Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe, muito longe, um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada
De longe, muito longe, desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra, a flor, a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
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