Simão Gomes, o sapateiro santo


Simão Gomes, natural do lugar do Marmeleiro, termo da Vila de Tomar, chamado geralmente em Portugal o Sapateiro Santo, pela arte que exercitou, e pelas virtudes em que resplandeceu: Foi homem de vida inculpável, esmaltada com grandes realces de perfeição Evangélica: Os seus Mestres de espírito, sendo exemplares e sábios, achavam muito que aprender e que imitar nele: Predisse muitas coisas futuras, as quais depois confirmou o efeito: Bebia este alto conhecimento, e o dos Mistérios Divinos, e dos pontos mais dificultosos da Escritura Sagrada, na fonte da Oração, em que era contínuo, e nela recebia contínuos e soberanos favores; El-Rei Dom Sebastião, o Infante Dom Luís, o Cardeal Infante Dom Henrique, e todos os Grandes Senhores da Côrte, o tratavam com singulares estimações, a que ele fugia quanto lhe era possível: O mesmo Rei, indo ao Convento de São Roque em um dia de grande solenidade, o meteu consigo dentro da cortina, lugar que só compete aos filhos, ou irmãos dos Reis; Podendo mudar de fortuna e de estado, quis ficar sempre no da sua humildade e pobreza, julgando, e bem, que tanto melhor podia negociar com Deus, quanto mais despido estivesse das vaidades do Século; A esta vida tão santa respondeu uma preciosa morte, ilustrada de celestiais visões: Faleceu neste dia [18 de Outubro], ano de 1576. Jaz sepultado na Igreja de S. Roque [em Lisboa].

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

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