos-os-Santos é católica. A festa é católica. Foi fundada pela Igreja e a Igreja nunca a deixou de celebrar.
– Mas se Halloween é a designação inglesa... então não deve ser católico.
– O dia e a véspera de Todos-os-Santos sempre foram católicos, independentemente do rompimento dos anglicanos com a Igreja de Cristo. O ofício litúrgico de Halloween vem no Breviário Romano para os católicos de língua inglesa. Refiro concretamente uma edição de 1908, insuspeita de qualquer inovação pós-Conciliar.
– De qualquer das formas, isso são coisas de anglófonos. Nós somos portugueses. Não podemos favorecer a importação de modas estrangeiras.
– Os portugueses, como católicos, sempre celebraram a véspera de Todos-os-Santos. É disso que se trata. Mas concordo que não devemos importar costumes estrangeiros, nem designações estrangeiras para uma festa católica que sempre celebrámos.
– Mas o chamado Halloween tem coisas pouco católicas, não achas?
– Suponho que te estejas a referir a certos festejos mundanos de importação norte-americana, a que incorrectamente identificam como "Halloween".
– Sim, é essa festa das bruxas que associam ao Halloween. É horrível.
– Não conheço a razão desses costumes profanos, que são estranhos a Portugal. Mas se hoje a sociedade não é católica, não podes esperar que celebre a festa de forma católica. Esse é um drama universal. O mesmo se passa com o Natal ou a Páscoa. Contudo, o Natal não deixa de ser Natal, porque o mundo moderno celebra um pseudo-Natal em vez do verdadeiro Natal. Halloween é apenas véspera de Todos-os-Santos em língua inglesa, mesmo que hoje lhe dêem uma aparência de outra coisa qualquer.
– Certo, mas com o Natal e a Páscoa a coisa não é tão macabra...
– Quem sabe, porém, se não serão mais enganadores para as almas mais bem-intencionadas. O pior erro é aquele que tem maior aparência de verdade.
– Sim, mas os modernos festejos de Halloween são claramente diabólicos. Vê-se um elogio ao Mal.
– São de facto costumes estranhos a Portugal, como já disse, mas lembra-te que no nosso Entrudo também há figuras diabólicas que assustam pessoas pelas ruas e que depois são simbolicamente queimadas na véspera da Quarta-Feira de Cinzas – a queima do Entrudo – dando-se início à Quaresma. Ou seja, há todo um significado espiritual nessas diabruras que antecedem a purificação quaresmal. É possível que antigamente, nos países de tradição inglesa, essas demostrações na véspera de Todos-os-Santos tivessem um significado religioso transcendente, como tem o nosso tradicional Entrudo. Mas desvinculados do Catolicismo, esses costumes perdem sentido e corrompem-se. A sociedade perdeu a noção religiosa e transcendente, ficando apenas na superfície uma prática meramente humana, agravada pela corrupção moral e intelectual.
– Por isso mesmo não podemos defender esses festejos ditos de "Halloween".
– Nem eu os defendo. Não são da nossa Tradição. E essas modas só entraram em Portugal nos últimos anos por influência mediática e cultural norte-americana.
– Inclusive o dia 31 de Outubro é conhecido por se fazerem muitos sacrilégios e profanações.
– Mais uma razão para não deixarmos que uma festa católica caia nas mãos do Inimigo. Temos obrigação de defendê-la e celebrá-la correctamente.
– Mas como então fazer isso?
– Como sempre os católicos celebraram as vésperas dos dias santos. Com oração, jejum e abstinência, para mortificar os sentidos e celebrar a festa de forma mais piedosa. Depois também há aqueles bons costumes portugueses, como as crianças pedirem o pão-por-Deus pelas ruas, já no dia de Todos-os-Santos.
– Sim, entendo e concordo com o que dizes. Mas agora terei de ir. Obrigado e até uma próxima.
– De nada. Até qualquer dia, quando Deus quiser.

1 comentário:

Anónimo disse...

Esse diálogo também o tive na minha própria cabeça pensado sobre este evento. Obrigado pela partilha.