Pensador


Pensador – Entre os Republicanos ninguém merece este nome, senão aquele que, à força de pensar, tem arrojado de seu pensamento a Deus, a Religião, a imortalidade da alma, e tudo quanto há e pode haver de bom. Aristóteles, Platão, Cícero, etc. foram tidos até agora loucamente por sublimes pensadores; das primeiras noções naturais tiraram eles o verdadeiro resultado, e seguindo o fio do raciocínio, chegaram a dar com a existência de Deus, com a essência de Sua natureza, com a moral e a imortalidade da alma, etc. Porém que estúpido modo de pensar! Para chegar ao mais alto e sublime grau de pensadores tomaram os Filósofos modernos o caminho bem ao contrário. Começam por Deus; porém para anular a Sua existência, ou admiti-lo por mera cerimónia. Desce-se logo depois com a maior ligeireza até anular tudo, e assim vai a pique a Religião, a Moral, etc. E quando se há chegado a transtornar o juízo, de modo que chegue a crer que os homens, depois de uma vida ocupada toda em comer, beber, e zurrar como os burros, merecem com o livre-arbítrio e com a razão, o mesmo que eles, que não têm nem uma, nem outra coisa; e que depois da vida presente nada há a esperar, e que todos morremos como asnos, então sim, é quando filosoficamente se merece o sublime epíteto de pensador, de filósofo, e de iluminado. E haverá todavia homens, que depois disto, não queiram confessar que o género humano deve viver sumamente reconhecido às brilhantes luzes da Filosofia moderna, e a seu modo sublime de pensar?!

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 4, 1831.

Sem comentários: