Dom António Filipe Camarão, de Nação Índio, e entre os Índios, nobre por nascimento e nobilíssimo por acções; agregando a si muitos de seus naturais, veio socorrer e servir aos Portugueses nas guerras de Pernambuco, onde militou dezanove anos, sempre com grande nome e merecida fama de prudente e valeroso Capitão. Era universalmente estimado, e se fazia estimar pela gravidade, juízo e valor, com que se sabia haver em todas as ocasiões militares e civis: Pelejou vezes sem número com os Holandeses, e outras tantas os venceu. Foi Mestre de Campo de um Terço de Índios, e os trazia tao obedientes e bem disciplinados, que podiam ser exemplo aos das Nações mais cultas e mais destras. El-Rei D. Filipe IV (em cujo tempo já servia com grande reputação) lhe deu o hábito de Cristo, e licença para usar de Dom, e o posto de Capitão General dos Índios do Brasil. Foi não menos religioso que Soldado: Nunca entrou em batalha, sem primeiro se prevenir com os Sacramentos: ouvia todos os dias Missa, e todos os dias rezava o Ofício de N. Senhora; faleceu neste dia [9 de Maio] com grandes mostras de piedade, ano de 1648.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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