No mesmo dia [8 de Março], em Domingo, ano de 1500, partiu para a Índia o famoso Pedro Álvares Cabral, filho de Fernão Cabral; Adiantado da Província da Beira, senhor de Zurara, e Alcaide-mor de Belmonte; Levava uma Armada de treze velas, e foi a segunda, e Pedro Álvares o segundo Capitão-mor, que fez aquela nova e perigosa jornada; El-Rei Dom Manuel, em demonstração do seu alvoroço e empenho, por causa dos novos descobrimentos, foi no mesmo dia, com toda a Corte, a ouvir Missa na Ermida (que então era) de Belém; Houve Sermão, que pregou Dom Diogo Ortiz, Bispo de Ceuta, conforme e ajustado às circunstâncias ocorrentes; Todo este tempo teve El-Rei consigo dentro da cortina ao Cabral, por honra do grande cargo, que fiava dele. No fim da Missa se tirou do Altar uma bandeira da Cruz da Ordem de Cristo, e foi entregue ao mesmo Capitão-mor, que dali se foi embarcar, a tempo que cruzavam pelo Rio infinitas embarcações, e as praias se viam cobertas de gente, e esta rompia em diferentes afectos, já de tristeza, já de alegria, já de esperança, já de temor. Partiu, enfim, a Armada, cujo sucesso, em parte foi infeliz, em parte felicíssimo: Infeliz porque os mares lhe comeram quatro Naus da sua conserva, com tudo o que ia nelas: Felicíssimo, porque os mesmos mares a levaram ao descobrimento da nova Lusitânia; Como diremos nos dias a que uma e outra coisa pertence.
Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
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