Havia no nosso lugar uma mulher que nos insultava sempre que nos encontrava. Encontrámo-la, um dia, quando saía de uma taberna, e a pobre, como não estava em si, não se contentou, dessa vez, só com insultar-nos. Quando terminou o seu trabalho, a Jacinta diz-me:
– Temos que pedir a Nossa Senhora e oferecer-Lhe sacrifícios pela conversão desta mulher. Diz tantos pecados que, se não se confessa, vai para o Inferno.
Passados alguns dias, corríamos em frente da porta da casa desta mulher. De repente, a Jacinta pára no meio da sua carreira, e voltando-se para trás, pergunta:
– Olha, é amanhã que vamos ver aquela Senhora?
– É sim.
– Então não brinquemos mais. Fazemos este sacrifício pela conversão dos pecadores.
E sem pensar que alguém a podia ver, levanta as mãozinhas e os olhos ao Céu e faz o oferecimento. A mulherzinha espreitava por um postigo da casa e depois, dizia ela à minha mãe, que a tinha impressionado tanto aquela acção da Jacinta, que não necessitava doutra prova para crer na realidade dos factos. E daí para o futuro, não só não nos insultava, mas pedia-nos continuamente para pedirmos por ela a Nossa Senhora, que lhe perdoasse os seus pecados.
Irmã Lúcia in «Memórias da Irmã Lúcia», 1976.
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