Sendo o grande Rei Dom Afonso Henriques já de setenta e um anos de idade, assim andava envolto nas facções militares contra os infiéis, como se estivera no ardor dos primeiros anos. No de 1165 conquistou a Vila de Sesimbra, fortíssima então; E quando já estava capitulando, destacou das suas tropas sessenta de Cavalo e um pequeno esquadrão de Infantes, com intento de dar uma vista ao Castelo de Palmela, naqueles tempos inexpugnável. Vinha pelo mesmo caminho a socorrer Sesimbra, o Rei Mouro de Badajoz, e trazia quatro mil de Cavalo e sessenta mil de pé; E como os inimigos entendiam que o nosso Rei estava ainda sobre Sesimbra, nesta consideração marchavam sem ordem e sem temor de algum acometimento. Viu El-Rei aquela multidão tumultuária e confusa, e logo se inflamou em tão elevados e generosos brios, que dando de esporas ao cavalo, enristando a lança, mandou aos seus que o seguissem. Só a resolução, neste caso, merecia elogios imortais; Mas o sucesso assim correspondeu a ela, que, postos os Mouros em confusão, entendendo que tinham sobre si todo o poder dos Portugueses, voltaram as costas, e tropeçando uns em outros, foram destroçados inteiramente. Sucedeu esta milagrosa vitória neste dia [21 de Fevereiro], no ano acima referido, e pouco depois, se rendeu o Castelo de Palmela, mais à fama de tão ilustre feito, que aos impulsos de alguma expugnação.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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