Papa João XXI, Português


O Sumo Pontífice João XXI nasceu em Lisboa, foi baptizado na Freguesia de São Julião, Igreja célebre em antiguidade e grandeza, e dela tomou o sobrenome, chamando-se, antes de Pontífice, Pedro Julião. Foi versadíssimo em todas as ciências, singularmente em Filosofia, Matemática e Medicina. Escreveu Problemas como os de Aristóteles; e Súmulas de Filosofia que se lêem com seu nome em algumas escolas. Compôs em Medicina o Livro Thesaurus Pauperum, e outro Canones Medicinae, e outras Obras eruditas, todas muito estimadas no Orbe Literário. Logrou em Portugal as dignidades de Arcediago de Vermoim, de Prior-mor da Insigne Colegiada de Guimarães, de Comendatário do Mosteiro de Pedroso e de Arcebispo Primaz de Braga. El-Rei Dom Afonso III o mandou ao Concílio Lugdunense, que então se celebrava; no qual o Papa Gregório X o fez Bispo Tusculano e criou Cardeal no mesmo dia (em grande glória deste nosso Português) que a São Boaventura, a Frei Pedro de Tarantasia, depois Papa Inocêncio V, a Frei Visdomino de Visdominis, depois eleito Papa e morto no dia da sua eleição; a Frei Bernardo de São Martinho, Arcebispo de Arles, a quem concedeu Clemente IV que trouxesse diante de si a Cruz à maneira do Sumo Pontífice. Por morte de Adriano V, foi o nosso Pedro Julião promovido à suprema Cadeira, a 20 de Setembro de 1276, na Cidade de Viterbo, Côrte então dos Pontífices, com aplauso universal, prometendo-se o Orbe Católico grandes felicidades de tão acertada eleição. Logo se aplicou a pacificar os Príncipes Cristãos, exortando-os a que deixadas as guerras reciprocas, com que se consumiam e debilitavam a si mesmos, se quisessem unir e dispor à conquista da Terra Santa, onde sem ofensa do nome Cristão, antes com grande glória do mesmo nome, podia cortar sem dor, as armas Católicas, e vingar a injúria que recebiam de serem dominados de infiéis aqueles Santos Lugares. Soaram estes brados do Pastor Supremo em todas as Côrtes da Cristandade, e em todas foram ouvidos com igual veneração e alvoroço, e já começavam a dispor-se as coisas felizmente para o fim que o Pontífice pretendia. Ao mesmo tempo exercitava ele excelentes actos de verdadeiro Pastor, despendendo os tesouros Eclesiásticos em benefício dos pobres: provendo as dignidades nos sujeitos mais beneméritos: amando singularmente, e estimando aos Varões Santos e doutos. Mas por altas disposições da Providência, que os homens não podem alcançar, lhe sobreveio a morte aos oito meses e cinco dias do seu Pontificado. E ainda foi mais para sentir que a morte, a circunstância dela. Andava vendo um quarto do Palácio, que acabava de edificar em Viterbo, eis que com súbita ruína veio abaixo uma grande parte, e o maltratou de maneira, que dentro em seis dias, recebidos devotissimamente todos os Sacramentos, acabou a vida neste dia [16 de Maio], ano de 1277. Jaz na Catedral da mesma Cidade de Viterbo.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

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