O valeroso Sebastião de Souto


No mesmo dia [19 de Maio], ano de 1638, morreu na Baía o valeroso Sebastião de Souto, cujo nome era terror aos Holandeses; morreu de um mosquetaço pelos peitos, que recebeu no conflito do dia (ou noite) antecedente. Era natural de Quintiães, termo da Vila de Barcelos; deixou geral sentimento a perda de um tal homem, em quem até então contenderam sem vantagem o valor e a fortuna. Era incansável nas operações bélicas, repetia prontíssimo as entradas contra os inimigos, sempre com sucessos felizes. Com poder limitado e volante, os trazia, sem cessar, inquietos e temorosos. Foi excessivo o número dos que, a mãos do seu valor e indústria, perderam, ou a vida, ou a liberdade.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Portugal e anti-Portugal


No dia em que Portugal celebra o 65º aniversário da inauguração do monumento a Cristo Rei, construído em cumprimento de um voto solene, a República, através do seu órgão legislativo, festeja o "Orgulho LGBT". A contradição essencial entre as duas celebrações é evidente, tanto quanto é evidente a contradição essencial entre Portugal e a República, ou seja, entre um Reino Católico e a sua negação materializada. Portugal e anti-Portugal.

Antiguidade


Antiguidade – Equivale em Língua Democrática a tolice, inépcia, preocupação e estupidez. Tudo que é antigo, só pela razão de sê-lo, merece o desprezo Filosófico-Democrático, e com razão, pois, ou sou Alcaide, ou trago a Vara debalde. Quer dizer: que, ou eles estão, ou não, empenhados em regenerar o Mundo. E sendo uma verdade que o estão, é coisa corrente que tudo que é antigo deve ir (como dizia um louco que eu conheci) abaixo. Não obstante, como não há regra sem excepção, estão os Revolucionários convencidos, de que do antigo não fique mais que os Ladrões, os Roubos, os Punhais, as Rebeliões, as Devastações, Impiedades, e Blasfémias, as quais coisas todas, apesar de velhas e antigas, eles as veneram tanto, que só a ouvi-las se alienam de gozo e alegria, e não se fartão de celebrar os Silas, Dioclecianos, e Brutos, nem de erigir-lhes Estátuas. E na verdade, que estou maravilhado, como não hajam pensado em levantar Estátuas Democráticas a Heróstrato, que tem para com eles o mérito singular de ter incendiado um dos mais famosos Templos, deixando-lhes com isto um exemplo ilustre para os modernos devastadores dos Santuários.
Pelo que respeita a tudo mais, basta nomear diante dos Revolucionários as palavras antiguidade e antigo, para soltarem uma gargalhada de riso e começarem a franzir a testa e a fazer gestos de desprezo. Sem embargo, o ser uma coisa antiga, ou moderna, não depende senão do tempo: e, ou queira, ou não queira a Democracia, ela, e todas as suas belas feituras algum dia hão-de ser antigas. E se os Séculos passados são o objecto dos sarcasmos, e molejo do nosso, querer-se-me-á dizer que este o não será em os futuros?! Se a Religião, a razão, a experiência, o bom juízo, a gravidade, o valor, e a virtude dos Séculos passados estão fazendo entre nós uma tão ridícula e desprezível figura, só porque tem a nota de antiguidade; que papel lhes parece a VV. Mercês farão nos vindouros as impiedades, os horrores, e os disparates do nosso?! Atrever-se-á alguém a duvidar se quer, que a iniquidade e o estonteamento são as belas qualidades que formam o seu carácter?! Se tocasse somente aos Democráticos fazer na posteridade uma tão brilhante e airosa figura, ainda menos mau; pois havendo eles renunciado ao pudor e bom nome da idade presente e da futura, não anelam outra coisa, que a fama dos Heróstratos, Catilinas, Neros, e Calígulas! Mas que juízo se fará ainda de nós mesmos, quando a posteridade ler que quase toda a Europa emudeceu na presença d'alguns vis sans-culottes, vadios, ímpios, ladrões, e facinorosos?! Que dirá, quando ler, que nós imitámos o exemplo daqueles Povos bárbaros que louvam os demónios e lhes tributam sacrifícios, para os ter propícios e favoráveis, a fim de não lhes fazerem muito mal?! Que dirá, ao ver que com os sacrifícios mais humilhantes temos comprado aos Ladrões as tréguas mais vis?! Que dirá, ao considerar que nossa degradação e abatimento chegou ao ponto de pagar com os mais lisonjeiros encómios as invectivas e insultos, que nos fazia um povoléu infame e atrevido?! Que dirá, ao reflexionar que os Povos compravam a preço de todos os seus bens sua própria escravidão?! Que dirá, finalmente, ao ver-nos tão estúpidos, que julgávamos aplacar um orgulho sem limites com baixezas e sofrimentos?! Dirá, que não arriscámos a resistência, por não perecermos, e que perecemos por estarmos quietos; que quisemos antes perecer por vileza, que por coragem, generosidade, e valor; que não houve sacrifício, que não fizéssemos para obter um ano de existência precária, e que por não perecer neste ano, nos privámos de bom grado de todos os meios, que podiam manter a nossa segurança; que corríamos às carreiras e a quem podia chegar primeiro, para fazer Pactos, Tratados, Convenções, e Pazes com traidores, ladrões e assassinos, que à face do Universo professavam não ter fé, e que seu despotismo foi tal, que não só dispuseram a seu arbítrio dos bens, vidas, e Religião, mas até dos pensamentos, e consciências, considerando todos os homens como uma manada de vis e estúpidos escravos. Estas antiguidades, sim, serão as dignas de riso e de dor.
E sem a invicta coragem e heróica firmeza de Francisco II, sem a generosa assistência, nobre ânimo, e firme, e eficaz resolução de Paulo I, e sem a constante e incansável conduta da Nação Britânica (*), que horrível e asquerosa mancha não ficaria impressa em a nossa memória?! É por eles que a Itália respira e se prepara já a dar mostras de seu valor, de sua religiosidade e de suas máximas; e fazer que se lhe devolvam a consideração, e respeito, que de justiça sempre lhe foram devidos. E poderá tardar o resto da Europa em lavar-se da mancha, que ameaça denegrir, e obscurecer sua ilustre, e bem fundada reputação?!
O mesmo dizemos nós agora. Tardará por ventura a Europa em se declarar contra a Revolução de Julho, e em cortar pela raiz o gérmen da discórdia, que existe ocupando hoje o Trono dos Bourbons?! Poderão demorar-se os Soberanos em lavar a mancha, que caiu sobre a Legitimidade?! Onde estão os Tratados de 1815?! Poderão ficar mudos tantos Oráculos da Santa Aliança?! Se esta Liga de Soberanos não serve para levantar um de seus Irmãos, quando cai vítima de seus inimigos domésticos, então para que servirá?! Pois servirão estes Tratados para restabelecer o Rei de Nápoles contra a Facção, que lhe usurpara o Trono; servirão para mandar um Exército à Espanha para colocar no uso de seus Direitos Fernando VII, e então não servirão estes Tratados para colocar no Trono Carlos X, a quem uma Revolução violenta esbulhou dos seus Direitos?! Não servirão para restituir ao Rei da Holanda aqueles Domínios, que os mesmos Tratados lhe asseguraram?! Ah! talvez os Liberais, esperançados nos seus Protocolos de Londres, se persuadam que o estado actual da Europa há-de durar muito; mas como se enganam! 640 mil homens, que se armaram nas três grandes Potências do Norte, além de suas torças ordinárias, não podem, nem desarmar-se sem pelejarem, nem pelejar sem vencer! A França acha-se em perfeita divisão e completa anarquia! O Ministério de Luís Filipe está colocado entre dois inimigos, qual deles mais poderoso: de um lado tem os Republicanos, que não deixam jamais de conspirar contra todo e qualquer Governo, que não seja o seu; de outro lado tem os Carlistas, que por ora estão quietos, mas que apenas haja quem lhe dê a mão, logo aparecem em campo; e como poderá sustentar-se um Governo desta natureza, quando vir marchar contra si os Russos, Prussos, e Austríacos?! Talvez então peça auxílio à sua recém-amiga a Inglaterra, mas ela com a sua costumada Política talvez lhe diga: «Enquanto estavas forte, e me podias fazer frente, fui tua amiga por necessidade, e por não arriscar contigo uma luta, de que não tinha certeza de sair bem; mas agora que já estás fraca, e quase perdida; agora que a Europa se acha toda conspirada contra ti; agora ajudarei a precipitar-te no abismo que preparaste; cá tenho o teu Rei, a quem hei-de proteger; cá tenho um Duque de Wellington, um Peel, e um Aberdeen para pôr no Ministério, e está tudo feito». Não será necessário viver muito para ver resolvido este grande Problema Europeu; mas fiquem todos sabendo, que não é com os Protocolos, que ele se há-de resolver; já lá vão 55 a respeito da Bélgica, e por ora está a coisa no mesmo estado! A Espada do Vencedor d'Erevan e do Príncipe de Varsóvia é que há-de cortar este nó górdio.

(*) Julgamos da justiça deste Escritor, que se assim como formou sua Obra no ano de 1799, a escrevesse em o de 1813, não passaria em silêncio o heróico Povo Espanhol, nem tão pouco os nobres e valorosos Portugueses.

D. Frei Fortunato de São Boaventura in «Novo Vocabulário Filosófico-Democrático, indispensável para todos os que desejem entender a nova língua revolucionária», Nº 10, 1832.

O significado de "Colónia" e "Colono"


Colónia. Gente que se manda para alguma terra novamente descoberta, ou conquistada, para a povoar. A mesma terra assim povoada também se chama Colónia. Colonia, ae. Fem. Cic.
Os que são mandados para fazer uma Colónia, ou os moradores da Colónia. Coloniorum. Masc. Plur. Cic.
Fundar ou estabelecer colónias. Colonias constituere, ou collocare. Cic.
Levar uma colónia. Coloniam, ou Colonos deducere. Cic.
Coisa concernente a Colónia. Colonicus, a, um. Sueton. Foi povoada de antiga e nobre gente, que chegou com o domínio e Colónias à mesma Itália. Vida do Princ. Teod., pág. 6.
Colónia. Cidade de Alemanha sobre o Reno, cujo Arcebispo é Príncipe e Eleitor do Império. É uma das quatro cabeças das Cidades Hanseáticas; chamam-lhe a Roma de Alemanha e lhe dão o título de Santa, porque tem no seu recinto 365 igrejas, e nelas as relíquias de muitos corpos de Santos, e entre as cidades livres é a única que não está infecta de Heresia. Na Igreja Matriz de S. Pedro se vêm, entre muitos Mausoléus magníficos, as sepulturas dos três Reis que adoraram ao Divino Infante no presépio, os quais (segundo a tradição) foram trazidos de Constantinopla a Milão, e de Milão a Colónia. É cercada de grandes muros e guarnecidos de 83 torres, banhados de um triplicado toso, tem belas praças, fermosas ruas e sumptuosos edifícios, com a glória de ser pátria de S. Bruno, fundador dos Cartuxos. Colonia Agrippinensis, ou Colonia Agrippinae. Tomou este nome, ou porque no reinado de Augusto esteve debaixo da protecção de Agripa, ou porque Agripina, neta do dito Agripa e mãe de Nero, nascera em Colónia e acrescentara o seu circuito.
De Colónia. Coloniensis, is. Masc. et Fem. se, is. Neut.
Colono. Um dos fundadores de uma Colónia. Colonus, i. Masc. Cic. Distrito capaz para os novos Colonos. Mon. Lusit. tom. 5, pág. 100, col. 2.
Colono. Agricultor. Colonus, i. Masc. Cic. E no-lo tirará o mesmo Senhor, que no-lo deu como a maus Colonos. Vieira. tom. 4, pág. 548.

Pe. D. Rafael Bluteau in «Vocabulário Português e Latino», Tomo II, 1712.

Jura-se em Coimbra o Mistério da Conceição


No mesmo dia [8 de Maio], ano de 1639, foi jurado o Mistério da Conceição da Virgem Maria N. Senhora, pelo Sínodo celebrado na Cidade de Coimbra, sendo Bispo Dom João Mendes de Távora.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Portugal não é devedor a povos "colonizados"


Portugal é um Reino Católico por definição e essência, fundado por Deus em Ourique. A República não é Portugal, nem representa Portugal, é ilegítima e usurpadora. Daí que não são vinculativas, nem válidas, as declarações proferidas pelo Presidente dos Republicanos em Portugal acerca das "reparações históricas". São afirmações abusivas e vãs de legitimidade.

Contudo, aproveitando-se das criminosas declarações do Presidente dos Republicanos, o (des)governo da ilegítima República Democrática de São Tomé e Príncipe vem exigir compensações pelo chamado "colonialismo". Uma exigência tão infundada quanto injusta, não só porque não há nenhum mal para compensar, como a ilegítima República Democrática de São Tomé e Príncipe, que se diz independente há 50 anos, recebe inúmeras ajudas monetárias provindas dos excessivos impostos cobrados pelos (des)governos republicanos em Portugal:


Por outro lado, quando navegadores portugueses a serviço d'El-Rei Dom Afonso V descobriram o arquipélago de São Tomé e Príncipe, em 1470, este estava desabitado. Só em 1493 é que se iniciou o povoamento das ilhas, para onde afluíram alguns portugueses, mas sobretudo negros provenientes do continente africano; sucedendo-se várias vagas de colonização africana ao longo dos séculos. Os actuais habitantes de São Tomé e Príncipe são os descendentes desses colonizadores africanos que vieram a povoar ilhas desabitadas. Ora, se a ilegítima República Democrática de São Tomé e Príncipe pretende que se "repare a colonização", então, em coerência, deveria proceder à desocupação populacional das ilhas, regressando os seus habitantes ao continente africano, dando conclusão à "descolonização exemplar" iniciada em 1974/1975.


Na verdade, as ilhas de São Tomé e Príncipe são por legítimo direito, reconhecido em bulas papais, um domínio da Coroa Portuguesa. E mesmo que os republicanos tenham usurpado esses domínios reais, eles não têm qualquer direito para desapossar um bem que não lhes pertence. A chamada "independência" de São Tomé e Príncipe foi um crime de lesa-pátria e lesa-majestade, cuja pena tradicionalmente aplicada seria a morte.

Mas quando Portugal foi traído e espoliado dos seus territórios ultramarinos, a ilegítima República Democrática de São Tomé e Príncipe herdou um arquipélago fertilíssimo e de águas abundantes, que chegou a ser o maior produtor mundial de cacau e cana-de-açúcar, assim como toda uma estrutura moral e civilizacional, onde as escolas, as igrejas, as estradas e os hospitais são disso expressão material. E não há ouro no mundo que pague a obra civilizadora, a Fé e os bons costumes legados.

Adágios portugueses sobre o mês de Maio


A quem em Maio come sardinha, em Agosto lhe pica a espinha.
Câmaras de Maio, saúde de todo o ano.
Em Maio vai e torna com recado.
Enxame de Maio, quem to pedir dá-lho, e de Abril, guarda-o para ti.
Em Maio a quem não tem, basta-lhe o saio.
Guarda pão para Maio e lenha para Abril.
Uma água de Maio e três de Abril, valem por mil.
Sono de Abril deixa-o a teu filho dormir, e o de Maio a teu cunhado.
Maio couveiro não é vinhateiro.
Maio come o trigo e Agosto bebe o vinho.
Maio hortelão, muita palha, pouco pão.
Maio pardo, Junho claro.
Maio pardo faz o pão grado.
Pão tremês, não o comas nem o dês, mas guarda-o para Maio.
Primeiro de Maio, corre o lobo e o veado.
Quanto Maio acha nado, tudo deixa espigado.
Quem em Maio relia, não tem pão nem erva.
Quem em Maio não merenda, aos mortos se encomenda, ou aos finados se encomenda.
Touro, galo e barbo, todos têm sazão em Maio.

Fonte: «Vocabulário Português e Latino», Tomo V, 1716.

O roubo dos arquivos da PIDE e o seu envio para a URSS


Um dos episódios mais estranhos nas operações europeias do KGB, durante o meu mandato, ocorreu em meados da década de 1970, em Portugal, não muito depois da queda da ditadura salazarista. O Partido Comunista Português era o terceiro maior na Europa (a seguir aos de Itália e de França), e, em meados da década de 1970, o socialismo e o comunismo gozavam de amplo apoio em Portugal. Na verdade, nós tínhamos agentes infiltrados no serviço português de inteligência, e, no caos que se seguiu à revolução socialista que derrubou o salazarismo, os nossos agentes deram um golpe ousado. Uma noite, com a ajuda de infiltrados e simpatizantes dentro do aparelho de segurança, portugueses ao serviço do KGB conduziram um camião até à sede da PIDE e roubaram uma montanha de dados de informação confidencial, incluindo as listas de agentes da polícia secreta que trabalhavam para o regime salazarista. O camião, cheio de documentos, foi entregue na nossa embaixada em Lisboa e depois enviado de avião para Moscovo, onde os analistas passaram meses debruçados sobre os papéis. Portugal era membro da NATO e havia algum material de interesse limitado sobre as operações militares americanas na Europa. Mas o material realmente valioso foi a lista dos milhares de agentes e informadores que trabalharam para a ditadura salazarista. Mais tarde, os nossos oficiais usaram essas informações para coagir alguns desses agentes a trabalhar para o KGB. Na história dos golpes de espionagem da Guerra Fria, a operação portuguesa não foi uma conquista notável. Mas a audácia de fugir com um camião carregado de material directamente da sede da PIDE, não tinha exemplo. No início da década de 1990, viajei para Portugal, onde as autoridades portuguesas me trataram da forma mais cordial, levando-me a todo o país, entretendo-me abundantemente, incentivando-me a falar com diferentes grupos de pessoas. Fui entrevistado pelos principais meios de comunicação nacionais e não poupei nas palavras sobre o papel do Partido Comunista Português no apoio generoso às operações de espionagem soviética. Fui imediatamente denunciado por Álvaro Cunhal, líder do Partido, como mentiroso e traidor. Falando no dia seguinte em rede nacional, não respondi às acusações de Cunhal. Repeti o que já tinha dito várias vezes: "O Partido Comunista Português é o nosso melhor e mais leal aliado na Europa, e como cidadão e membro do Partido Comunista da ex-URSS, só lhes posso estar grato."

Oleg Kalugin in «Spymaster», 1994.

A emigração portuguesa em 1898


Damos começo a esta crónica relatando o que está sucedendo a muitos irmãos nossos, que tendo-se deixado levar de promessas falazes emigraram para o Brasil nos meses passados. E fazemo-lo propositadamente para que os nossos leitores vejam o que lá se passa, e não venham a ser também do número dos iludidos.
Muitos portugueses do Continente e Açores, que esperavam enriquecer nas províncias brasileiras, não têm trabalho, nem encontram colocação, e por isso ocupam-se a cavar o cacau e o café, debaixo d'um sol ardentíssimo, e isto pelo módico salário de 400 reis diários.
Outros exercem os mais vis misteres, e são tratados como a gente mais desprezível.
Um grande número anda mendigando os meios de regressar à pátria.
Por outra parte os factos comprovam que a emigração para as nossas possessões africanas é a felicidade de um sem número de famílias.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 4º Ano, Nº 14, Fevereiro de 1898.

Os dez mandamentos da higiene


1. Higiene geral – Levantar cedo, deitar cedo, ocupar o dia.
2. Higiene respiratória – A água e o pão sustentam a vida, mas o ar puro e o sol são indispensáveis à saúde.
3. Higiene digestiva – A frugalidade e a sobriedade são o melhor licor para a longa vida.
4. Higiene da pele – A limpeza preserva da ferrugem; as máquinas mais limpas duram mais tempo.
5. Higiene do sono – Um repouso suficiente repara e fortifica: um repouso longo amolece e enfraquece.
6. Higiene das vestes – Vestir-se bem e conservar o corpo, com liberdade de movimentos e calor necessário, preservando-o de toda a mudança repentina de temperatura.
7. Higiene da habitação – A casa limpa e alegre torna amável o lar doméstico.
8. Higiene moral – O espírito descansa e se adelgaça nas distracções; mas o abuso o arrasta para as paixões e estas aos vícios.
9. Higiene intelectual – A alegria faz amar a vida, e o amor da vida é o alvo da saúde. Ao contrário, a tristeza e o desânimo antecipam a velhice.
10. Higiene profissional – Se nutres o cérebro, não deixes paralisar teus braços e tuas pernas. Se ganhas a vida com a enxada, não te esqueças de ornar e embelezar a tua inteligência.

Fonte: «Voz de S. António: Revista Mensal Ilustrada», 9º Ano, Nº 16, Abril de 1904.

Da fantasia do "Povo Soberano"


Nós apreendemos pelo raciocínio e vimos pela experiência, que não é possível erguer sobre este conceito – a liberdade – um sistema político que efectivamente garanta as legítimas liberdades individuais e colectivas, antes em seu nome se puderam defender – e com alguma lógica, Senhores! – todas as opressões e todos os despotismos. Nós temos visto que a adulação das massas pela criação do «povo soberano», não deu ao povo, como agregado nacional, nem influência na marcha dos negócios públicos, nem aquilo de que o povo mais precisa – soberano ou não –, que é ser bem governado. Nós temos visto que tanto se apregoaram as belezas da igualdade e as vantagens da democracia, e tanto se desceu, exaltando-as, que se ia operando o nivelamento em baixo, contra o facto das desigualdades naturais, contra a legítima e necessária hierarquia dos valores numa sociedade bem ordenada.

António de Oliveira Salazar in discurso «Princípios Fundamentais da Revolução Política», 30 de Julho de 1930.

Dom Gualdim Pais


Dom Gualdim Pais, famoso Cavaleiro do tempo dos primeiros Reis de Portugal, nasceu em Braga, de nobre geração. Passou a militar na Síria, e foi um dos primeiros fundadores da famosa Ordem do Templo, juntamente com Arnoldo da Rocha, também Português, igualmente ilustre e valeroso. Naquela guerra fez Dom Gualdim assinalados serviços em obséquio da Fé contra os infiéis: Particularmente ostentou o seu valor na conquita das Cidades de Ascalão e Antioquia; Achou-se em muitas batalhas campais e sempre com glorioso nome. Voltou cheio de fama a Portugal, onde foi o primeiro Mestre daquela Ordem, e a fundou e enriqueceu neste Reino. Fundou os Castelos de Tomar, Pombal, Almourol, Idanha, Monsanto, e outras nobres Povoações. Morreu neste dia [17 de Abril] ano de 1195.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

Das qualidades dos Cavaleiros da Ordem de Cristo


Pela excelência desta Ordem ser de Jesus Cristo, nosso Senhor, e pela insígnia da Cruz que tem, que entre todas as das Ordens Militares, mais se assemelha e parece à em que Ele padeceu, merece ser muito venerada e respeitada: pelo que os que a ela forem recebidos, devem ser Nobres, Fidalgos, Cavaleiros, ou Escudeiros, limpos sem mácula alguma em seus nascimentos, nem outros impedimentos e defeitos que se apontam abaixo nos interrogatórios, porque se há-de perguntar, quando se habilitarem: e os Papas Pio V e Gregório XIII no ano de 1572 proibiram que nenhuma pessoa que descendesse de Mouro ou Judeu, ou fosse filho de mecânico* ou mecânica, nem neto de avô e avó mecânicos, possam ser recebidos ao hábito desta Ordem; o que ordenamos e definimos que assim se cumpra e guarde inviolavelmente, sem dispensação, nem remissão alguma, por ser tão necessário à autoridade e reputação da Ordem, e conforme ao que el-Rei D. Filipe II, de boa memória, Governador e perpétuo Administrador desta Ordem, com estas considerações resolveu e mandou por sua carta assinada de sua Real mão de 28 de Fevereiro de 1604, de que a cópia é a seguinte...

Fonte: «Definições e Estatutos dos Cavaleiros e Freires da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo», 1717.

*É chamado de mecânico a todo o género de ofícios manuais ou servis, como carpinteiros, pedreiros, alfaiates, sapateiros, etc.

Família


Família. Foi fundada por Deus quando deu Eva por companheira a Adão, abençoando-os e dizendo-lhes que se multiplicassem. Sempre que uma mulher aceita unir-se a um homem, com a bênção de Deus dada à face da Igreja, com o fim de terem filhos [Matrimónio], fica constituída legitimamente uma família cristã.
Os membros de uma família, que formam o lar doméstico, devem propor-se os seguintes fins: a) o bem-estar, pelo trabalho de todos; b) a paz, suportando-se mutuamente; c) a alegria, dedicando-se ainda que com incómodo próprio; d) a vida virtuosa, sendo fiéis à lei de Deus e à lei da Igreja; e) o auxílio mútuo, sobretudo nas dificuldades e nas doenças.

Pe. José Lourenço in «Dicionário da Doutrina Católica», 1945.

Os Nominais


Nominais. É o nome de uns Filósofos, que, seguindo a opinião de Guilherme de Occam, Religioso de S. Francisco, de nação Inglês, e discípulo de Escoto, querem provar que não há ciência das coisas [= entes, seres] em geral, mas só dos nomes comuns das ditas coisas; por isso lhes chamam Nominais. Pretendem que o que os Lógicos chamam Universais, sejam meros conceitos dos homens, sem que realmente exista no mundo natureza [= essência] alguma comum a muitos; por esta razão se diz deles que são escassos de coisas e pródigos de palavras. Santo Anselmo da Cantuária [Doutor da Igreja] lhes chama Hereges da Dialéctica.

Pe. D. Rafael Bluteau in «Vocabulário Português e Latino», Tomo V, 1716.

Adágios portugueses sobre o mês de Abril


Abril águas mil, coadas por um mandil.
Abril frio, pão e vinho.
Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.
A ti chova todo o ano, e a mim chova Abril e Maio.
Altas ou baixas, em Abril vêm as Páscoas.
Do grão te sei contar, que em Abril não há-de estar nascido, nem por semear.
Em Abril queijos mil, e em Maio três ou quatro.
Em Abril vai onde hás-de ir e torna ao teu covil.
Frio de Abril, nas pedras vai ferir.
No princípio ou no fim, Abril soe ser ruim.
Por todo Abril, mau é descobrir.
Sono de Abril, deixa-o a teu filho dormir.
Fica-te embora mundo, deixar-me-ás Abril e Maio.
Uma água de Maio, e três de Abril, valem por mil.
Por Abril dorme o moço ruim, e por Maio o moço e o amo.
Entre Abril e Maio, moenda para todo o ano.
Quem me vir e me ouvir, guarde pão para Maio e lenha para Abril.
A rês perdida, em Abril cobra a vida.
As manhãs de Abril são doces de dormir.

Fonte: «Vocabulário Português e Latino», Tomo I, 1712.