Os salazaristas de pontes e estradas


O mundo habituara-se aos "milagres" de Salazar, aos orçamentos equilibrados, à ordem interna, ao prestígio de Portugal que crescia prodigiosamente além-fronteiras, à melhoria contínua da administração; habituara-se mesmo ao modo de ser de Salazar: à sua sobriedade e honestidade, à sua capacidade de trabalho – tudo isso já não constitui surpresa para o português simples, ao ponto de quase não se lhe atribuir mérito. É algo que deve ser assim, desta maneira. (...) A maioria está com o regime – por não poderem negar a evidência dos progressos alcançados, por não poderem negar, por exemplo, a existência das boas estradas que percorrem o país de lés-a-lés, dos portos restaurados e modernizados, dos barcos recentemente construídos, dos hospitais e das escolas erguidas. Tudo isso é demasiado óbvio para poder ser negado. Mas, com toda a razão, esses convertidos ao regime são designados por "salazaristas de pontes e estradas", salazaristas que aderiram perante as obras materiais (principalmente as estradas) realizadas pela ditadura. A sua transformação moral, a sua adesão íntima ao espírito da Revolução Nacional, ainda não ocorrera. Apenas uma elite vive deveras a mensagem de Salazar.

Mircea Eliade in «Salazar e a Revolução em Portugal», 1942.

2 comentários:

Rafael Sanches disse...

Eu pensava e conversava sobre isso esses dias. Os direitistas sabiam equilibrar a população urbana/rural, traziam desenvolvimento sem se deixarem levar pelas fábulas tecnológicas materialistas (ao menos não tanto quanto os abutres da esquerda liberal) e, acima de tudo, mantinham uma unidade espiritual e social a nível nacional. Não é a toa que o verbo endireitar tem significado positivo na língua portuguesa, uma língua genuinamente cristã.

Rafael Sanches disse...

Esse equilíbrio campo/cidade se refletia em todos os aspectos da vida social, até mesmo no mais popular dos esportes, o futebol, onde cidades com menos de 20.000 habitantes tinham equipes profissionais aqui e era a maior festa ver o time da cidade jogando, os campeonatos eram repletos de equipes pequenas. Em Portugal, Espanha, Itália e Europa em geral isso ainda é comum apesar de todo processo destrutivo dos liberais. Já aqui no Brasil, onde a americanização dos arranha-céus e megalópoles atingiu o auge, isso quase inexiste. É bem verdade que a direita militar brasileira não pode se comparar com Salazar pois tinha a mão americana e judia durante o período, porém, atingimos o ápice do progresso na época graças ao direitismo e herança portuguesa presentes no espírito nacional. A Copa do Mundo de 70 atesta o fato, até hoje a mais celebrada pelos brasileiros.