O bioco, este extraordinário bioco, é digno de crónica para esclarecimento e regalo do leitor estranho a esta região.
O bioco desenha-se em dois traços. Um capote, de farto cabeção, pesado e tão abundante de pano, que por completo encobre o corpo amplamente e até aos pés, encimando-se, e esta é a característica proeminente da estranha vestidura, por um chale preto, que, envolvendo e rebuçando rosto e cabeça, se enrola em forma pontiaguda, lembrando o bico enorme de uma ave fantástica e tenebrosa. Este tubo cónico termina por um pequeno orifício, fresta única para a respiração e raios visuais. De resto fica hermeticamente fechado o corpo humano que se encarcera nesta farpela impenetrável a toda as curiosidades, inacessível a todos os contactos, porque o bioco é inviolável, como coisa sagrada reverentemente velada em arca santa.
Júlio Lourenço Pinto in «O Algarve», 1894.
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