Bens Nacionais


Bens Nacionais – São em frase Pedreiral todos os que pertencem ao Rei, e à Rainha, aos Infantes, aos Fidalgos, e ao Clero, e depois que todos estes ficassem sumidos pelas mãos dos seus fiéis administradores, seguia-se declarar nacionais todos os bens dos Negociantes e Proprietários, e davam-se cartas patentes aos Sans-culottes Lusitanos, para darem um saque geral, como se praticou no Filosófico e ilustrado reino da França. Quem folgar de ver decifrada esta maranha Pedreiral, consulte os Números 14 e 17 do Punhal dos Corcundas, onde poderá saciar a sua curiosidade.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «O Mastigóforo, prospecto de um dicionário das palavras e frases maçónicas», Nº 1, 1824.

Faz lembrar o camaleão


Dizem que o camaleão toma todas as cores. O governo da República francesa faz lembrar o tal bicharoco: é judeu, protestante, muçulmano... enfim, tudo o que a gente quiser. Agora, diz o Réveil des Vosges, deu 5000 francos aos judeus de Senones, para fazerem as reuniões da sua seita. Provavelmente é para recompensar os serviços de alta traição que têm levado a efeito os refolhados judeus.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 14, Fevereiro de 1896.

Protestante sem réplica


Declamava um protestante contra as imagens dos santos, alegando textos do Antigo Testamento, que as proibiam. Achava-se presente um velho sapateiro, que poucos dias antes ouvira um sermão sobre o assunto, e tão bem o escutara, que nesta ocasião disse mais do que podia saber!
«Senhor pastor, visto que tem tanta devoção pelo Antigo Testamento, que pretende obrigar os cristãos ao que só foi mandado aos judeus, porque não aplica a si a lei que proíbe comer carne de porco, V. que é tão afeiçoado a um bocado de morcela e de presunto, como ao sumo da parreira?»
Não teve o pastor que responder, e embora tivesse, não seria ouvido de ninguém, pelo barulho das risadas que se armou no auditório.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 14, Fevereiro de 1896.

Erecção de quatro Bispados


Neste dia [3 de Novembro], ano de 1534, à instância d’el-Rei Dom João III de Portugal, o Papa Paulo III erigiu em Catedrais a Cidade de Goa, de que foi primeiro Bispo Dom Francisco de Mello; a de Angra, de que foi primeiro Bispo Dom Agostinho Ribeiro, Cónego secular da Congregação de São João Evangelista; a de Cabo Verde, de que foi primeiro Bispo Dom Brás Neto; e a de São Tomé em África, de que foi primeiro Bispo Dom Diogo Ortiz de Vilhegas. Todos quatro sufragâneos ao Arcebispo do Funchal, erecto Metropolitano e Primaz do Oriente, pelo mesmo Papa, preeminência que só teve o seu primeiro Arcebispo Dom Martinho de Portugal.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Pão por Deus


Na vila de Alpedriz, minha terra natal, é costume, assim como talvez em todo o nosso Reino, saírem os rapazes, pela festa de Todos os Santos, a pedir a oferta (chamada aqui pão por Deus) que os lavradores abastados costumam então fazer-lhes, de merendeiras, tremoços, maçãs, nozes, ou outra qualquer fruta, ou coisa semelhante, própria para contentar a rapaziada miúda. Até aqui não temos nada de singular em Alpedriz; mas em que a temos, e não pouco, é no modo porque os rapazes aqui formulam a sua petição, e na praga que dirigem aos lavradores que lhes recusam este mimo, a que se julgam com direito.

PETIÇÃO

Pão, pão por Deus
À mangaróla;
Encham-me o saco,
E vou-me embora.

PRAGA

O gorgulho, gorgulhóte
Lhe dê no pote,
E lhe não deixe farelo
Nem farelóte.

Teotónio José de Figueiredo Costa in «Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1861», 1860.

Diálogo de dois portugueses sobre o "Halloween"


Um diálogo imaginado:

– Então, amigo, estás pronto para celebrar o Halloween?
– Deus me livre! Sou católico e recuso-me a participar nessas bruxarias satânicas!
– Ehh! Calma! O Halloween não é assim como dizes.
– Como não?! O Halloween é o Dia das Bruxas!
– Nada disso. Halloween é apenas a véspera de Todos-os-Santos.
– Acho que deves estar a fazer confusão.
– Não há confusão nenhuma. "Halloween" é só uma palavra inglesa para a vigília ou véspera de Todos-os-Santos, da mesma forma que "Christmas" significa Natal e "Easter" significa Páscoa.
– Hum... Não sei se será assim...
– É como te digo, o termo "Halloween" é inglês antigo e vem da contracção de "All Hallows Evening", que se traduz literalmente por "Véspera de Todos-os-Santos".
– Mas isso será apenas uma questão semântica.
– Não é apenas um pormenor de semântica; é a realidade essencial. A origem e a substância da véspera de Todos-os-Santos é católica. A festa é católica. Foi fundada pela Igreja e a Igreja nunca a deixou de celebrar.
– Mas se Halloween é a designação inglesa... então não deve ser católico.
– O dia e a véspera de Todos-os-Santos sempre foram católicos, independentemente do rompimento dos anglicanos com a Igreja de Cristo. O ofício litúrgico de Halloween vem no Breviário Romano para os católicos de língua inglesa. Refiro concretamente uma edição de 1908, insuspeita de qualquer inovação pós-Conciliar.
– De qualquer das formas, isso são coisas de anglófonos. Nós somos portugueses. Não podemos favorecer a importação de modas estrangeiras.
– Os portugueses, como católicos, sempre celebraram a véspera de Todos-os-Santos. É disso que se trata. Mas concordo que não devemos importar costumes estrangeiros, nem designações estrangeiras para uma festa católica que sempre celebrámos.
– Mas o chamado Halloween tem coisas pouco católicas, não achas?
– Suponho que te estejas a referir a certos festejos mundanos de importação norte-americana, a que incorrectamente identificam como "Halloween".
– Sim, é essa festa das bruxas que associam ao Halloween. É horrível.
– Não conheço a razão desses costumes profanos, que são estranhos a Portugal. Mas se hoje a sociedade não é católica, não podes esperar que celebre a festa de forma católica. Esse é um drama universal. O mesmo se passa com o Natal ou a Páscoa. Contudo, o Natal não deixa de ser Natal, porque o mundo moderno celebra um pseudo-Natal em vez do verdadeiro Natal. Halloween é apenas véspera de Todos-os-Santos em língua inglesa, mesmo que hoje lhe dêem uma aparência de outra coisa qualquer.
– Certo, mas com o Natal e a Páscoa a coisa não é tão macabra...
– Quem sabe, porém, se não serão mais enganadores para as almas mais bem-intencionadas. O pior erro é aquele que tem maior aparência de verdade.
– Sim, mas os modernos festejos de Halloween são claramente diabólicos. Vê-se um elogio ao Mal.
– São de facto costumes estranhos a Portugal, como já disse, mas lembra-te que no nosso Entrudo também há figuras diabólicas que assustam pessoas pelas ruas e que depois são simbolicamente queimadas na véspera da Quarta-Feira de Cinzas – a queima do Entrudo – dando-se início à Quaresma. Ou seja, há todo um significado espiritual nessas diabruras que antecedem a purificação quaresmal. É possível que antigamente, nos países de tradição inglesa, essas demostrações na véspera de Todos-os-Santos tivessem um significado religioso transcendente, como tem o nosso tradicional Entrudo. Mas desvinculados do Catolicismo, esses costumes perdem sentido e corrompem-se. A sociedade perdeu a noção religiosa e transcendente, ficando apenas na superfície uma prática meramente humana, agravada pela corrupção moral e intelectual.
– Por isso mesmo não podemos defender esses festejos ditos de "Halloween".
– Nem eu os defendo. Não são da nossa Tradição. E essas modas só entraram em Portugal nos últimos anos por influência mediática e cultural norte-americana.
– Inclusive o dia 31 de Outubro é conhecido por se fazerem muitos sacrilégios e profanações.
– Mais uma razão para não deixarmos que uma festa católica caia nas mãos do Inimigo. Temos obrigação de defendê-la e celebrá-la correctamente.
– Mas como então fazer isso?
– Como sempre os católicos celebraram as vésperas dos dias santos. Com oração, jejum e abstinência, para mortificar os sentidos e celebrar a festa de forma mais piedosa. Depois também há aqueles bons costumes portugueses, como as crianças pedirem o pão-por-Deus pelas ruas, já no dia de Todos-os-Santos.
– Sim, entendo e concordo com o que dizes. Mas agora terei de ir. Obrigado e até uma próxima.
– De nada. Até qualquer dia, quando Deus quiser.

Bizarro sucesso nas portas de Marrocos


Diogo Lopes, Alcaide de Safim, com quatrocentos e trinta e sete de cavalo, chegou neste dia [30 de Outubro], ignoramos o ano, a uns aduares pouco mais de uma légua de Marrocos [Marraquexe], onde matou muitos Mouros, cativou cinquenta e três, arrebanhou dez mil ovelhas, e trezentos e trinta camelos. Posta em seguro esta preza, foram alguns dos nossos Cavaleiros bater com os cotos das lanças nas portas de Marrocos, bradando: Viva El-Rei Dom Manuel Nosso Senhor. Foi tal o susto da Cidade, que o seu Rei em pessoa, com a maior parte da sua gente, saiu aos nossos Cavaleiros, os quais se defenderam de maneira, que matando quatro dos Mouros, mais bizarros, que se adiantaram a acometer os nossos, se recolheram estes aos Aduares, onde os esperavam os mais, e daí a Safim com a referida preza, onde foi muito celebrado este sucesso.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Desordem e caos na República


Há 100 anos, tal como hoje, era assim:

Às vezes, mesmo antevendo a catástrofe para que nos encaminhamos com aquela fúria singular de quem tem medo de não chegar a tempo, sorrimos de desdém, ouvindo a gritaria, a choramingaria, os protestos, os discursos, as ameaças, as reclamações, que surgem nos jornais, nas representações, nos parlamentos, nas salas, nas ruas, em toda a parte. Porque tudo isso, gritos, choradeiras, protestos, discursos, ameaças, reclamações, – é poeira vazia, é linguagem de papagaio, e tolice... Gritam, protestam, contra o assassinato e o roubo, contra a injúria e a calúnia, mas fazem muralha, quando alguém, audaz, se ergue contra a origem do assassinato que os aflige, do roubo que os amedronta, da injúria que os vexa e da calúnia que os irrita.
Acabo de percorrer a maior parte dos comentários que se fizeram ao acontecimento trágico de quarta-feira passada, em que um agente da ordem pública e social sucumbiu às mãos de um inimigo da mesma ordem, – acontecimento que se deu no mesmo dia em que pela terceira vez se adiou o julgamento de outro inimigo da ordem social. Palavras, palavras, palavras – e nem um conselho positivo, e nem uma solução positiva! Tocar na arca santa da instituição do júri criminal? Pedir a instituição dos processos sumários militares? Esquecer tudo, tudo e obrigar o Governo a defender a Ordem, e impor a Ordem, com a Constituição ou contra a Constituição, com o Parlamento ou contra o Parlamento, com a Lei ou contra a Lei? Credo! Seria magoar a Democracia. Seria ofender a Democracia.
Diante de uma casa a arder, não se discutem teorias: apaga-se o fogo, a bem ou a mal. A sociedade portuguesa está a arder. Acudam-lhe enquanto é tempo. Arrumem para o lado os incendiários ou os coniventes, encontrem-se eles onde se encontrarem, – no Parlamento, nos jornais, nas Secretarias, nas ruas e nas alfurjas – e salvem isto da derrocada!

Alfredo Pimenta in jornal «A Época», Nº 1749, 1 de Junho de 1924.

Da falsa educação e a corrupção da infância


Das estatísticas criminais em França, se colhe que dentro de 20 anos, o número dos criminosos menores triplicou e subiu de 11.000 a 30.000; em 50 anos, de 1836 a 1889, o número dos suicídios dos mesmos quadruplicou. E os crimes e os suicídios se vão multiplicando mais, ao passo que a desmoralização avança e se vai encarnando na sociedade. Esta desmoralização é devida em sua maior parte à irreligiosa e falsa educação que é subministrada pelas escolas leigas em França. É esta a funesta influência da educação sem Deus.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 1º Ano, Nº 12, Dezembro de 1895.

Beato Gonçalo de Lagos


O Beato Frei Gonçalo de Lagos, natural da Cidade deste nome, Religioso da Sagrada Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, floresceu (vai por três séculos) em virtudes e milagres, que lhe adquiriram cultos e venerações de Santo, por geral aclamação do povo e consentimento dos Prelados, que era o estilo das Beatificações antigas; A famosa Vila de Torres Vedras o elegeu Padroeiro, e tem com ele singular devoção, pelos prodigiosos efeitos, que cada dia experimenta, recorrendo ao seu patrocínio; Foi seu ditoso trânsito na mesma Vila, neste dia [15 de Outubro], ano de 1422. Jaz no Convento, que nela tem a sua Ordem.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

O sangue cristão e a "eucaristia" judaica


Com que fim procuram os judeus o sangue cristão? Já que a raça maldita tão de mãos dadas tem estado sempre com a franco-maçonaria, metemo-la também no Reinado das Trevas: e vamos responder com El Eco Franciscano a esta questão, dizendo em poucas palavras o que aquela boa revista diz em uma extensa correspondência; escrita de Jerusalém.
É certo que os judeus assassinam crianças, depois de as terem roubado à vigilância de seus pais, prova-se com os argumentos de muitos e ruidosos processos, onde semelhantes crimes foram comprovados e castigados; havendo, além disso, confissões livres de alguns neo-convertidos. O facto, pois, é inegável. A questão é saber qual o motor de semelhantes crimes. O povo, que naturalmente julga pelo que vê, atribui tudo a um ódio de séculos que a nação maldita nutre contra os cristãos. Que esse ódio existe, é indubitável; mas será essa a causa motriz do crime?
Rocca d'Adria, escritor católico muito célebre, e convertido do judaísmo, onde era tido por um dos primeiros doutores da sua seita, antes de se converter, responde com uma formal negativa. Em umas memórias, a que deu o título de – A Eucaristia e o Rito Pascoal Hebraico moderno: Revelações – demonstra com revelações inéditas e fidedignas, e com autoridades tiradas do Talmude e de outros livros mosaicos, que os judeus extraem o sangue dos cristãos, fazendo com ele e com farinha, uma espécie de mistura, para satisfazer um rito e uma crença supersticiosa que eles têm no Redentor e na sua vinda.
Eis as palavras daquele autor, que bem se pode dizer testemunha autêntica: «Os rabinos hebreus, suspeitando a divindade de Jesus Cristo, e não tendo, apesar disso, coragem para confessar publicamente a sua crença, consignaram em seus livros a vinda do Messias, e impuseram a Israel uma imitação da Comunhão Eucarística, certos (os rabinos), absolutamente certos de que sem ela (a Eucaristia) não é possível conseguir a vida eterna.»
Simplesmente horroroso!
Esta afirmativa tão categórica, tão formal e tão autorizada, vai mesmo sem comentários. Em todo o caso, vejam os pais de família que moram perto de famílias judias, se têm cuidado com seus filhos; não seja caso que o sangue deles vá ajudar a digestão a esses miseráveis.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 13, Janeiro de 1896.

Reis de Portugal e Leão celebram Pazes em 1168


Ficou lastimado o valeroso Rei Dom Afonso Henriques, quando se viu em estado tão alheio de sua grandeza, pois sobre tantas vitórias e triunfos passados, descaindo ao presente daquele alto ponto da prosperidade que até então o acompanhara, estava não só preso, mas sua vida posta em grande perigo. El-Rei Dom Fernando não pode negar a compaixão devida a espectáculo tão triste, antes como Príncipe dotado de prudência e humanidade não só usou temperadamente da vitória, mas tratou a El-Rei Dom Afonso com grande cortesia e regalo, e não menor cuidado de sua saúde do que pudera ter o Infante Dom Sancho, filho do próprio Rei Dom Afonso. E porque o quebrantamento da perna d'El Rei pedia remédio com brevidade, o fez aplicar logo; e com a mesma diligência se foi continuando todo o tempo que El-Rei esteve em suas terras, a primeira das quais diz que foi Zamora e depois Ávila, donde cobrada alguma melhoria e firmados os contractos das pazes se tornou para seu Reino.

Frei António Brandão in «Terceira parte da Monarquia Lusitana: Que contém a História de Portugal desde o Conde Dom Henrique, até todo o reinado d'El-Rei Dom Afonso Henriques», 1632.

Ao Serafim de Assis


Como louvarei eu, Serafim Santo,
Tanta humildade, tanta penitência,
Castidade e pobreza e paciência,
Com este meu inculto e rude canto.

Argumento que às musas põe espanto,
Que faz muda a grandíloqua eloquência.
Oh imagem que a divina Providência
De si viva em vós faz para bem tanto!

Fostes de santos uma rara mina;
Almas de mil a mil ao céu mandastes
Do mundo, que perdido reformastes.

E não roubáveis só com a doutrina
As vontades mortais, mas a divina;
Pois os seus Rubis cinco lhe roubastes!

Camões

Descoberta da Cidade de Malaca


Neste dia [28 de Setembro], ano de 1509, descobriu Diogo Lopes de Sequeira a famosíssima Cidade de Malaca, e foi esta a primeira vez que as bandeiras Católicas e Portuguesas foram vistas naquele porto: Os Mouros armaram várias traições, a fim de destruírem os Portugueses, mas de todas escaparam com valor e com fortuna, reservando-se a conquista daquele célebre Empório Oriental para o Grande Afonso de Albuquerque, como em outros dias dizemos.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

São Marcos João


São Marcos, por sobrenome João, primo de São Bernabé, Discípulo dos dois primeiros e maiores lumes da Igreja, São Pedro e São Paulo, nomeado muitas vezes nas Epístolas do mesmo Santo e no livro dos Actos dos Apóstolos, mártir glorioso de Cristo; Não só ilustrou com a sua pregação o nosso Portugal, onde esteve algum tempo, mas, tempos depois, o enriqueceu com o preciosíssimo tesouro do seu corpo. Jaz na Cidade de Braga em uma Capela antiquíssima da sua invocação, sita no Campo chamado dos Remédios, em um sepulcro de jaspe; Por sua intercessão obra o Senhor muitos milagres.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Caso de um assédio republicano ao Padre Cruz


«Uma vez em Alfama...»
E o Padre Cruz não nos deixou acabar a frase.
«É uma nuvem, dolorosamente negra, na paisagem da minha vida! Já lá vão tantos anos. A República chegara, num alvoroço. Vivia-se a hora trágica da indecisão. Nas ruas da cidade, numa esquina, do escuro de um portal, a cilada, o atentado, espreitavam sinistramente.
«Eu vinha dos lados da Sé. Nunca deixei de vir à rua – mesmo quando as bombas rebentavam à porta das igrejas. Meti ali ao coração de Alfama – ia ver um doente, coitadinho. Levava-lhe qualquer coisa... Nisto, oiço uma gritaria. Eu não percebia bem. Era de noite e as luzes estavam apagadas. A algazarra avizinhou-se e, em alta grita, ecoou sonora esta sentença: Mata-se o padre! Mata-se o padre!
«O resto – diz o Padre Cruz, com a voz ainda trémula da emoção – toda a gente sabe... e não tem importância!»
O leitor que se não recorde, deve querer saber. Por isso contamos esse episódio do 14 de Maio [de 1915]. A turba cresceu. Havia furor – o ódio à Igreja era tremendo. Faias gingando, ébrios, abeiraram-se do Padre Cruz. Fizeram-lhe um cerco. Mas nenhum, dominado por aquele olhar de doçura, se resolvia a tocar-lhe. Padre Cruz, no meio deles, sereno, esperava com resignação a hora do seu sacrifício. Neste entretanto, um mais afeito, gritou: «Estamos a adorá-lo!?». A turba animou-se, pareceu despertar de ódio. Passaram, neste momento, uns marinheiros, de espingarda, na busca pelos bairros suspeitos. Viram a aglomeração, chegaram-se mais ao pé, mais ainda, até descobrirem o rosto do Padre. E logo gritaram: «Alto! É o Padre Cruz!»
Então os ébrios, debaixo da cegueira do álcool, tiveram um «Ah!» de espanto.
E mesmo ali pediram perdão – alguns a chorar. Todos o conheciam [da cadeia] do Limoeiro!

Fonte: «Vida Mundial Ilustrada: Semanário Gráfico de Actualidades», Ano II, Nº 56, 11 de Junho de 1942.