Aniversário dos Reis D. Fernando e D. Duarte


Neste dia [31 de Outubro], em segunda-feira, ano de 1345, nasceu em Coimbra o Infante Dom Fernando, depois Rei de Portugal; foi o terceiro e último parto, de que faleceu a Infanta Dona Constança, mulher do Infante Dom Pedro, depois Rei, primeiro do nome, de Portugal. Já falámos do seu Reinado.


No mesmo dia [31 de Outubro], ano de 1391, nasceu em Viseu o Infante Dom Duarte, Rei de Portugal, filho dos Reis Dom João I e Dona Filipa, que lhe puseram aquele nome, em memória de seu bisavô materno Duarte III de Inglaterra.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Festa de Cristo Rei


Cristo Rei. Celebra-se a festa de Cristo Rei no último domingo do mês de Outubro. Foi o Papa Pio XI quem instituiu esta festa, dando a Jesus aquele título, para que os homens reconhecessem e confessassem, que Jesus Cristo é o Rei da humanidade, e para afirmarem o dever que têm de obedecer à sua Santa Lei.

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945.

Mouros e Mouriscos na Lei portuguesa


Mouriscos de Granada não podem entrar no Reino, liv. 5, tit. 69, § 2 (c).
Mourisco não pode agasalhar escravo, nem comprar-lhe fato, liv. 5, tit. 70.
Mouro que se acolhe à Igreja, não lhe vale a imunidade, se se não converte, liv. 2, tit. 5, § 1 (a).
Mouro cativo, que se pede para resgate de algum Cristão, que está em Terra de Mouros, que o Senhor seja constrangido a vende-lo pela avaliação, que a Justiça fizer com mais a quinta parte, liv.4, tit. 11, § 4 (b).
Mouro nenhum pode ir a Terra de Mouros sem licença d’El-Rei, liv. 5, tit. 108.
Mouro não se pode resgatar com ouro, ou prata, ou dinheiro do Reino, liv. 5, tit. 110.
Mouro que dormir com Cristã, tem pena de morte, liv. 5, tit. 14 (c).
Mouro que deu ajuda para fugir algum escravo, e o encobriu, ou deu azo a isso, fica cativo do Senhor do escravo; e sendo o Mouro cativo, será açoutado, liv. 5, tit. 63.
Mouro branco, ou seja Cristão, ou Infiel, que na Corte for achado com armas de dia, ou de noite, que seja açoutado, liv. 5, tit. 80, § 8.
Mouro que anda sem sinal, paga da cadeia mil reis, liv. 5, tit. 94 (d).
Mouro Cristão que se vai deste Reino para Terra de Mouros, sendo tomado no próprio acto de sua ida, fica cativo, e perde sua fazenda, liv. 5, tit. 111.
Mouro Cristão não pode entrar neste Reino, posto que diga que vem a negociar, ibid. § 2.
Mouro forro não pode entrar no Reino, ibid.
Mouro não pode ser testemunha em feito de Cristão com outro, liv. 3, tit. 56, § 4.
Mouro forro com dinheiro do Reino, que tendo licença para morar nele, se vai a Terra de Mouros; sendo tomado no mar, ou nos Lugares dalém, ou Estremo, para se ir, fica cativo de quem o tomar, liv. 5, tit. 110, § fin.

Fonte: «Repertório das Ordenações e Leis do Reino de Portugal», Tomo II, 1749.

O bioco algarvio


O bioco, este extraordinário bioco, é digno de crónica para esclarecimento e regalo do leitor estranho a esta região.
O bioco desenha-se em dois traços. Um capote, de farto cabeção, pesado e tão abundante de pano, que por completo encobre o corpo amplamente e até aos pés, encimando-se, e esta é a característica proeminente da estranha vestidura, por um chale preto, que, envolvendo e rebuçando rosto e cabeça, se enrola em forma pontiaguda, lembrando o bico enorme de uma ave fantástica e tenebrosa. Este tubo cónico termina por um pequeno orifício, fresta única para a respiração e raios visuais. De resto fica hermeticamente fechado o corpo humano que se encarcera nesta farpela impenetrável a toda as curiosidades, inacessível a todos os contactos, porque o bioco é inviolável, como coisa sagrada reverentemente velada em arca santa.

Júlio Lourenço Pinto in «O Algarve», 1894.

16 de Outubro: Santa Edviges


Edviges, nascida de família real, e ainda mais ilustre pela inocência de sua vida, era filha de Bertoldo, príncipe de Caríntia, e tia materna de Santa Isabel de Hungria. Dada em casamento a Henrique, Duque da Polónia, cumpriu tão santamente os deveres de esposa que a Igreja a compara à mulher forte, cujo retrato o Espírito Santo nos dá na Epístola deste dia. Teve três filhos e três filhas. Castigava o corpo pelo jejum e vigílias e pela severidade do vestuário; era imensa a sua caridade para com os pobres, servindo-os ela própria à mesa. Lavava e osculava as úlceras dos leprosos. Para melhor entregar-se ao serviço de Deus, conseguiu do esposo a promessa, por voto, de guardarem ambos a continência. Morto o Duque, Edviges, como o negociante de que fala o Evangelho, despojou-se de todos os seus bens para adquirir a pérola preciosa da vida eterna. Após instantes preces, e, por inspiração divina, passou generosamente do seio das pompas do século para a vida humilde da cruz, entrando no Mosteiro de Trebnitz, da Ordem dos Cistercienses, do qual era Abadessa sua filha Gertrudes. Morreu a 15 de Outubro de 1243, e, na Polónia, é venerada como Padroeira, com particular devoção.

Fonte: «Missal Quotidiano e Vesperal», 1940.

Rei, necessariamente absoluto


A função real, ou é absoluta, ou não existe. E quando digo absoluta, não quero significar que se exerça em todas as manifestações da vida política – o que seria impossível, dada a extrema complexidade desta, e quero, sim, significar que nos assuntos em que tenha de se exercer, o seja sem embaraços, sem fiscalizações impertinentes. Numa lâmina de aço, por mais bem temperada que seja, uma pequena gota de água que gere a ferrugem é o bastante para a destruir. Também na função real, o mais pequenino embaraço que a desvirtue é o suficiente para a aniquilar.
Ou há Monarquia, e então tenhamos um Rei na plena posse e plena eficácia dos seus poderes, reinando e governando, ou não pensemos em Monarquia, se queremos fazer do Rei uma ficção vã e inofensiva.

Alfredo Pimenta in «Política Monárquica», 1920.

8 de Outubro: Santa Brígida da Suécia


Santa Brígida era descendente de sangue real da Suécia. Casada com o Príncipe de Merícia, educou santamente oito filhos, entre os quais figura Santa Catarina da Suécia. Estimulou de tal sorte o esposo na prática da virtude que o levou ao completo desprendimento do mundo e a abraçar a Regra dos Cistercienses, no Mosteiro de Alvastra, onde morreu em odor de santidade (1344). Brígida redobrou de fervor no santo estado de viuvez «aplicando-se a toda sorte de boas obras e perseverando dia e noite na oração e meditações» (Ep.). À semelhança de quem encontra um tesouro e vende tudo para adquiri-lo (Ev.), distribuiu os bens entre os filhos, e, desapegada de tudo, só buscava o reino do Céu. Penetrada do temor de Deus, infligia ao corpo as mais duras penitências (Intr.), e Jesus, cuja paixão imitava, recompensou-a, revelando-lhe os segredos celestes (Or.). Deu-lhe as constituições da Ordem por ela fundada, sob a regra de Santo Agostinho. Morreu em Roma em 1373.

Fonte: «Missal Quotidiano e Vesperal», 1940.

Saber perdoar e saber castigar


Um Rei deve ser clemente, e já dizia um Filósofo antigo (Séneca), que era tão indecoroso a um Rei o perdoar a todos como o castigar a todos; há porém muitos lances em que uma desmesurada clemência é um crime de que o Rei dos Reis lhe tomará uma estreitíssima conta.
Confundir os bons com os maus, é animar a impunidade, e com ela todos os crimes, poupar cegamente os criminosos é sacrificar os bons, é perturbá-los na fruição dos seus direitos, é pô-los em uma perpétua desconfiança de serem outra vez enxovalhados e perseguidos: o que é tão certo que nestes casos importa mais ao cidadão probo e leal, esconder-se, ou antes mudar de pátria, do que viver no meio de tigres que por ventura açaimados um só instante pelo irresistível poderio da opinião pública, já estudam e se afanam por desfazer com seus próprios dentes a mordaça que os refreia, e que apenas conseguirem tirá-la encherão tudo de estragos, de mortes, e de sangue...

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «O Punhal dos Corcundas», Nº 1, 1823.

Infante português feito primeiro Rei de Maiorca


O Infante Dom Pedro, filho de El-Rei Dom Sancho I, depois de varias peregrinações em Espanha e África, onde deu ilustres provas de generalidade e valor; casou com a Condessa de Urgel, Senhora de grandes Estados, a qual, morrendo sem sucessão, o deixou por seu universal herdeiro; Mas desejando El-Rei Dom Jaime de Aragão incorporar os mesmos Estados com o Principado de Catalunha, fez troca com o Infante Dom Pedro, dando-lhe, com Título de Rei, a Ilha de Maiorca, de que o Infante tomou posse neste dia [29 de Setembro], ano de 1231.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Genuflexão


Genuflexão faz-se com os dois joelhos; a) diante do Santíssimo Sacramento exposto; b) diante do sacrário aberto, estando dentro a Hóstia consagrada; c) diante do cofre que encerra a Hóstia consagrada para a Missa dos pré-santificados, Quinta e Sexta-feira santa. – Faz-se a genuflexão com um joelho: a) quando se passa diante do sacrário fechado, e diante do altar onde se está celebrando a Missa, desde a consagração até à comunhão, e quando está exposto, a não ser quando se chega ao altar da exposição ou quando se sai; b) quando se saúda uma relíquia do santo Lenho ou de outro instrumento da Paixão de Jesus Cristo, estando exposta à veneração dos fiéis no lugar principal do altar; c) quando se passa diante do altar durante os actos litúrgicos; (os Prelados, os Cónegos da Catedral, nos actos em que têm direito a revestir-se das insígnias canonicais, e o celebrante paramentado, saúdam a cruz com inclinação apenas); d) Sexta-feira santa, desde que a cruz é descoberta até Sábado de Aleluia depois de Noa; e) ao Bispo na sua diocese e ao Metropolita na sua Província eclesiástica, e ao Cardial. Na presença de um Cardeal só a ele e a nenhum outro Prelado se faz a genuflexão.

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945.

20 de Setembro de 1870


Esta data representa na história deste século um facto sacrílego e usurpador. Recordar 20 de Setembro de 1870 é lembrar a brecha da Porta Pia, a entrada dos piemonteses em Roma e o esbulho dos Estados do Soberano Pontífice. E é o vigésimo quinto aniversário deste sacrilégio, que o governo italiano quis solenizar este ano como festa nacional, quando o povo geme esmagado debaixo de pesados tributos que lhe cisam até a pele. Os católicos, porém, não esqueceram seu Pai comum, o Sumo Pontífice, e de todos os pontos do globo, onde há corações que oram, lhe foram dirigidas consoladoras mensagens.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», Nº 9, Setembro de 1895.

A Revolução e o Beato Pio IX


Em 1815 escrevia José de Maistre: «A Revolução Francesa é satânica, e a Contra-Revolução é inútil, se não for divina». E na verdade, a divisa da Revolução é a derradeira palavra de Satanás Non serviam! Para quem a seguisse até ao fim, sem parar a meio caminho, nos compromissos que a mesma lógica reprova, conheceria que a Revolução tinha absoluta negação do direito de mandar e do dever de obedecer. Nada mais de governo que falasse em nome das eternas leis da Justiça: a lei suprema era a vontade individual do homem: nada mais de Deus, pelo menos não se quer saber do Deus sindicador dos actos da humanidade: cada indivíduo é o seu próprio Deus.
Pio IX foi o pontífice providencial, o escolhido para opor a esse delírio do espírito moderno as imutáveis afirmativas do Cristianismo. Era ele que devia desmascarar o monstro, arrastando-o à plena luz, e fazendo ver aos povos assombrados o sinal da besta que tinha na fronte. Ora, tornar conhecida a besta era vencê-la; mas não decerto, sem que a luta findasse. Debaixo da sua máscara liberal, Satanás chegou quase a fascinar a humanidade, e a Igreja vê-se na necessidade de reconquistar o mundo como nos séculos pagãos.

Jacques-Melchior Villefranche in «Pio IX: sua vida, sua história e seu século», 1874.

O assassinato da Imperatriz Sissi da Áustria


A senhora D. Isabel Maria Eugénia, filha do Duque Maximiliano José da Baviera, casada com Francisco José, Imperador da Áustria, foi no dia 10 [de Setembro] assassinada, em Genebra, ao sair de um hotel.
O assassino, escusado era dizê-lo, é italiano, como italiano era o assassino de Carnot, Caserio, como italiano o assassino de Canovas, Angiolilo, como os assassinos quase diariamente linchados nos Estados Unidos, como os assassinos de Leon, do Pará, e pode-se dizer que de todo o mundo.
Era França assim no tempo do Império, como no da República, os maiores atentados tiveram sempre por autores os italianos. Italianos eram Fieschi, Orsini, Pieri, Pianori.
A Itália tem sido neste últimos tempos governada por homens saídos das lojas. A sua grande obra aí se vê. A Itália é hoje um grande depósito de matérias-primas para os grandes crimes. Nem isso admira, se a estátua do mestre dos assassinos, Mazzini, se ergue em quase todas as cidades da Península.
– A dor que sentiu o Imperador ao receber a fúnebre notícia, não se pode descrever. Entre todas as provações por que tem passado, é esta sem dúvida a que tem ferido mais vivamente o seu coração. Assim se mudaram em prantos as festas do 50º aniversário da sua coroação.
O Imperador depois de receber a triste notícia, assistiu a uma missa de requiem. Durante a missa ouviam-se veementes soluços.
Francisco José disse que não perdia a sua confiança em Deus, e que desejava confessar-se. Depois falou profundamente comovido da última carta que recebera da Imperatriz, em que ela dizia que estava boa, e que sentia o maior prazer de chegar em breve a Viena para assistir às festas da coroação do Imperador. Acrescentava: «o mundo não faz ideia de quanto nos amamos».

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 4º Ano, Nº 21, Setembro de 1898.

Coroação de El-Rei Dom Afonso V


No ano de 1438 foi aclamado e coroado Rei o Príncipe Dom Afonso, V do nome, entre os de Portugal, neste dia [10 de Setembro], que se seguiu ao da morte de El-Rei Dom Duarte, seu Pai. Fez-se a função em um majestoso Teatro, que se levantou defronte dos Paços do Convento de Tomar, aonde saiu o Príncipe (menino de seis anos) com vestiduras Reais, e sentado em trono eminente, lhe beijou a mão, posto de joelhos, e deu juramento de fidelidade e obediência, seu tio o Infante Dom Pedro, a quem seguiram os outros Infantes, e todos os Senhores que ali se achavam, enxugando todos, em grande parte, nas florescentes esperanças do novo Rei, as lágrimas que lhe causara a falta do defunto.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

É essencial ter os conceitos certos e bem definidos


Se atrasados ou adiantados em relação aos conceitos actuais, o tempo o dirá. O que ambicionamos é ser autênticos na nossa modéstia: nada se há-de prometer que não se cumpra; nada se há-de afirmar que não corresponda ao conceito exacto que formamos dos problemas. A nossa época está cheia de palavras sem sentido e infelizmente é com essas palavras que se pretende conduzir do nosso lado os negócios do mundo. Por isso somos batidos, tendo razão, e nos arriscamos a perder, estando a justiça por nós.

António de Oliveira Salazar em entrevista ao jornal «Corriere della Sera», 30 de Março de 1960.

É aclamado Rei o Cardeal Dom Henrique


No mesmo dia [28 de Agosto], no infeliz ano de 1578, foi Coroado em Lisboa o Cardeal Henrique, o primeiro que uniu uma e outra púrpura: Celebrou-se o acto na Igreja do Hospital, sítio próprio para um Rei e Reino, enfermos ambos, e quase moribundos; Todavia, não se faltou ao luzimento e pompa que costuma haver em semelhantes ocasiões: Ornou-se ricamente a Igreja, e foi a ela o novo Rei, em hábito de Cardeal, em uma mula, cuja rédea levava Dom Álvaro da Silva, Conde de Portalegre, Mordomo-mor, precedendo a Nobreza, que então se achava na Corte, todos a pé e descobertos, excepto o Duque de Bragança Dom João, que ia a cavalo com o Estoque desembainhado, como Condestável. Na Igreja se havia prevenido um teatro com uma cadeira, onde El-Rei se sentou, e dado e recebido o juramento, como é costume, lhe foi entregue o Ceptro, e com esta Real insígnia na mão, voltou para o Palácio, na mesma forma, e ordem, com que viera.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.