8 de Outubro: Santa Brígida da Suécia


Santa Brígida era descendente de sangue real da Suécia. Casada com o Príncipe de Merícia, educou santamente oito filhos, entre os quais figura Santa Catarina da Suécia. Estimulou de tal sorte o esposo na prática da virtude que o levou ao completo desprendimento do mundo e a abraçar a Regra dos Cistercienses, no Mosteiro de Alvastra, onde morreu em odor de santidade (1344). Brígida redobrou de fervor no santo estado de viuvez «aplicando-se a toda sorte de boas obras e perseverando dia e noite na oração e meditações» (Ep.). À semelhança de quem encontra um tesouro e vende tudo para adquiri-lo (Ev.), distribuiu os bens entre os filhos, e, desapegada de tudo, só buscava o reino do Céu. Penetrada do temor de Deus, infligia ao corpo as mais duras penitências (Intr.), e Jesus, cuja paixão imitava, recompensou-a, revelando-lhe os segredos celestes (Or.). Deu-lhe as constituições da Ordem por ela fundada, sob a regra de Santo Agostinho. Morreu em Roma em 1373.

Fonte: «Missal Quotidiano e Vesperal», 1940.

Saber perdoar e saber castigar


Um Rei deve ser clemente, e já dizia um Filósofo antigo (Séneca), que era tão indecoroso a um Rei o perdoar a todos como o castigar a todos; há porém muitos lances em que uma desmesurada clemência é um crime de que o Rei dos Reis lhe tomará uma estreitíssima conta.
Confundir os bons com os maus, é animar a impunidade, e com ela todos os crimes, poupar cegamente os criminosos é sacrificar os bons, é perturbá-los na fruição dos seus direitos, é pô-los em uma perpétua desconfiança de serem outra vez enxovalhados e perseguidos: o que é tão certo que nestes casos importa mais ao cidadão probo e leal, esconder-se, ou antes mudar de pátria, do que viver no meio de tigres que por ventura açaimados um só instante pelo irresistível poderio da opinião pública, já estudam e se afanam por desfazer com seus próprios dentes a mordaça que os refreia, e que apenas conseguirem tirá-la encherão tudo de estragos, de mortes, e de sangue...

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «O Punhal dos Corcundas», Nº 1, 1823.

Infante português feito primeiro Rei de Maiorca


O Infante Dom Pedro, filho de El-Rei Dom Sancho I, depois de varias peregrinações em Espanha e África, onde deu ilustres provas de generalidade e valor; casou com a Condessa de Urgel, Senhora de grandes Estados, a qual, morrendo sem sucessão, o deixou por seu universal herdeiro; Mas desejando El-Rei Dom Jaime de Aragão incorporar os mesmos Estados com o Principado de Catalunha, fez troca com o Infante Dom Pedro, dando-lhe, com Título de Rei, a Ilha de Maiorca, de que o Infante tomou posse neste dia [29 de Setembro], ano de 1231.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Genuflexão


Genuflexão faz-se com os dois joelhos; a) diante do Santíssimo Sacramento exposto; b) diante do sacrário aberto, estando dentro a Hóstia consagrada; c) diante do cofre que encerra a Hóstia consagrada para a Missa dos pré-santificados, Quinta e Sexta-feira santa. – Faz-se a genuflexão com um joelho: a) quando se passa diante do sacrário fechado, e diante do altar onde se está celebrando a Missa, desde a consagração até à comunhão, e quando está exposto, a não ser quando se chega ao altar da exposição ou quando se sai; b) quando se saúda uma relíquia do santo Lenho ou de outro instrumento da Paixão de Jesus Cristo, estando exposta à veneração dos fiéis no lugar principal do altar; c) quando se passa diante do altar durante os actos litúrgicos; (os Prelados, os Cónegos da Catedral, nos actos em que têm direito a revestir-se das insígnias canonicais, e o celebrante paramentado, saúdam a cruz com inclinação apenas); d) Sexta-feira santa, desde que a cruz é descoberta até Sábado de Aleluia depois de Noa; e) ao Bispo na sua diocese e ao Metropolita na sua Província eclesiástica, e ao Cardial. Na presença de um Cardeal só a ele e a nenhum outro Prelado se faz a genuflexão.

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945.

20 de Setembro de 1870


Esta data representa na história deste século um facto sacrílego e usurpador. Recordar 20 de Setembro de 1870 é lembrar a brecha da Porta Pia, a entrada dos piemonteses em Roma e o esbulho dos Estados do Soberano Pontífice. E é o vigésimo quinto aniversário deste sacrilégio, que o governo italiano quis solenizar este ano como festa nacional, quando o povo geme esmagado debaixo de pesados tributos que lhe cisam até a pele. Os católicos, porém, não esqueceram seu Pai comum, o Sumo Pontífice, e de todos os pontos do globo, onde há corações que oram, lhe foram dirigidas consoladoras mensagens.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», Nº 9, Setembro de 1895.

A Revolução e o Beato Pio IX


Em 1815 escrevia José de Maistre: «A Revolução Francesa é satânica, e a Contra-Revolução é inútil, se não for divina». E na verdade, a divisa da Revolução é a derradeira palavra de Satanás Non serviam! Para quem a seguisse até ao fim, sem parar a meio caminho, nos compromissos que a mesma lógica reprova, conheceria que a Revolução tinha absoluta negação do direito de mandar e do dever de obedecer. Nada mais de governo que falasse em nome das eternas leis da Justiça: a lei suprema era a vontade individual do homem: nada mais de Deus, pelo menos não se quer saber do Deus sindicador dos actos da humanidade: cada indivíduo é o seu próprio Deus.
Pio IX foi o pontífice providencial, o escolhido para opor a esse delírio do espírito moderno as imutáveis afirmativas do Cristianismo. Era ele que devia desmascarar o monstro, arrastando-o à plena luz, e fazendo ver aos povos assombrados o sinal da besta que tinha na fronte. Ora, tornar conhecida a besta era vencê-la; mas não decerto, sem que a luta findasse. Debaixo da sua máscara liberal, Satanás chegou quase a fascinar a humanidade, e a Igreja vê-se na necessidade de reconquistar o mundo como nos séculos pagãos.

Jacques-Melchior Villefranche in «Pio IX: sua vida, sua história e seu século», 1874.

O assassinato da Imperatriz Sissi da Áustria


A senhora D. Isabel Maria Eugénia, filha do Duque Maximiliano José da Baviera, casada com Francisco José, Imperador da Áustria, foi no dia 10 [de Setembro] assassinada, em Genebra, ao sair de um hotel.
O assassino, escusado era dizê-lo, é italiano, como italiano era o assassino de Carnot, Caserio, como italiano o assassino de Canovas, Angiolilo, como os assassinos quase diariamente linchados nos Estados Unidos, como os assassinos de Leon, do Pará, e pode-se dizer que de todo o mundo.
Era França assim no tempo do Império, como no da República, os maiores atentados tiveram sempre por autores os italianos. Italianos eram Fieschi, Orsini, Pieri, Pianori.
A Itália tem sido neste últimos tempos governada por homens saídos das lojas. A sua grande obra aí se vê. A Itália é hoje um grande depósito de matérias-primas para os grandes crimes. Nem isso admira, se a estátua do mestre dos assassinos, Mazzini, se ergue em quase todas as cidades da Península.
– A dor que sentiu o Imperador ao receber a fúnebre notícia, não se pode descrever. Entre todas as provações por que tem passado, é esta sem dúvida a que tem ferido mais vivamente o seu coração. Assim se mudaram em prantos as festas do 50º aniversário da sua coroação.
O Imperador depois de receber a triste notícia, assistiu a uma missa de requiem. Durante a missa ouviam-se veementes soluços.
Francisco José disse que não perdia a sua confiança em Deus, e que desejava confessar-se. Depois falou profundamente comovido da última carta que recebera da Imperatriz, em que ela dizia que estava boa, e que sentia o maior prazer de chegar em breve a Viena para assistir às festas da coroação do Imperador. Acrescentava: «o mundo não faz ideia de quanto nos amamos».

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 4º Ano, Nº 21, Setembro de 1898.

Coroação de El-Rei Dom Afonso V


No ano de 1438 foi aclamado e coroado Rei o Príncipe Dom Afonso, V do nome, entre os de Portugal, neste dia [10 de Setembro], que se seguiu ao da morte de El-Rei Dom Duarte, seu Pai. Fez-se a função em um majestoso Teatro, que se levantou defronte dos Paços do Convento de Tomar, aonde saiu o Príncipe (menino de seis anos) com vestiduras Reais, e sentado em trono eminente, lhe beijou a mão, posto de joelhos, e deu juramento de fidelidade e obediência, seu tio o Infante Dom Pedro, a quem seguiram os outros Infantes, e todos os Senhores que ali se achavam, enxugando todos, em grande parte, nas florescentes esperanças do novo Rei, as lágrimas que lhe causara a falta do defunto.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

É essencial ter os conceitos certos e bem definidos


Se atrasados ou adiantados em relação aos conceitos actuais, o tempo o dirá. O que ambicionamos é ser autênticos na nossa modéstia: nada se há-de prometer que não se cumpra; nada se há-de afirmar que não corresponda ao conceito exacto que formamos dos problemas. A nossa época está cheia de palavras sem sentido e infelizmente é com essas palavras que se pretende conduzir do nosso lado os negócios do mundo. Por isso somos batidos, tendo razão, e nos arriscamos a perder, estando a justiça por nós.

António de Oliveira Salazar em entrevista ao jornal «Corriere della Sera», 30 de Março de 1960.

É aclamado Rei o Cardeal Dom Henrique


No mesmo dia [28 de Agosto], no infeliz ano de 1578, foi Coroado em Lisboa o Cardeal Henrique, o primeiro que uniu uma e outra púrpura: Celebrou-se o acto na Igreja do Hospital, sítio próprio para um Rei e Reino, enfermos ambos, e quase moribundos; Todavia, não se faltou ao luzimento e pompa que costuma haver em semelhantes ocasiões: Ornou-se ricamente a Igreja, e foi a ela o novo Rei, em hábito de Cardeal, em uma mula, cuja rédea levava Dom Álvaro da Silva, Conde de Portalegre, Mordomo-mor, precedendo a Nobreza, que então se achava na Corte, todos a pé e descobertos, excepto o Duque de Bragança Dom João, que ia a cavalo com o Estoque desembainhado, como Condestável. Na Igreja se havia prevenido um teatro com uma cadeira, onde El-Rei se sentou, e dado e recebido o juramento, como é costume, lhe foi entregue o Ceptro, e com esta Real insígnia na mão, voltou para o Palácio, na mesma forma, e ordem, com que viera.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Da importância de uma boa educação católica


E na carta que acompanhava a representação acerca dos seus intentos, dizia ele [D. Frei Caetano Brandão]:
Tomara que os Soberanos se desenganassem, que é este o meio mais próprio e eficaz de acudir a uma e outra república [= Estado civil e eclesiástico]. Façam o que fizerem, enquanto se não cuidar efectivamente na educação da plebe, verão perpetuada a cadeia das desordens; porque, enfim, é grande loucura esperar que venha a ser melhor a futura geração, se a não fornecermos de outros recursos, que não teve a nossa.

António Silva Gaio in «D. Frei Caetano Brandão: drama em cinco actos com um escorço biográfico», 1869.

Defende-se a Cidade de Colombo de um grande assalto


Desde cinco deste mês até este dia em que estamos [20 de Agosto], do ano de 1587, foi prosseguindo o tirano Rajú furiosos assaltos contra a Fortaleza e Cidade de Colombo [no Ceilão]; E (deixando outros, que pela semelhança causaria fastio o repeti-los) neste dia sobre a tarde, mandou despregar duas bandeiras, uma branca e outra vermelha, e logo começaram a soar os tristes instrumentos de que usam os Gentios da Índia, nas ocasiões em que se fazem Amoucos, isto é, oferecidos a morrer ou vencer; E com grandes alaridos e brados (a que eles chamam cuquiadas) acometeram a Cidade, arrimando-lhe grande número de escadas por muitas partes, e pela do mar veio com o mesmo intento uma armada inimiga; Grande foi a consternação em que se viram os poucos Portugueses que havia na Cidade! Grande a fúria e resolução com que foram acometidos! Mas ainda foi maior o seu esforço; Assim rebateram a porfia dos Infiéis: Assim lhe quebraram os primeiros ímpetos, que finalmente se começaram a retirar com mais confusão, do que haviam trazido arrogância. Ficou o campo ao pé das muralhas juncado de corpos mortos e despedaçados, que formavam uma horrível representação: A armada se retirou também diminuída de velas e de soldados; Assistiram alguns Religiosos de São Francisco, que havia na Cidade, aos maiores perigos com admirável constância, acudindo a todas as partes com os remédios do corpo e do espírito.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Assunção de Nossa Senhora


Assunção de Nossa Senhora. É doutrina da Igreja que a Virgem foi elevada ao Céu em alma e corpo após a sua morte. Em memória deste facto celebra-se a festa da Assunção no dia 15 de Agosto.
Os Portugueses têm um motivo especial para solenizar a festa da Assunção de Nossa Senhora: foi na véspera desse dia, em 14 de Agosto de 1385, que D. Nuno Álvares Pereira firmou a independência de Portugal, derrotando os Castelhanos na batalha de Aljubarrota. É dia santo de guarda.

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945.

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Sempre foi de Fé católica a Assunção de Nossa Senhora aos Céus. Por essa razão, Pio XII definiu dogmaticamente a 1 de Novembro de 1950: «...com a Autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, e com a Nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial».

Constituição


Constituição – Este vocábulo assim como outro igualmente desventurado, a saber – Filosofia –, muito queixosos devem estar destes últimos tempos, que fizeram aborrecível, o que de sua natureza se devia respeitar e acatar. Por ventura os Soldados de Afonso Henriques, esses varões de mão cheia, que assistiram às Cortes de Lamego, esses Ricos Homens, que tanto luziram nas Cortes seguintes, eram por aí alguns miseráveis anarquistas? Esses Reis Legisladores Afonsos, Dinizes e Joões, eram por aí alguns mantenedores da escravidão dos povos? Por ventura esse Portugal velho, que estendeu o seu nome e as suas conquistas até ao berço da aurora, que descobriu novos mundos, que sobressaiu nas armas e nas letras quando muitos povos Europeus, ou jaziam na infância social, ou na barbaridade, fez todos estes prodígios sem ter uma Constituição? Se isto fora possível, teríamos neste prodígio o maior de todos. Logo para que berravam os Pedreiros que não tínhamos Constituição? Sim, faltava o que eles entendem por Constituição e vem a ser o predomínio, ou entronização da seita, que nasceu (ou foi vomitada dos quintos dos infernos) para atropelar usos, costumes, leis, e direitos, ou sociais, ou da própria natureza! Quem não jurasse a Constituição era desnaturalizado, exterminado, e acabava de ser Cidadão Português, e quem insistia pela observância da Constituição era suspeito, era um Realista, um corcunda! Não sei como se podia ser juiz com tais mordomos; só o poderia ser quem estivesse inteirado de que a Constituição se fizera só para enganar o povo, e assegurar a esta boa sombra todos os negócios que se tratavam nas sombras da noite. Cumpre assinarmos a diferença de sentido em que os Pedreiros tomam esta palavra. Os Peninsulares, ainda um pouco temerosos de avançarem longe… fazem semblante de quererem – Monarquia Hereditária – como fundamento principal de suas Constituições, já se sabe com a própria malícia da Constituição Francesa de 1791, que declarou o Rei inviolável, e que daí a bem poucos anos lhe separou a cabeça do corpo: os Alemães, como ainda farei ver miudamente na minha “Introdução à História do Maçonismo Português”, são nesta parte melhores arquitectos – nada de Rei senão electivo, já se sabe, para que esta altíssima dignidade venha a recair em algum Pedreirão, e tudo lhe fique em casa… Ai, e mil vezes ai, dos Soberanos que se fiarem nestas Constituições modernas, talhadas pelo espírito maçónico e andejas com as Luzes do século! Tudo velho é um princípio decisivo e certíssimo em Moral, e também o é em política. As novas teorias aviltam os Reis, empobrecem as Nações, e cedo ou tarde roubam ao homem o melhor presente da Divindade à Religião! E ainda querem fazer mais ensaios, mais tentativas! Triste da geração, que é obrigada a sofrer os Optimistas. Vamos indo com os nossos usos góticos e rançosos, e deixemos gritar a Maçonaria. Nada de Câmaras à Francesa, ou à Inglesa, nada de macaquices. Tudo à Portuguesa. Quem se não pode amoldar às nossas instituições velhas e carcomidas, vá por esse mundo fora atrás das novas e fique certo de que não deixa saudades.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «O Mastigóforo: Prospecto de um Dicionário das Palavras e Frases Maçónicas», Nº 1, 1824.

Chega à Cidade do Porto o corpo de São Pantaleão


Neste dia [8 de Agosto], pelos anos de 1453, chegou à Foz do Douro o corpo do glorioso São Pantaleão Mártir; Havia padecido martírio na Cidade de Nicomedia, imperando Diocleciano e Maximiano, e seu corpo foi trazido a Constantinopla, onde esteve muitos anos em suma veneração; Até que tomada aquela Cidade por Maomé, bravo Emperador dos Turcos, alguns Cristãos o meterão em uma embarcação ligeira, e pondo nas mãos do mesmo Santo as vidas e o bom sucesso de tão incerta e perigosa viagem, guiados pelo Ceo vieram discorrendo à vista de grande parte de uma e outra costa da Europa e Africa, e deixando atrás Cidades e povoações florentíssimas e de grande nome, entraram neste dia, pelo Rio Douro, e depositaram as sagradas Relíquias na antiga Igreja de São Pedro de Miragaia, onde estiveram até serem tresladadas para a Igreja maior daquela Cidade, a qual o elegeu Patrono, e experimenta e publica grandes favores e mercês, que recebe do Céu por sua intercessão.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Salazar e o soneto de Plantin


António Ferro, no seu admirável livro de conversas com Salazar, confessa-nos que um dos poucos quadros que decoram as frias paredes do gabinete de trabalho do ditador, contém o texto do célebre e esquecido soneto de Plantin, Le bonheur de ce monde. Salazar preza tanto esse soneto, que o transpôs com a sua própria mão para o oferecer a António Ferro.

Avoir une maison commode, propre et belle,
Un jardin tapissé d'espaliers odorans,
Des fruits, d'excellent vin, peu de train, peu d'enfans,
Posseder seul sans bruit une femme fidèle,

N'avoir dettes, amour, ni procès, ni querelle,
Ni de partage à faire avecque ses parens,
Se contenter de peu, n'espérer rien des Grands,
Régler tous ses desseins sur un juste modèle,

Vivre avecque franchise et sans ambition,
S'adonner sans scrupule à la dévotion,
Dompter ses passions, les rendre obéissantes,

Conserver l'esprit libre, et le jugement fort,
Dire son chapelet en cultivant ses entes,
C'est attendre chez soi bien doucement la mort.

Trata-se de uma imagem auto-reveladora comovente, este soneto em que são louvadas tantas felicidades simples, sonhadas, sem dúvida, por Salazar, mas proibidas para si próprio pela sua vontade indomável, monástica, de cumprir até ao fim o seu sacrifício.

Mircea Eliade in «Salazar e a Revolução em Portugal», 1942.