Rossi, arqueológo célebre e autor da Roma Subterrânea, acompanhava certo dia, um sábio professor da Universidade de Oxford, nas catacumbas de Santa Priscila.
Chegando a uma sala subterrânea, cujo tecto era adornado de pinturas admiravelmente conservadas, perguntou o sábio Rossi ao estrangeiro:
Sabereis fixar-me, aproximadamente, a data desta pintura?
Sei a de Pompeia, respondeu o doutor inglês, estudei-lhe seus frescos; por eles julgo ser esta a pintura de igual época.
Tendes razão. As pinturas de Pompeia e as das catacumbas são irmãs, e, por conseguinte, temos diante de nós, um monumento do primeiro século.
Ainda falava e já baixava a luz que alumiava, para mostrar ao doutor protestante, na parede lateral, uma delicada pintura, representando a Virgem Santíssima com o Menino Jesus em seus braços.
Olhai, lhe disse Rossi, reconheceis esta imagem?
É o retrato de Maria, respondeu o protestante.
Muito bem! Há três meses, continuou Rossi, estava esta galeria inteiramente obstruída de areia, uso praticado pelos primeiros cristãos, depois de haverem enchido todos os sepulcros de alguma galeria. Temos, pois, diante de nós, um monumento da Igreja primitiva, que testemunha a antiguidade do culto à Virgem Santíssima.
O doutor protestante ficou muito tempo silencioso; examinando detidamente à luz de seu archote uma bela pintura recentemente desenterrada.
Por fim, levantando a cabeça, quebrou o silêncio com estas breves palavras, que encerram todas as peripécias de uma luta interior travada no íntimo da alma:
'Antiqua superstitionum semina' – Velhas sementes de superstições.
Melhor seria, lhe tornou Rossi, que dissésseis com S. Cipriano: 'Tenebrae sole lucidiores' – Ó trevas mais luminosas que o sol!
O golpe foi fundo, porque a prova era convincente, e o inglês não ousou replicar.
Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 13, Janeiro de 1896.