Linguagem falada e linguagem escrita


A linguagem falada é popular. A linguagem escrita é aristocrática. Quem aprendeu a ler e a escrever deve conformar-se com as normas aristocráticas que vigoram n'aquele campo aristocrático.
A linguagem falada é nacional e deve ser o mais nacional possível. A linguagem escrita é – ou deve ser – o mais cosmopolita possível. Philosopho deve escrever-se com 2 vezes PH porque tal é a norma da maioria das nações da Europa, cuja ortografia assenta nas bases clássicas ou pseudo-clássicas.

Fernando Pessoa in «Pessoa Inédito».

As elites ideológicas


Que podem fazer então as elites ideológicas? Influenciar os modos de pensamento, como entendeu Antonio Gramsci, e preparar o caminho de uma nova ideologia ou de uma nova fórmula política triunfante, mobilizadora, capaz de derrubar a fórmula da elite dirigente. Neste sentido, funcionariam em aliança com a contra-elite. Gramsci chamou a estes intelectuais afectos ao novo príncipe (novo poder) os intelectuais orgânicos, destinados a destruir as bases e fundamentos ideológicos de elites enraizadas, como seja a religiosa, a militar e a política. A sua função crítica é deletéria e é preciso que o seja nesta conjuntura. As sociedades burguesas encontram-se defendidas no plano intelectual por diversos mecanismos de justificação e o que é preciso e urgente é desmontá-los. Entre eles está o Direito, a Religião, o conceito de Família, de Escola, o Serviço Militar e assim por diante, como nos haveria de especificar o francês Althusser. O melhor será a infiltração e o uso dos meios de comunicação de massa para alterar a cultura. Se há uma teoria de mudança social e política muito coerente vinda dos marxistas reflexivos é sem dúvida esta: as trincheiras intelectuais das sociedades capitalistas têm de ser derrubadas pelos intelectuais orgânicos situados nos mais diversos meios de influência, nomeadamente os meios de comunicação de massa, os quartéis, as universidades, as igrejas.

António Marques Bessa in «Elites e Movimentos Sociais», 2002.

Quem financia o Femen?


A viagem da jornalista a Paris foi paga pelo movimento Femen. As passagens de avião, a hospedagem no hotel, táxi e alimentação – um total de mil euros de gastos por dia para cada moça durante tais acções, sem contar as compras de roupas, serviços de maquiadores e estilistas.
Além disso verificou-se que as activistas do Femen recebem salário, não menos de mil dólares por mês, o que ultrapassa em quase 3 vezes o salário médio na Ucrânia. Além disso a manutenção de escritórios em Kiev – dois mil e quinhentos dólares por mês e do recentemente aberto em Paris – mais alguns milhares de euros por mês.
Quem financia tão generosamente este movimento e quem é o patrocinador que indica às jovens a quem devem atacar de peito aberto, é um segredo guardado a sete chaves, como se diz, sancta sanctorum. Só se pode imaginar quem são. A jornalista supõe que são pessoas que com maior frequência são vistas junto com o Femen. O multimilionário Helmut Geier, a mulher de negócios alemã Beat Schober e o homem de negócios americano Jed Sanden. Também a Wikipédia considera que o último é patrocinador do Femen.

Relativismo moral


Uma espécie de teósofo disse-me: "O bem e o mal, a verdade e a mentira, a loucura e a sanidade, são apenas aspectos do mesmo movimento ascendente do Universo". Já nessa época me ocorreu perguntar: "Supondo que não exista diferença entre o bem e o mal, ou entre a verdade e a mentira, qual é a diferença entre ascendente e descendente?".

G. K. Chesterton citado por Gustavo Corção.

A História repete-se


As pessoas moram em gaiolas para coelhos a preços exorbitantes. Já não se pode circular nas ruas. Quando penso no que Roma se tornou, fujo para longe. Os milhões que ganham os promotores. Vindos dos quatro cantos do Mediterrâneo, ei-los que adquirem as melhores casas para delas se apoderarem. Desprezam os nossos gostos e valores; o mau gosto torna-se sinónimo de requinte, o idiota passa por genial, cantores medíocres são vistos como estrelas.
Já não há em Roma mais lugar para um bravo Romano. Na rua os estrangeiros agridem-nos. E depois, ainda por cima, são eles que te acusam e te levam a tribunal.
Onde estão os ritos antigos? A religião é publicamente vilipendiada. Quem teria ousado, outrora, fazer troça do culto dos deuses? Não nos devemos surpreender que a desonestidade seja geral. Já ninguém tem palavra, porque todos perderam a fé. Mesmo os crentes, já não acreditam na virtude. Outrora, um desonesto era algo incrível. E agora, alguém verdadeiramente íntegro é visto como um prodígio.

Juvenal in «Sátiras», século I d.C.

Deus criou o Mal?


O Frio é ausência de Calor, a Escuridão é ausência de Luz, o Mal é ausência de Bem. Possivelmente, Einstein nunca proferiu as palavras descritas no vídeo. No entanto, a mensagem é bastante esclarecedora quanto à existência do Mal: ausência e negação do Bem. Da mesma forma que só existe Doença enquanto degeneração de um estado de Saúde que a precede, só existe Mal porque existe o Bem que o precede.

Sobre as greves


Somos excessivamente pobres para nos permitirmos a esse luxo. Tanto mais que quando se reconhece o direito à greve admite-se que há uma incompatibilidade absoluta entre o interesse patronal e o interesse dos trabalhadores, e que a questão não poderá ser resolvida senão pelo recurso à força. É evidente que ganhará o mais forte, o que não significa que triunfe a justiça. Tanto que se rejeita o direito à greve deve admitir-se que os interesses patronais e os interesses dos trabalhadores são, no fim de contas, concordantes e não contraditórios; que deve ser também considerado um terceiro interesse que é o interesse social; e que uma organização deve ser erigida para permitir aos interesses divergentes definirem-se e conciliarem-se, reconhecendo-se o Estado como árbitro supremo. Nestas condições, o direito à greve pode, sem riscos, e com vantagens, deixar de ser reconhecido.

António de Oliveira Salazar in jornal «Le Figaro», Setembro de 1958.

O triunfo do Materialismo


No fim do reinado de D. Maria I surgiu a Economia Política de Adam Smith baseada nas leis naturais de oferta e procura, portanto aparentemente humanitária, mas no fundo favorecendo as nações detentoras dos melhores meios de produção industrial. O facto é eloquentíssimo, pois marca a translação do sentido espiritualista da Economia baseada no livre arbítrio dos dirigentes perante Deus pelo bem-estar do povo, para o sentido materialista baseado no determinismo dos fenómenos da produção e do consumo, sem nenhuma consideração pelas consequências do desequilíbrio social e internacional.
Essa doutrina enriqueceu as classes burguesas e os países de concentração industrial e reactivou as ideias revolucionárias, agora também baseadas nas leis da evolução consoante ensinaram Sorel e Marx; por outro lado, favorecendo os grupos étnicos que assentaram a prosperidade nos recursos siderúrgicos, suscitou a teoria da superioridade racial dos menos pigmentados.
Coincidindo ter sido entre estes que se originaram a reforma religiosa, o naturalismo filosófico, o experimentalismo, o criticismo, o positivismo, o agnosticismo e finalmente, o pragmatismo, concluiu-se que um dos índices da inferioridade rácica repontava nos caracteres místicos e principalmente católicos, logo designados pelos escritores do nosso próprio grémio, com os epítetos de «fanatismo supersticioso», «vícios educacionais», «obscurantismo fradesco», «ultramontanismo clerical».
Nunca tínhamos reparado que essa propaganda visava arrebatar-nos a defesa contra o predomínio imperialista e a absorção económica por parte de povos mais aquinhoados de instrumentos geológicos de produção, os quais necessitavam explicar a desigualdade das nações pelo determinismo da selecção dos mais aptos.
Foi a obra nefasta que inoculou em nações, cheias de força intelectual e moral, o veneno do desânimo, o vírus do fatalismo e a convicção de que nada mais podiam aspirar no desempenho de nobres missões no mundo.
Denegriu-se a memória dos reis; inventaram-se lendas contra os jesuítas e a opressão dos padres, enquanto, incoerentemente, se erguiam glorificações ao precursor e mestre dos ditadores do nosso tempo... Acusava-se a Igreja de inimiga da ciência e entoavam-se loas a Voltaire, esquecendo-se os turiferários de que este ridicularizara, por exemplo, as primeiras revelações da paleontologia metendo à bulha os sábios do seu tempo. Clamava-se que a Inquisição queimara cientistas na fogueira (o que não é verdade) mas a morte de Lavoisier, fundador da química, levado à guilhotina pelos ateus da Revolução Francesa, não merecia o menor comentário.
Assim procedendo, enfraquecíamos as raízes das nossas Pátrias, dando curso ao materialismo dentro de cujas ideias se justificavam as nossas escravizações nacionais aos povos que Frederico Nietzsche denomina orgulhosamente «povos hiperbóreos».

Plínio Salgado in «O Rei dos Reis e Mensagens ao Mundo Lusíada».

A verdade sobre Aristides de Sousa Mendes


Fala, a propósito, na operação de salvamento dos refugiados republicanos espanhóis e dos judeus que, no início da Segunda Guerra Mundial, se acumulavam na fronteira de Irún, na ânsia de salvar as vidas. Vieram embarcados nos vagões da Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, que iam até Irún carregados de volfrâmio, e voltavam a Vilar Formoso carregados de fugitivos. A operação foi mantida rigorosamente secreta porque as autoridades espanholas não consentiriam. Segundo um protocolo firmado pelas autoridades ferroviárias dos dois países, os vagões deviam circular selados, quer à ida quer à vinda. Um dos que assim salvaram a vida foi o Barão de Rothschild. O embaixador Teixeira de Sampaio confirmou-me, mais tarde, esses factos. O salvamento de 30 000 refugiados deu-se ao mesmo tempo que o cônsul de Portugal em Bordéus, em cumplicidade com dois funcionários da PIDE, falsificava algumas centenas de vistos, que vendia por bom preço a emigrantes com dinheiro. Um dos que utilizaram esta via supôs que todos os outros vieram do mesmo modo – e assim nasceu a versão, hoje oficialmente consagrada, de que a operação de salvamento se deve ao cônsul de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes. Este, homem muito afecto ao Estado Novo, nem sequer foi demitido, mas sim colocado na situação de aguardar aposentação. Os seus cúmplices da PIDE foram julgados, condenados e demitidos.

José Hermano Saraiva in «Álbum de Memórias», 2007.

A vida de Nun'Álvares em imagens

Nascimento e juventude

De escudeiro a guerreiro

Casamento com Leonor de Alvim e visão da guerra

Batalha de Aljubarrota

Monge, morte e canonização

Quadros da autoria de Els Smulders-Waijers.

A Cruz e o Círculo


O círculo é perfeito e infinito por natureza, mas ele está para sempre amarrado a suas dimensões, não podendo crescer ou diminuir, já que na sua definição o raio é constante. Mas a cruz, embora tenha no centro uma colisão e uma contradição, pode sempre estender os braços sem modificar sua forma. Pelo facto de abrigar um paradoxo em seu centro, a cruz pode crescer sem mudar. O círculo volta-se sobre si mesmo como prisioneiro. A cruz abre seus braços aos quatro ventos e serve de marco indicador aos viajantes livres.

Gilbert Keith Chesterton in «Ortodoxia».