Presépio


Presépio. Dá-se este nome à gruta onde nasceu Jesus Cristo, em Belém. É uma gruta irregular, aberta na rocha, no campo, a pouca distância da pequena cidade. Está transformada em igreja [Basílica da Natividade], que não recebe luz do exterior e é iluminada por muitas lâmpadas. Também se dá o nome de presépio ao lugar que os fiéis preparam na igreja, ou em suas casas, para comemorarem, com imagens religiosas, o nascimento do Menino Jesus. [Este é um bom costume cristão iniciado por São Francisco de Assis].

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945.

Raro prodígio em Meliapor, na Índia


Na Cidade de Meliapor, que também se chama de São Tomé, por haver padecido nela o glorioso Apóstolo deste nome, se achou, muitos séculos depois do seu martírio, uma antiga e misteriosa Cruz: É de meio relevo, esculpida com todo o primor em fino mármore branco, borrifada com algumas nódoas de cor de sangue, as pontas rematam em flores de Liz, e sobre a do meio se vê uma bem formada Pomba, que lhe faz como sombra com as azas; Foi descoberta no tempo que a famoso Dom João de Castro governava o Estado da Índia, por cuja ordem se colocou no Altar-mor da Igreja, que já ali havia, dedicada ao mesmo Apóstolo São Tomé; Sucedeu, pois, neste dia [18 de Dezembro], ano de 1558, que ao tempo que se celebrava a Missa maior, e que se cantava o Evangelho, começou a Cruz a mudar de cor, trocando a branca, que tinha de sua natureza, em amarela, logo em negra, e depois em azul celeste, e assim como ia fazendo estas mudanças, começaram aquelas nódoas vermelhas a destilar um humor sanguíneo, em tanta copia, que o Sacerdote banhou nele os Corporais, e a Cruz ficou mais lustrosa, que de antes, com um resplandor maravilhoso, que durou enquanto durou a Missa, e no fim dela se lhe restituiu a sua cor antiga e natural: Repetia-se este raro Prodígio todos os anos, no mesmo dia e na mesma hora em que a Missa se cantava, e se viu repetido em nossos tempos, no ano de 1695, em que o Arábio tomou a Ilha e Fortaleza de Mombaça.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Propriedade e Bens Nacionais


Propriedade – Vocábulo ad libitum. Entre os Republicanos (enquanto estão roubando), não tem nem uso, nem significação. Mas quando têm já guardados os roubos, oh! então já é outra coisa: Propriedade é um nome sagrado. O melhor que tem é que, como os roubados e os ladrões se sucedem uns aos outros continuamente, e muitas vezes sem interrupção, se transformam os segundos nos primeiros, não pode deixar de ser que este Vocábulo esteja num pleito eterno entre os Cidadãos felizes das Repúblicas Democráticas.
(...)
Bens Nacionais – Termo inventado em Língua Democrática para fazer contraste ao vocábulo Propriedade. A violação das propriedades era outrora na Sociedade o emprego dos homens mais viciosos e corrompidos, que nela viviam. Os bens adquiridos por este modo se chamavam bens roubados; e o que os adquiria se chamava ladrão. As Leis deviam não levar muito a bem semelhantes aquisições e deviam o quer que seja a respeito da forca e galés. Mas nos tempos presentes, onde governam os Republicanos, passou isto a ser negócio de Nação, e portanto mudou-se-lhe justamente o nome; e os bens roubados, em termos mais polidos, se chamam bens nacionais. O mais curioso é que se lhes dá este nome, ainda antes de se roubarem aos Proprietários.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 5, 1832.

Eleições Populares


Eleições Populares – Termo ilusório. O Povo tem direito de eleger seus Representantes. O Povo não pode errar nesta eleição, etc. Pois veja Vm. aqui que o Povo de Bolonha, Modena e Ferrara, elegeu os seus, porém não elegeu ateus, malvados, nem franchinotes: ei-lo aqui subitamente declarado incapaz de eleger. Anulam-se as eleições feitas [*], e pelo bem do mesmo Povo, que não sabe o que se faz, tem a tirania maçónica que tomar o improbo trabalho de fazer umas novas e verdadeiras eleições à democrática. – Porém, como é isso! O Povo é que tem o direito de eleger. – Optimamente: porém os tiranos têm o de cassar, e anular as eleições, que o Povo faz. – Senhor, que não concorda a dança com o pandeiro. – Valha-te o diabo por agoureiro! Se não concorda, a Filosofia democrática sabe o segredo de fazer concordar. – Portanto, em resumo de contas, a Soberania do Povo consiste em eleger seus Deputados, e vê-los logo depois anulados, desterrados, e metidos em cárceres? Pois então claro fica e demonstrado que a Soberania do Povo democrático é uma coisa bastante irrisória e fantástica.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 2, 1831.


[*] Ainda hoje, na democrática "União Europeia", se anulam eleições. Parece que o Povo na Roménia votou mal.

Virgem Santíssima nas catacumbas de Roma


Rossi, arqueológo célebre e autor da Roma Subterrânea, acompanhava certo dia, um sábio professor da Universidade de Oxford, nas catacumbas de Santa Priscila.
Chegando a uma sala subterrânea, cujo tecto era adornado de pinturas admiravelmente conservadas, perguntou o sábio Rossi ao estrangeiro:
Sabereis fixar-me, aproximadamente, a data desta pintura?
Sei a de Pompeia, respondeu o doutor inglês, estudei-lhe seus frescos; por eles julgo ser esta a pintura de igual época.
Tendes razão. As pinturas de Pompeia e as das catacumbas são irmãs, e, por conseguinte, temos diante de nós, um monumento do primeiro século.
Ainda falava e já baixava a luz que alumiava, para mostrar ao doutor protestante, na parede lateral, uma delicada pintura, representando a Virgem Santíssima com o Menino Jesus em seus braços.
Olhai, lhe disse Rossi, reconheceis esta imagem?
É o retrato de Maria, respondeu o protestante.
Muito bem! Há três meses, continuou Rossi, estava esta galeria inteiramente obstruída de areia, uso praticado pelos primeiros cristãos, depois de haverem enchido todos os sepulcros de alguma galeria. Temos, pois, diante de nós, um monumento da Igreja primitiva, que testemunha a antiguidade do culto à Virgem Santíssima.
O doutor protestante ficou muito tempo silencioso; examinando detidamente à luz de seu archote uma bela pintura recentemente desenterrada.
Por fim, levantando a cabeça, quebrou o silêncio com estas breves palavras, que encerram todas as peripécias de uma luta interior travada no íntimo da alma:
'Antiqua superstitionum semina' – Velhas sementes de superstições.
Melhor seria, lhe tornou Rossi, que dissésseis com S. Cipriano: 'Tenebrae sole lucidiores' – Ó trevas mais luminosas que o sol!
O golpe foi fundo, porque a prova era convincente, e o inglês não ousou replicar.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 13, Janeiro de 1896.

Venerável Madre Leocádia da Conceição


A Venerável Madre Leocádia da Conceição, Religiosa insigne em virtudes, benemérita filha do Seráfico Patriarca São Francisco, cuja santa Regra professou no Convento de Monchique da Cidade do Porto: A sua vida foi um perfeitíssimo holocausto aos olhos de Deus, uma perene admiração aos dos homens, e uma singular ideia da perfeição Evangélica e Seráfica das suas Religiosas: Correspondeu-lhe o Céu com favores e prerrogativas singulares: Logrou o Dom da Profecia, e o conhecimento das coisas ocultas, e dos segredos do coração; No mesmo dia em que se conseguiu a vitória de Viena de Áustria, a publicou no seu Convento: O mesmo lhe havia sucedido, quando os Portugueses restauraram a Cidade de Évora: Dava milagrosa saúde aos enfermos, e até os irracionais lhe rendiam obediências; Foi, enfim, na aceitação universal de todos os que a trataram, um raro prodígio da Divina Graça. Morreu santissimamente neste dia [1 de Dezembro], ano de 1686, com cento e quatro de idade, e noventa de Religião.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Ajustam-se pazes entre Portugal e Castela


Cortada Castela de tantos golpes, esvaida de tanto sangue que deixou na memorável batalha de Aljubarrota, e em outras que se lhe seguiram, em que sempre foi sangrada e vencida pelo ferro e braço Português; Vendo-se sem as praças e terras que ocupava em Portugal, e que já lhe tomávamos as suas, e fazíamos a guerra dentro em sua própria casa; procurou El-Rei Dom João I de Castela fazer tréguas com El-Rei Dom João I de Portugal, e este lhas concedeu por três anos com condições de honra e vantagem nossa, e se assinou o tratado neste dia [29 de Novembro], ano de 1389. Morto depois o de Castela desgraçadamente, seu filho Dom Henrique, que lhe sucedeu, ratificou as mesmas tréguas no ano de 1393, e as prorrogou por quinze anos. Faltando, porém, à religiosa observância delas, lhe tomámos em represália a Cidade de Badajoz, com que se renovaram as guerras, as quais se concluíram com as pazes de Ayllón de 1411.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Entra Duarte Coelho no Reino de Sião


No mesmo dia [27 de Novembro], ano de 1516, chegou Duarte Coelho de Albuquerque, ilustre Capitão Português, ao Reino de Sião [hoje Tailândia], aonde assentou paz e comércio com aquele poderoso Rei, e arvorou um Padrão com as Armas Reais de Portugal, no lugar mais notável da Cidade Hudiá, que é a Corte e Capital daquele Reino, ou Império, o qual se dilata por espaço de mais de trezentas e trinta léguas, e é abundantíssimo de frutos e riquezas: Pode o Rei pôr em campo um milhão de Soldados, e só na Cidade Hudiá assistem alistados continuamente cinquenta mil.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Bandeiras da rebelião


[É] uma facção, que odiando a glória e honra da Nação, mudou as Bandeiras, o Pavilhão Português, com o qual fizemos tremer a África, a Ásia, e América; é uma facção tão anti-nacional, que substitui aquele Estandarte sempre vencedor, sempre glorioso, por outro, que não sendo o Português, é o da rebelião.

Fonte: «Gazeta de Lisboa», Nº 142, 16 de Junho de 1832.

Conquista e destruição de Repelim, na Índia


No mesmo dia [22 de Novembro], ano de 1536, havendo desembarcado Martim Afonso de Sousa com quase mil homens, os mais deles escolhidos, na Ilha de Repelim, não obstante a valerosa resistência que lhe fez o Rei da mesma Ilha, o desbaratou, e retirando-se para a Cidade, onde tinha seis mil homens de armas, foi entrada pelos nossos, posto o Rei em fugida com quantos a defendiam; Custou-nos esta vitória doze homens ordinários e dois Cavaleiros. A Cidade, depois de saqueada, foi reduzida a cinzas.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Abusos


Abusos – A própria noção etimológica da palavra assaz os condena, porém no Dicionário Maçónico tem uma significação amplíssima, e nós podemos estar lembrados de que o melhor da nossa legislação parecia abuso e musgo aos nossos Pseudo-reformadores. É certo que na prática dos deveres Cristãos, se podem introduzir facilmente abusos, que é necessário corrigir; porém os abusos por este lado estendem-se no Dicionário dos Pedreiros até às coisas mais santas e obrigatórias, que segundo eles devem entrar neste número, e por isso eles tratam de abuso, por exemplo, a obrigação de nos confessarmos ao menos uma vez cada ano, e para eles um homem desabusado, é um homem que despreza todas as leis da Igreja, e vive isento de prejuízos e fanatismo, que hão-de explicar-se nos respectivos lugares.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «O Mastigóforo: Prospecto de um Dicionário das Palavras e Frases Maçónicas», Nº 1, 1824.

Bens Nacionais


Bens Nacionais – São em frase Pedreiral todos os que pertencem ao Rei, e à Rainha, aos Infantes, aos Fidalgos, e ao Clero, e depois que todos estes ficassem sumidos pelas mãos dos seus fiéis administradores, seguia-se declarar nacionais todos os bens dos Negociantes e Proprietários, e davam-se cartas patentes aos Sans-culottes Lusitanos, para darem um saque geral, como se praticou no Filosófico e ilustrado reino da França. Quem folgar de ver decifrada esta maranha Pedreiral, consulte os Números 14 e 17 do Punhal dos Corcundas, onde poderá saciar a sua curiosidade.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «O Mastigóforo: Prospecto de um Dicionário das Palavras e Frases Maçónicas», Nº 1, 1824.

Faz lembrar o camaleão


Dizem que o camaleão toma todas as cores. O governo da República francesa faz lembrar o tal bicharoco: é judeu, protestante, muçulmano... enfim, tudo o que a gente quiser. Agora, diz o Réveil des Vosges, deu 5000 francos aos judeus de Senones, para fazerem as reuniões da sua seita. Provavelmente é para recompensar os serviços de alta traição que têm levado a efeito os refolhados judeus.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 14, Fevereiro de 1896.

Protestante sem réplica


Declamava um protestante contra as imagens dos santos, alegando textos do Antigo Testamento, que as proibiam. Achava-se presente um velho sapateiro, que poucos dias antes ouvira um sermão sobre o assunto, e tão bem o escutara, que nesta ocasião disse mais do que podia saber!
«Senhor pastor, visto que tem tanta devoção pelo Antigo Testamento, que pretende obrigar os cristãos ao que só foi mandado aos judeus, porque não aplica a si a lei que proíbe comer carne de porco, V. que é tão afeiçoado a um bocado de morcela e de presunto, como ao sumo da parreira?»
Não teve o pastor que responder, e embora tivesse, não seria ouvido de ninguém, pelo barulho das risadas que se armou no auditório.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 2º Ano, Nº 14, Fevereiro de 1896.

Erecção de quatro Bispados


Neste dia [3 de Novembro], ano de 1534, à instância d’el-Rei Dom João III de Portugal, o Papa Paulo III erigiu em Catedrais a Cidade de Goa, de que foi primeiro Bispo Dom Francisco de Mello; a de Angra, de que foi primeiro Bispo Dom Agostinho Ribeiro, Cónego secular da Congregação de São João Evangelista; a de Cabo Verde, de que foi primeiro Bispo Dom Brás Neto; e a de São Tomé em África, de que foi primeiro Bispo Dom Diogo Ortiz de Vilhegas. Todos quatro sufragâneos ao Arcebispo do Funchal, erecto Metropolitano e Primaz do Oriente, pelo mesmo Papa, preeminência que só teve o seu primeiro Arcebispo Dom Martinho de Portugal.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Pão por Deus


Na vila de Alpedriz, minha terra natal, é costume, assim como talvez em todo o nosso Reino, saírem os rapazes, pela festa de Todos os Santos, a pedir a oferta (chamada aqui pão por Deus) que os lavradores abastados costumam então fazer-lhes, de merendeiras, tremoços, maçãs, nozes, ou outra qualquer fruta, ou coisa semelhante, própria para contentar a rapaziada miúda. Até aqui não temos nada de singular em Alpedriz; mas em que a temos, e não pouco, é no modo porque os rapazes aqui formulam a sua petição, e na praga que dirigem aos lavradores que lhes recusam este mimo, a que se julgam com direito.

PETIÇÃO

Pão, pão por Deus
À mangaróla;
Encham-me o saco,
E vou-me embora.

PRAGA

O gorgulho, gorgulhóte
Lhe dê no pote,
E lhe não deixe farelo
Nem farelóte.

Teotónio José de Figueiredo Costa in «Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1861», 1860.