Nascimento d'El-Rei Dom Sebastião


No mesmo dia [20 de Janeiro], ano de 1551, nasceu em Lisboa El-Rei Dom Sebastião, filho do Príncipe Dom João e da Princesa Dona Joana. Sobrevieram as dores à Princesa pela meia-noite, e logo a Cidade toda se comoveu, e sem detença se fizeram públicas preces pelo bom sucesso do parto, que sucedeu pelas oito horas da manhã; Uma velha, algumas horas antes, entrou em São Domingos, e fez assentar no Livro da Confraria do Senhor Jesus ao Príncipe Dom Sebastião, antevendo (como mostrou o efeito) o nome e o sexo do mesmo Príncipe, que ainda não era nascido naquela hora.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Perseguição maçónica a Dona Carlota e Dom Miguel


aqui tinha referido a perseguição criminosa feita à Rainha D. Carlota e ao Infante D. Miguel, assunto que é da maior importância, e que agora aprofundo mais um pouco:

Não são destituídos de interesse, para a questão, alguns artigos das Instruções Maçónicas do Grande Oriente Espanhol-Egípcio.
Art.º 3. Os franco-mações, nossos irmãos de Portugal, devem trabalhar para a separação de Dom João VI de sua Esposa. Devem com o maior cuidado vigiar o comportamento e a vida íntima da Rainha, assim como trabalhar por conhecer todas as conversações entre Dom Miguel e sua Mãe. Contudo é necessário que isto se faça com precauções extremas e com muita perspicácia, pois é indispensável que sejamos informados de tudo o que se passa.
Art.º 4. Deve-se procurar o meio de abrir todas as cartas da Rainha, a fim de conhecer as suas relações e de copiar delas tudo o que possa ter algum interesse para a Ordem. Todas estas informações, cópias, etc. devem ser transmitidas ao Conselho Soberano e ao Grão-Mestre da Ordem.
Art.º 6. Os irmãos devem empregar todos os meios para ganhar o diplomata C. P. (Palmela), que é partidário das Câmaras inglesas. Todos os outros os temos já tornado inimigos da Rainha e de seu Filho. Não temos nada a temer, e, no momento dado, tudo será preparado por nós para o restabelecimento da Constituição.
Art.º 18. Como é um princípio elementar de política, que é necessário dividir para mais facilmente vencer, é necessário trabalhar para semear a discórdia no seio da Família Real e introduzir de uma maneira hábil o espírito de desconfiança no Palácio, de sorte que aí se desconfie de todos, e que aqueles que dirigem o Estado estejam cheios de desassossego e medo, resultando daqui que as suas resoluções terão uma hesitação, o que acontecerá ainda aos homens perspicazes e dotados da melhor vontade a favor da Monarquia.
Lê-se ainda nestas Instruções, em relação ao Infante e à Rainha:
«Se como se deve esperar, a Rainha e seu Filho se opõem à Revolução, aproveitando-se da sua influência, e trabalham contra nós, fazendo demitir o Ministério, será então necessário que todos os diplomatas e todos aqueles que pertencem à Ordem, se reúnam para protestar contra semelhantes medidas e para declarar em face da Europa que a Rainha e o Infante lesam os direitos da legitimidade. Deve-se trabalhar para decidir os representantes estrangeiros a tomarem parte neste acto, em nome dos seus Soberanos. Desta arte os ministros serão conservados ou reintegrados no poder, e, sem o conhecer, Dom João VI preparará tudo para chegar à última vergonha a que o queremos arrastar.
«Se a Rainha e Dom Miguel, que conhecem o perigo que ameaça Portugal, e de que o Rei, enganado, nada sabe, persistem em contraminar o nosso desígnio de destronar o déspota e de restabelecer a Constituição, é de absoluta necessidade decidir o Rei a banir sua Esposa e seu Filho de terra portuguesa, para o que se procurarão pretextos aparentes que justifiquem a proscrição, o que nos será de uma extrema utilidade.»

Hermann Kuhn in «Dom Miguel de Portugal e o seu tempo», 1867.

Dos velhos aos novos arquétipos


Quando os homens são proibidos de honrar um rei, honram milionários, atletas ou estrelas de cinema; até mesmo prostitutas famosas ou gangsters. Pois a natureza espiritual, tal como a natureza corporal, precisa ser alimentada; neguem-lhe comida e ela devorará veneno.

C. S. Lewis in revista «The Spectator», 27 de Agosto de 1943.

O exemplo arrasta


Todos confessam que o exemplo é uma potência poderosa para nos levar ao bem ou ao mal.
E a propósito, ouçamos o que disse um sacerdote em N. Senhora da Anunciação, de Passy, pedindo aos fiéis que o desculpassem por ter vindo tarde presidir ao Rosário:
«Hoje chego tarde à reunião, porque durante o dia tive onze baptizados, sendo cinco agora mesmo; admirado por ver tantos baptizados no mesmo dia e de meninos de todas as idades, perguntei aos pais qual era a causa, e responderam-me: – O procedimento do Czar nos resolveu

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 23, Novembro de 1896.

Lírico, primeiro Conde da Flandres


Lírico, Português, natural de Lisboa, de nobilíssima geração, e da primeira nobreza dos Godos; vendo sua pátria oprimida do Jugo Agareno, passou a França, onde, debaixo das bandeiras de Carlos Martelo, Pepino e Carlos Magno, fez tão esclarecidas proezas, que mereceu os eminentes cargos de Adiantado na terra e Almirante do mar daquele Reino. Crescendo com os prémios as acções, lhe deu Carlos Magno a investidura dos Estados de Flandes, que governou com o título de Conde (e foi o primeiro) por espaço de dezasseis anos, plantando a Fé e desterrando muitas relíquias da gentilidade, que ainda ali permaneciam, e arrancando a perniciosa planta de falsos dogmas, que já ali também começavam a brotar; Razão porque foi chamado Martelo de hereges. Edificando, e consagrando templos a Deus e a sua Mãe Santíssima, e dando a seus Vassalos rectíssimas Leis. Casou com Hermengarda, filha de Gerardo de Rossilhão, da qual houve a Engarano, que lhe sucedeu nos Estados, e foi deles o segundo Conde. Morreu Lírico neste dia [6 de Janeiro], ano de 808, deixando no Mundo ilustre fama, de igualmente virtuoso e valeroso Príncipe.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Falecimento do Príncipe D. João de Portugal


No mesmo dia [2 de Janeiro], em terça-feira, das três para as quatro horas depois do meio-dia, ano de 1554, com dezasseis de idade, morreu o Príncipe Dom João, filho dos Reis Dom João III e Dona Catarina, casado de pouco mais de um ano, com a Princesa Dona Joana, filha do Imperador Carlos V. Não quis a Providência Divina, por seus altíssimos juízos, que Portugal gozasse mais tempo este Príncipe, que o era de grandes esperanças. O nascimento d'El-Rei Dom Sebastião, seu filho póstumo, mitigou de algum modo a dor da sua perda, mas para maior perda e perdurável dor da nação Portuguesa.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Presépio


Presépio. Dá-se este nome à gruta onde nasceu Jesus Cristo, em Belém. É uma gruta irregular, aberta na rocha, no campo, a pouca distância da pequena cidade. Está transformada em igreja [Basílica da Natividade], que não recebe luz do exterior e é iluminada por muitas lâmpadas. Também se dá o nome de presépio ao lugar que os fiéis preparam na igreja, ou em suas casas, para comemorarem, com imagens religiosas, o nascimento do Menino Jesus. [Este é um bom costume cristão iniciado por São Francisco de Assis].

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945.

Raro prodígio em Meliapor, na Índia


Na Cidade de Meliapor, que também se chama de São Tomé, por haver padecido nela o glorioso Apóstolo deste nome, se achou, muitos séculos depois do seu martírio, uma antiga e misteriosa Cruz: É de meio relevo, esculpida com todo o primor em fino mármore branco, borrifada com algumas nódoas de cor de sangue, as pontas rematam em flores de Liz, e sobre a do meio se vê uma bem formada Pomba, que lhe faz como sombra com as azas; Foi descoberta no tempo que a famoso Dom João de Castro governava o Estado da Índia, por cuja ordem se colocou no Altar-mor da Igreja, que já ali havia, dedicada ao mesmo Apóstolo São Tomé; Sucedeu, pois, neste dia [18 de Dezembro], ano de 1558, que ao tempo que se celebrava a Missa maior, e que se cantava o Evangelho, começou a Cruz a mudar de cor, trocando a branca, que tinha de sua natureza, em amarela, logo em negra, e depois em azul celeste, e assim como ia fazendo estas mudanças, começaram aquelas nódoas vermelhas a destilar um humor sanguíneo, em tanta copia, que o Sacerdote banhou nele os Corporais, e a Cruz ficou mais lustrosa, que de antes, com um resplandor maravilhoso, que durou enquanto durou a Missa, e no fim dela se lhe restituiu a sua cor antiga e natural: Repetia-se este raro Prodígio todos os anos, no mesmo dia e na mesma hora em que a Missa se cantava, e se viu repetido em nossos tempos, no ano de 1695, em que o Arábio tomou a Ilha e Fortaleza de Mombaça.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Propriedade e Bens Nacionais


Propriedade – Vocábulo ad libitum. Entre os Republicanos (enquanto estão roubando), não tem nem uso, nem significação. Mas quando têm já guardados os roubos, oh! então já é outra coisa: Propriedade é um nome sagrado. O melhor que tem é que, como os roubados e os ladrões se sucedem uns aos outros continuamente, e muitas vezes sem interrupção, se transformam os segundos nos primeiros, não pode deixar de ser que este Vocábulo esteja num pleito eterno entre os Cidadãos felizes das Repúblicas Democráticas.
(...)
Bens Nacionais – Termo inventado em Língua Democrática para fazer contraste ao vocábulo Propriedade. A violação das propriedades era outrora na Sociedade o emprego dos homens mais viciosos e corrompidos, que nela viviam. Os bens adquiridos por este modo se chamavam bens roubados; e o que os adquiria se chamava ladrão. As Leis deviam não levar muito a bem semelhantes aquisições e deviam o quer que seja a respeito da forca e galés. Mas nos tempos presentes, onde governam os Republicanos, passou isto a ser negócio de Nação, e portanto mudou-se-lhe justamente o nome; e os bens roubados, em termos mais polidos, se chamam bens nacionais. O mais curioso é que se lhes dá este nome, ainda antes de se roubarem aos Proprietários.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 5, 1832.

Eleições Populares


Eleições Populares – Termo ilusório. O Povo tem direito de eleger seus Representantes. O Povo não pode errar nesta eleição, etc. Pois veja Vm. aqui que o Povo de Bolonha, Modena e Ferrara, elegeu os seus, porém não elegeu ateus, malvados, nem franchinotes: ei-lo aqui subitamente declarado incapaz de eleger. Anulam-se as eleições feitas [*], e pelo bem do mesmo Povo, que não sabe o que se faz, tem a tirania maçónica que tomar o improbo trabalho de fazer umas novas e verdadeiras eleições à democrática. – Porém, como é isso! O Povo é que tem o direito de eleger. – Optimamente: porém os tiranos têm o de cassar, e anular as eleições, que o Povo faz. – Senhor, que não concorda a dança com o pandeiro. – Valha-te o diabo por agoureiro! Se não concorda, a Filosofia democrática sabe o segredo de fazer concordar. – Portanto, em resumo de contas, a Soberania do Povo consiste em eleger seus Deputados, e vê-los logo depois anulados, desterrados, e metidos em cárceres? Pois então claro fica e demonstrado que a Soberania do Povo democrático é uma coisa bastante irrisória e fantástica.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 2, 1831.


[*] Ainda hoje, na democrática "União Europeia", se anulam eleições. Parece que o Povo na Roménia votou mal.

Virgem Santíssima nas catacumbas de Roma


Rossi, arqueológo célebre e autor da Roma Subterrânea, acompanhava certo dia, um sábio professor da Universidade de Oxford, nas catacumbas de Santa Priscila.
Chegando a uma sala subterrânea, cujo tecto era adornado de pinturas admiravelmente conservadas, perguntou o sábio Rossi ao estrangeiro:
Sabereis fixar-me, aproximadamente, a data desta pintura?
Sei a de Pompeia, respondeu o doutor inglês, estudei-lhe seus frescos; por eles julgo ser esta a pintura de igual época.
Tendes razão. As pinturas de Pompeia e as das catacumbas são irmãs, e, por conseguinte, temos diante de nós, um monumento do primeiro século.
Ainda falava e já baixava a luz que alumiava, para mostrar ao doutor protestante, na parede lateral, uma delicada pintura, representando a Virgem Santíssima com o Menino Jesus em seus braços.
Olhai, lhe disse Rossi, reconheceis esta imagem?
É o retrato de Maria, respondeu o protestante.
Muito bem! Há três meses, continuou Rossi, estava esta galeria inteiramente obstruída de areia, uso praticado pelos primeiros cristãos, depois de haverem enchido todos os sepulcros de alguma galeria. Temos, pois, diante de nós, um monumento da Igreja primitiva, que testemunha a antiguidade do culto à Virgem Santíssima.
O doutor protestante ficou muito tempo silencioso; examinando detidamente à luz de seu archote uma bela pintura recentemente desenterrada.
Por fim, levantando a cabeça, quebrou o silêncio com estas breves palavras, que encerram todas as peripécias de uma luta interior travada no íntimo da alma:
'Antiqua superstitionum semina' – Velhas sementes de superstições.
Melhor seria, lhe tornou Rossi, que dissésseis com S. Cipriano: 'Tenebrae sole lucidiores' – Ó trevas mais luminosas que o sol!
O golpe foi fundo, porque a prova era convincente, e o inglês não ousou replicar.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 13, Janeiro de 1896.

Venerável Madre Leocádia da Conceição


A Venerável Madre Leocádia da Conceição, Religiosa insigne em virtudes, benemérita filha do Seráfico Patriarca São Francisco, cuja santa Regra professou no Convento de Monchique da Cidade do Porto: A sua vida foi um perfeitíssimo holocausto aos olhos de Deus, uma perene admiração aos dos homens, e uma singular ideia da perfeição Evangélica e Seráfica das suas Religiosas: Correspondeu-lhe o Céu com favores e prerrogativas singulares: Logrou o Dom da Profecia, e o conhecimento das coisas ocultas, e dos segredos do coração; No mesmo dia em que se conseguiu a vitória de Viena de Áustria, a publicou no seu Convento: O mesmo lhe havia sucedido, quando os Portugueses restauraram a Cidade de Évora: Dava milagrosa saúde aos enfermos, e até os irracionais lhe rendiam obediências; Foi, enfim, na aceitação universal de todos os que a trataram, um raro prodígio da Divina Graça. Morreu santissimamente neste dia [1 de Dezembro], ano de 1686, com cento e quatro de idade, e noventa de Religião.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Ajustam-se pazes entre Portugal e Castela


Cortada Castela de tantos golpes, esvaida de tanto sangue que deixou na memorável batalha de Aljubarrota, e em outras que se lhe seguiram, em que sempre foi sangrada e vencida pelo ferro e braço Português; Vendo-se sem as praças e terras que ocupava em Portugal, e que já lhe tomávamos as suas, e fazíamos a guerra dentro em sua própria casa; procurou El-Rei Dom João I de Castela fazer tréguas com El-Rei Dom João I de Portugal, e este lhas concedeu por três anos com condições de honra e vantagem nossa, e se assinou o tratado neste dia [29 de Novembro], ano de 1389. Morto depois o de Castela desgraçadamente, seu filho Dom Henrique, que lhe sucedeu, ratificou as mesmas tréguas no ano de 1393, e as prorrogou por quinze anos. Faltando, porém, à religiosa observância delas, lhe tomámos em represália a Cidade de Badajoz, com que se renovaram as guerras, as quais se concluíram com as pazes de Ayllón de 1411.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Entra Duarte Coelho no Reino de Sião


No mesmo dia [27 de Novembro], ano de 1516, chegou Duarte Coelho de Albuquerque, ilustre Capitão Português, ao Reino de Sião [hoje Tailândia], aonde assentou paz e comércio com aquele poderoso Rei, e arvorou um Padrão com as Armas Reais de Portugal, no lugar mais notável da Cidade Hudiá, que é a Corte e Capital daquele Reino, ou Império, o qual se dilata por espaço de mais de trezentas e trinta léguas, e é abundantíssimo de frutos e riquezas: Pode o Rei pôr em campo um milhão de Soldados, e só na Cidade Hudiá assistem alistados continuamente cinquenta mil.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Bandeiras da rebelião


[É] uma facção, que odiando a glória e honra da Nação, mudou as Bandeiras, o Pavilhão Português, com o qual fizemos tremer a África, a Ásia, e América; é uma facção tão anti-nacional, que substitui aquele Estandarte sempre vencedor, sempre glorioso, por outro, que não sendo o Português, é o da rebelião.

Fonte: «Gazeta de Lisboa», Nº 142, 16 de Junho de 1832.